Memória Litúrgica: 30 de Junho
O
Beato Januário Maria Sarnelli (1702-1744), missionário redentorista e
amigo de Santo Afonso, pode ser considerado um “sinal de esperança” para
os excluídos, os sem esperanças de seu tempo. De modo especial, exerceu
este ministério através de seu trabalho em defesa das mulheres
marginalizadas, na atenção às crianças abandonadas e sem instrução e na
evangelização dos pobres operários. Sarnelli soube inventar novas formas
de viver o carisma e a missão redentorista, continuando o Redentor em
meio aos abandonados de seu tempo. Sarnelli soube também usar novos
meios para a evangelização, valendo-se principalmente do apostolado da
imprensa, da instrução aos leigos e da missão popular. Em sua
beatificação, o Papa João Paulo II, assim se expressou: “Januário Maria
Sarnelli pode ser proposto à comunidade cristã de hoje, no limiar do
novo milênio, como exemplo de apóstolo aberto a aceitar toda inovação
útil para o anúncio missionário da perene mensagem de salvação”.
O
zelo apostólico de Sarnelli não o permitia descansar. Sempre estava
envolvido com várias atividades, pregando, atendendo confissões ou
escrevendo. Muitas vezes sem ao menos ter tempo para comer ou dormir.
Embora sua saúde fosse sempre frágil, continuou sua obra apostólica e
espiritual e dizia para aqueles que lhe aconselhavam repouso: “se fosse
trabalhar somente quando estou bem de saúde, pouco ou nada teria feito
até agora, ou nada faria daqui para adiante. Como é maravilhoso
sacrificar a vida por Deus”. Januário Sarnelli não media esforços para
ajudar os abandonados, para dar-lhes de comer privava-se até do próprio
alimento, pedia esmolas, mesmo sendo de família nobre. Deixava tudo o
que estava fazendo para atender a quem mais precisasse.
A
grande preocupação de Sarnelli era a de “ajudar o ser humano a
recuperar e a viver o sentido pleno profundo da própria dignidade
humana”. Por isso, toda obra de Sarnelli está centrada em torno do
grande amor de Deus por nós, revelado na Trindade, que transforma nossas
mazelas humanas e restaura nossa dignidade de filhos, como bem expressa
em seus escritos: “a razão humana desenha o próximo como ele é em sua
natureza. A razão da fé o pinta como ele é em Deus”.
A
principal obra pastoral de Sarnelli se dá em torno da defesa das
meninas em perigo de prostituição e das mulheres marginalizadas, pois se
calculava em torno de 30 a 40 mil prostitutas em Nápoles (10% da
população). Escreve denunciando esta triste realidade e pressiona as
autoridades civis e eclesiásticas para tomarem atitudes concretas e
eficientes para sanar esta situação. Defendia a formação e instrução do
povo para melhorar a sociedade. Por trabalhar com as prostitutas,
Januário Sarnelli correu muitos perigos, arriscou varias vezes sua
própria vida, sendo ameaçados por aqueles que se aproveitavam da
exploração das mulheres. Apesar disso, dizia que para este tipo de
apostolado e para a maior glória de Deus daria até a própria vida.
“A
esperança não decepciona” (Rom 5, 5), esta palavra foi plenamente
realizada na vida e na obra do Beato Januário Maria Sarnelli. Mesmo que
tenha vivido pouco tempo, pois morreu aos 42 anos de idade, atingiu em
sua vida a plenitude de uma vida longa, ungida por uma esperança
inquebrantável, que o tornou capaz de ser sinal desta mesma esperança
para os últimos de seu tempo. Diante do testemunho desse grande homem de
fé e esperança, é preciso nos questionar sobre nosso modo de ser
redentorista, se realmente estamos indo em direção aos “sem esperança”,
aos abandonados, levando-os a uma verdadeira experiência de Redenção,
razão de ser de nossa vida e missão.
Rodrigo Costa
Noviço da Província do Rio