IV
AS VOCAÇÕES À VIDA RELIGIOSA DEVEM SER SUSCITADAS E AMPARADAS
65. Nestes tempos difíceis que a Igreja atravessa, é grande consolação para o nosso ânimo de pastor supremo, veneráveis irmãos, ver que a virgindade floresce no mundo inteiro hoje como outrora, rodeada de estima e honra, apesar dos erros que esperamos hão de passar em breve. A diminuição das vocações
66. Não ocultamos, contudo, que à nossa alegria se mistura certa tristeza ao ver que vai diminuindo em vários países o número dos que, chamados por Deus, abraçam a vida de virgindade. Já acima dissemos o bastante sobre as causas desse fato e não precisamos mais repetir. Os educadores da juventude, que tenham caído nos erros aludidos, esperamos que os repudiarão, logo que os reconheçam, e que os procurarão remediar. Por outro lado, contamos que eles ajudem, quanto puderem, os jovens, que se sintam chamados por Deus ao sacerdócio ou à vida religiosa, a fim de atingirem esse elevado objetivo. Praza a Deus que surja quanto antes, para cultivar a vinha do Senhor, nova plêiade de sacerdotes, de religiosos e religiosas, suficientes em número e virtude para as atuais necessidades da Igreja.
67. Além disso, como pede a consciência do nosso dever apostólico, exortamos os pais a oferecerem de boa vontade a Deus os próprios filhos, que forem chamados ao seu serviço. Se lhes exigir sacrifícios, lhes causar tristeza e amargura, meditem nessas reflexões de santo Ambrósio propostas às mães de família de Milão: "Conheço muitas donzelas que desejam consagrar-se a Deus na virgindade, mas as suas mães nem as deixam sair de casa para me ouvirem... Se as vossas filhas quisessem amar um homem, pelas leis poderiam escolher quem lhes aprouvesse. E aquelas que podem escolher um homem, não poderão escolher a Deus"?
68. Considerem os pais que honra tão grande é ter um filho sacerdote ou uma filha consagrada na virgindade ao divino Esposo. A respeito dessas, assim se exprimia o mesmo bispo de Milão: "Ouvistes, pais?... A virgem é um dom de Deus, uma oferta do pai e o sacerdócio da castidade. A virgem é a hóstia oferecida pela mãe, hóstia que se sacrifica diariamente e aplaca a ira divina...".
CONCLUSÃO
Os que sofrem perseguição
69. Não queremos terminar esta carta, veneráveis irmãos, sem volver nosso pensamento e nosso coração, de modo especial, para as almas consagradas a Deus, que sofrem dura e funesta perseguição em vários países. Tomem elas exemplo nas virgens da primitiva Igreja, que sofreram martírio pela castidade com ânimo invencível.
70. Todos os que fizeram o sagrado propósito de servir a Cristo, perseverem nele com ânimo valoroso "até a morte" (Fl 2,8). Lembrem-se de que as suas angústias, sofrimentos e orações são de grande valor para o estabelecimento de reino de Deus nos seus próprios países e em todo o âmbito da Igreja. Tenham também como certo que os que "seguem o Cordeiro para onde quer que ele vá" (Ap 14,4), cantarão por toda a eternidade "um cântico novo" (Ap 14,3), que ninguém mais pode cantar.
71. Comove-se o nosso coração paterno e compassivo diante dos sacerdotes, religiosos ou religiosas que valorosamente confessam a fé até ao martírio. Por esses e por todos os que, em qualquer parte da terra, se consagraram totalmente ao serviço divino, elevamos súplicas a Deus, pedindo-lhe que os confirme, robusteça e console; e a cada um de vós, veneráveis irmãos, e aos vossos rebanhos, exortamos ardentemente a que, rezando conosco, obtenhais para todos eles o necessário conforto, graças e auxílios divinos.
72. Seja penhor dessas graças e testemunho especial da nossa benevolência a bênção apostólica, que de todo o coração vos concedemos no Senhor, a vós, veneráveis irmãos, e aos outros ministros sagrados, às almas que a Deus consagraram a sua virgindade, principalmente àquelas "que sofrem perseguição por amor da justiça" (Mt 5,10), e a todos os fiéis dos vossos rebanhos.
Dado em Roma, junto de São Pedro, no dia 25 de março, festa da Anunciação de nossa Senhora, no ano de 1954, XVI do nosso pontificado.
PIO PP. XII
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