PADRE HÉLIO DE PESSATO LIBÁRDI CSsR
O pecado ofende a Deus: uma idéia boa ou prejudicial?
É lembrando uma música do tempo de criança que percebo como uma catequese pode ser prejudicial. A música dizia: “Vamos todos ao Sacrário, que Jesus chorando está. Mas ao ver tantas crianças, bem contente ficará”.
Na cabeça de criança o Sacrário virava uma prisão, onde Jesus permanecia chorando até que nós chegássemos. E o que dizer dessa teologia que ensina que o pecado ofende a Deus?
Deus é feliz em si mesmo, ninguém o toca, ninguém o entristece. São João nos diz no Evangelho que ninguém viu Deus a não ser aquele a quem Deus quis se revelar, que é seu Filho Jesus. E vai ser por Cristo, com Cristo e em Cristo que chegaremos ao Pai.
Quando se fala de pecado precisa-se repassar a teologia exata: o pecado nos destrói, destrói o plano de Deus para nós e para o mundo, cria uma atmosfera de pecado cujas conseqüências todos sofrem. Todo o pecado sai da pessoa e se projeta nas estruturas da sociedade resultando o grande pecado social.
O pecado traz em seu interior o conteúdo de destruição. Quem sofre somos nós ao sentirmos a dificuldade de viver nesse clima de desigualdade, de violência, de destruição, de desrespeito. É a pessoa humana usando as capacidades que Deus lhe deu para fazer o mal. Ela se apossa do mundo e decide segundo sua própria vontade criando assim tantos sofrimentos, tanta exclusão, direcionando a vida para outro lado. A pessoa acaba destruindo-se e destruindo os outros e o mundo em que vive.
Nenhum século fez tanta arma de destruição como o nosso, chamado de “século das luzes” por causa das grandes descobertas, infelizmente usadas para o mal. Hoje o próprio homem, com seu egoísmo e individualismo, está criando a pior qualidade de vida. Olhem um pouco a corrida na economia que cria a grande área de exclusão, o grande volume de países pobres e excluídos concentrando-se a renda nas mãos de alguns somente. O que podemos falar da escalada da violência?
Não será esse antigo modo de falar do pecado que está gerando hoje a revolta contra Deus pelos insucessos, falhas, acidentes e situações verdadeiramente desesperadoras?
Ao verificar a realidade produzida por nós, temos de mudar nosso modo de perceber o pecado: é uma ofensa a todos nós, é uma desgraça para todos. Olhem o farisaísmo de muita gente achando um escândalo a falta de alguns centímetros nas saias das meninas, enquanto a realidade aí fora é tão cruel com tantos filhos de Deus. Olhem bem a condenação de Jesus feita aos fariseus caindo em sua mesa de cada dia, onde há fartura e abundância daquilo que não lhes faz falta, mas que falta aos outros porque não está bem repartido. É fácil ler uma lista de pecado, mas é difícil admitir que o pecado esteja tão dentro de nós.
Do livro:
RELIGIÃO TAMBÉM SE APRENDE - VOLUME 3
EDITORA SANTUÁRIO
Pe. Hélio Libardi, C.Ss.R.
http://www.redemptor.com.br
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