PADRE HÉLIO DE PESSATO LIBÁRDI CSsR
Podemos chorar os mortos?
Em cada pessoa que morre, nós morremos um pouco. É como se algo fosse destruído em nós. E quando se trata de parente a aceitação se torna penosa e difícil diante da sensação de perda, de separação para sempre.
A necessidade de estar perto, de manter contato, de não se separar, levou sempre as pessoas a cultuarem seus mortos sob as mais diversas formas, até mesmo formas provocadas pelo receio de que os espíritos dos mortos fossem capazes de fazer o mal. À medida que a humanidade vai-se inculturando e aculturando, modifica-se esse culto, mas permanece sempre o mistério da dor, a necessidade de comunhão com eles, o respeito pelos que nos precederam.
Nenhuma literatura vai modificar esses sentimentos. Na fé buscamos algo que nos console, que nos dê outra visão dessa realidade. E a fé nos ensina que assim como Deus ressuscitou Jesus ressuscitará também nosso ser querido para a vida com ele. A nós não nos cabe julgar se alguém mereceu ou não. Assim à medida que essa fé nos ajuda, começa em nós a esperança da vida futura.
Essa mesma fé nos ensina que a memória dos mortos deve ser respeitada; ensina-nos o respeito aos corpos dos vivos e dos mortos que são e foram templos da Santíssima Trindade. Esse respeito nos leva a rezar por eles, colocá-los em nossas missas, visitar o lugar onde os enterramos, guardar certas lembranças evocativas.
O que nos impressiona é o descontrole em que caem as pessoas em relação aos mortos. O despreparo para enfrentar com mais tranqüilidade essa hora, as crises de desespero como se tudo isso fizesse a história retroceder um minuto, as revoltas contra Deus, que passa a ser o único culpado dessa tragédia.
O que falar dos exageros em construir mausoléus, construções caras, enterros suntuosos, serviços funerários sofisticados. Precisaríamos andar nem tanto ao mar nem tanto à terra. Uma boa dose de bom senso faria muito bem.
Mas no fundo, para quem não tem fé, isso deve ser a continuação da ostentação em que viveu o morto e vivem os familiares, continuação da vaidade. Para outros é um modo de tranqüilizar a própria consciência dizendo: “Fizemos um enterro que ele merecia”. Para outros pode ser sinal de respeito à pessoa humana.
Deveríamos colocar os pés no chão e refletir para evitar exageros que para quem morre pouco significam. Valem muito mais as orações, a esmola, a caridade, do que os maços de flores que secam sob um sol ardente em cima dos túmulos. Infelizmente estamos transformando esse momento difícil em uma verdadeira indústria rendosa.
Do LIvro:
RELIGIÃO TAMBÉM SE APRENDE - VOLUME 3
EDITORA SANTUÁRIO
Pe. Hélio Libardi, C.Ss.R.
http://www.redemptor.com.br
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