6º Domingo do Tempo Comum – Ano B – Homilia
Naquele tempo:
40 Um leproso chegou perto de Jesus, e de
joelhos pediu: “Se queres tens o poder de curar-me”.41 Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele, e disse: “Eu quero: fica curado!”.
42 No mesmo instante a lepra desapareceu e ele ficou curado.
43 Então Jesus o mandou logo embora,
44 falando com firmeza: “Não contes nada disso a ninguém! Vai, mostra-te ao sacerdote e oferece, pela tua purificação, o que Moisés ordenou, como prova para eles!”.
45 Ele foi e começou a contar e a divulgar muito o fato. Por isso Jesus não podia mais entrar publicamente numa cidade: ficava fora, em lugares desertos. E de toda parte vinham procurá-lo.
JOSÉ ANTONIO
PAGOLA
DEUS
ACOLHE OS “IMPUROS”
De forma inesperada, um leproso “aproxima-se de Jesus”.
Segundo a lei, [o leproso] não pode entrar em contato com ninguém. É um “impuro”
e deve ficar isolado. Tampouco, pode entrar no Templo. Como Deus pode acolher
em sua presença um ser tão repugnante? Seu destino é viver excluído. Assim estabelece
a lei.
Apesar de tudo isso, este leproso desesperado atreve-se a
desafiar todas as normas. Sabe que está fazendo algo errado. Por isso, se põe
de joelhos. Não se arrisca a falar com Jesus de frente. Do chão, lhe faz essa
súplica: “Se queres, podes limpar-me”. Ele sabe que Jesus pode curá-lo,
porém desejará limpá-lo? Jesus se atreverá tirá-lo da exclusão a qual está
submetido em nome de Deus?
Surpreende a emoção que a aproximação do leproso produz em
Jesus. Ele não fica horrorizado nem recua. Diante da situação daquele pobre
homem, “comove-se até as entranhas”. A ternura transborda. Como não irá
querer limpá-lo, uma vez que ele vive movido pela compaixão de Deus para seus
filhos e filhas mais indefesos e desprezados?
Sem hesitar, “estende a mão” para aquele homem e “toca”
sua pela desprezada pelos puros. Jesus sabe que está proibido pela lei e que,
com este gesto, está reafirmando a transgressão iniciada pelo leproso. Somente
a compaixão o move: “Quero: fica limpo”.
Isto é o que quer o
Deus encarnado em Jesus: limpar o mundo de exclusões que vão contra sua
compaixão de Pai. Não é Deus quem exclui, mas nossas leis e instituições.
Não é Deus quem marginaliza, mas nós. Daqui em diante, todos deverão ter claro que não se deve excluir ninguém em nome de
Jesus.
Seguir Jesus significa não nos horrorizarmos diante de
nenhum impuro ou impura. Não recusar a nenhum “excluído” a nossa acolhida. Para
Jesus, em primeiro lugar está a pessoa que sofre e não a norma [a lei].
Colocar, sempre, a norma à frente é a melhor maneira de ir perdendo a
sensibilidade de Jesus pelos desprezados e rejeitados. A melhor maneira de
viver sem compaixão.
Em poucos lugares é mais reconhecível o Espírito de Jesus do
que nas pessoas que oferecem apoio e amizade gratuitos a prostitutas indefesas, que acompanham psicóticos esquecidos por todos, que defendem homossexuais que não podem viver, dignamente, sua condição... Essas
pessoas nos recordam que no coração de Deus cabem todos.
EXPERIÊNCIA
SADIA DA CULPA
Não há necessidade de ter lido muito Sigmund Freud para ver
como uma falsa exaltação de culpa invadiu,
deu a tonalidade e muitas vezes perverteu a experiência religiosa de não
poucos fiéis. Basta nomear Deus a essas
pessoas para que o associem, imediatamente, a sentimentos de culpa, remorso e
temor de castigos eternos. A recordação de Deus lhes faz sentir-se mal.
Parece que Deus está sempre ali para recordar-nos a nossa
indignidade. Não se pode apresentar-se diante dele se não se humilha, antes, a
si mesmo. É o passo obrigatório. Essas pessoas somente se sentem seguras
perante Deus, repetindo incessantemente: “Por minha culpa, por minha culpa, por
minha tão grande culpa”.
Essa maneira de viver diante de Deus é pouco sadia. Essa “culpa
perseguidora”, além de ser estéril, pode destruir a pessoa. O indivíduo,
facilmente, acaba centrando tudo em sua culpa. É a culpa aquilo que mobiliza sua experiência religiosa, suas orações,
ritos e sacrifícios. Uma tristeza e um mal-estar secreto se instalam,
então, no centro de sua religião. Não é estranho que pessoas que tenham tido
uma experiência tão negativa, um dia abandonem tudo.
Entretanto, não é esse o caminho mais correto para a cura. É
um erro eliminar o sentimento de culpa. Carl
Gustav Jung e Carlos Castilla del
Pino, entre outros, nos advertiram dos perigos que encerra a negação da
culpa. Viver “sem culpa” seria viver desorientado no mundo dos valores. O indivíduo que não sabe registrar o dano
que está fazendo a si mesmo e aos outros nunca se transformará nem crescerá
como pessoa.
Há um sentimento de culpa que é necessário para construir a
vida, porque introduz uma autocrítica
saudável e fecunda, põe em marcha uma dinâmica de transformação e leva a
viver melhor e com mais dignidade.
Como sempre, o importante é saber em qual Deus alguém crê.
Se Deus é um ser exigente e sempre insatisfeito, que tudo controla com olhos de
juiz vigilante sem que nada lhe escape, a fé nesse Deus poderá gerar angústia e
impotência diante da perfeição nunca alcançada. Se Deus, pelo contrário, é o Deus vivo de Jesus Cristo, o amigo da vida
e aliado da felicidade humana, a fé nesse Deus produzirá um sentimento de culpa
sadio e curador, que impulsionará a viver de forma mais digna e responsável.
A oração do leproso a Jesus pode ser estímulo para uma
invocação confiante a Deus a partir da experiência de culpa: “Se
queres, podes limpar-me”. Esta oração é reconhecimento de culpa, porém
é, também, confiança na misericórdia de Deus e desejo de transformar a vida.
Traduzido do
espanhol por Telmo José Amaral de
Figueiredo.
Fonte: MUSICALITURGICA.COM – Homilías de José A. Pagola
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