5º Domingo do Tempo Comum - Ano A - HOMILIA
Evangelho: Mateus 5,13-16
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos:
13 Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal
se tornar insosso, com que salgaremos? Ele não servirá para mais nada, senão
para ser jogado fora e ser pisado pelos homens.
14 Vós sois a luz do mundo. Não pode ficar
escondida uma cidade construída sobre um monte.
15 Ninguém acende uma lâmpada e a coloca
debaixo de uma vasilha, mas sim num candeeiro, onde brilha para todos que estão
na casa.
16 Assim também brilhe a vossa luz diante
dos homens, para que vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está
nos céus.
JOSÉ ANTONIO PAGOLA
SAL E LUZ
Jesus dá a
conhecer, com duas imagens audaciosas e surpreendentes, o que pensa e
espera de seus seguidores. Não devem viver pensando sempre em seus
próprios interesses, seu prestígio ou seu poder. Mesmo que sejam um
grupo pequeno em meio ao vasto Império de Roma, hão de ser o "sal" de
que necessita a terra e a "luz" que faz falta ao mundo.
"Vós sois o sal da terra".
As pessoa simples da Galileia captam espontaneamente a linguagem de
Jesus. Todos sabem que o sal serve, sobretudo, para dar sabor à comida e
para preservar os alimentos da corrupção. Do mesmo modo, os discípulos
de Jesus devem contribuir para que as pessoas saboreiem a vida sem cair
na corrupção.
Se os
discípulos vivem as bem-aventuranças, sua vida terá uma projeção social.
É o próprio Jesus quem diz isso empregando duas metáforas
inesquecíveis. Mesmo que pareçam um grupo insignificante no interior do
poderoso império controlado por Roma, serão "sal da terra" e "luz do
mundo".
Não é uma
pretensão ridícula? Jesus explica-lhes como isso será possível. O sal
não parece grande coisa, porém começa a produzir seus efeitos,
precisamente, quando se mistura com os alimentos e parece ter
desaparecido. A mesma coisa acontece quando se acende uma luz: somente
pode iluminar quando a colocamos em meio às trevas.
Jesus não
está pensando numa Igreja separada do mundo, escondida atrás de seus
ritos e doutrinas, fechada em si mesma e em seus problemas. Jesus quer introduzir na história humana um grupo de seguidores capazes de transformar a vida, vivendo as bem-aventuranças.
Todos
sabemos para que serve o sal. De um lado, não deixa os alimentos se
corromperem. Do outro, dá-lhes sabor e permite que os possamos saborear
melhor. Os alimentos são bons, porém podem se estragar; têm sabor, mas
podem nos parecer insípidos. É necessário o sal.
O mundo não é ruim, porém pode se estragar. A vida tem sabor, porém pode tornar-se insípida e sem sentido. Uma Igreja que vive as bem-aventuranças, contribui para que a sociedade não se corrompa e se desumanize mais. Aqueles discípulos de Jesus que vivem seu evangelho, ajudam a descobrir o verdadeiro sentido da vida.
Há um problema e Jesus adverte os seus seguidores. Se o sal se torna insosso, já não serve para nada. Se os discípulos perdem sua identidade evangélica, já não produzem os efeitos desejados por Jesus. O cristianismo se torna estragado. A Igreja fica anulada. Os cristãos passam a sobrar na sociedade.
O mesmo
acontece com a luz. Todos sabemos que ela serve para clarear. Os
discípulos iluminam o sentido mais profundo da vida, se podemos ver
neles "as obras" das bem-aventuranças. Por isso, não devem esconder-se.
Tampouco, devem atuar somente para serem vistos. Com sua vida devem
trazer claridade para que, na sociedade, se possa descobrir o verdadeiro
rosto do Pai do céu.
Não nos é permitido servir-nos da Igreja para satisfazer nossos gostos e preferências.
Jesus a quis para ser sal e luz. Evangelizar não é combater a
secularização moderna com estratégias mundanas. Menos ainda, fazer da
Igreja uma "contra-sociedade". Somente uma Igreja que vive o Evangelho
pode responder ao desejo original de Jesus.
"Vós sois a luz do mundo".
Sem a luz do sol, o mundo fica às escuras e não podemos orientar-nos
nem desfrutar da vida em meio às trevas. Os discípulos de Jesus podem
trazer a luz que necessitamos para orientar-nos, aprofundar-nos no
sentido último da existência e caminhar com esperança.
As duas
metáforas coincidem em algo importante. Caso fique isolado num
recipiente, o sal não serve para nada. Somente quando entra em contato
com os alimentos e se dissolve na comida, pode dar sabor àquilo que
comemos. O mesmo acontece com a luz. Se permanece fechada e oculta, não
pode iluminar ninguém. Somente quando está em meio às trevas pode
iluminar e orientar. Uma Igreja isolada do mundo não pode ser nem sal nem luz.
Papa Francisco
viu que a Igreja vive, hoje, fechada em si mesma, paralisada pelos
medos e muito distante dos problemas e sofrimentos para poder dar sabor à
vida moderna e oferecer-lhe a luz genuína do Evangelho. A sua reação
foi imediata: "Temos de sair para as periferias".
O Papa insiste uma outra vez: "Prefiro
uma Igreja acidentada, ferida e machucada por sair à rua, que uma
Igreja enferma por fechar-se na comodidade e agarrar-se às próprias
seguranças. Não quero uma Igreja preocupada em ser o centro e que
termina enclausurada num emaranhado de obsessões e procedimentos".
O chamado de Francisco é dirigido a todos os cristãos: "Não podemos ficar tranquilos numa espera passiva em nossos templos".
"O Evangelho nos convida, sempre, a correr o risco do encontro com o
rosto do outro". O Papa quer introduzir na Igreja aquilo que ele chama
de "cultura do encontro". Está convencido de que "aquilo que a Igreja necessita hoje é a capacidade de curar feridas e dar calor aos corações".
Tradução do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.
Fonte: MUSICALITURGICA.COM - Homilías de José A. Pagola
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