Ficha 16: O Antigo e o Novo Testamentos
Constituição Dogmática DEI VERBUM
Sobre a Revelação Divina
Esta décima sexta ficha, quarta da DV,
refere-se aos capítulos IV e V que informam sobre o Primeiro e Segundo
Testamentos da Bíblia, comumente conhecidos como Antigo e Novo
Testamentos.
Segundo Santo Agostinho, Deus escreveu ‘dois Livros’
para a Humanidade: “o primeiro foi a Criação, a Vida, que é um livro
aberto que revela toda a beleza da mensagem de Deus, pois Ele sempre
quis se comunicar com as pessoas. Com o passar do tempo, as fraquezas
humanas foram impedindo as pessoas de perceberem a primeira mensagem e
Deus decidiu escrever o segundo livro que é a Bíblia, através de pessoas
escolhidas para este sagrado fim.” A Bíblia não foi escrita para
substituir o Livro da Vida, mas para ser um ‘guia’ que ajude o leitora
entendê-lo melhor. Ela é o livro da comunidade que dá ao povo a
esperança no Reino de Deus. É como uma grande carta de amor que só pode
ser compreendida se lida com o mesmo sentimento com o qual foi escrito. O
foco principal é Jesus Cristo, Ele é o centro da Bíblia e, por isso,
devemos ler todos os textos a partir d’Ele. Antes de ser escrita, a
Sagrada Escritura foi vivida e transmitida oralmente; assim, desde o
início da formação do Povo de Deus, com o chamado de Abraão, até a
finalização do último texto do Novo Testamento, a III Carta de João,
somam-se quase dois milênios de história plenos da Revelação de Deus.
Convém destacar que, no cânon da Bíblia, os livros não foram organizado
na ordem em que foram escritos e nem na ordem em que os fatos relatados
ocorreram.
A importância do Primeiro Testamento
reside em preparar e anunciar a espera do Reino de Deus, a chegada do
Filho do Homem por meio do próprio Deus que se manifesta justo e
misericordioso na caminhada junto à humanidade criada. Ele é venerado
pelos cristãos como verdadeira Palavra de Deus porque a Antiga Aliança
nunca foi revogada. Seus textos são divinamente inspirados pelo Espírito
Santo, são partes indispensáveis da Sagrada Escritura e revelam a
‘divina pedagogia’ do amor salvífico de Deus (CIC 121-123) [1] (DV 15),
entendida pela Igreja como a forma gradual de Deus Se revelar e preparar
a humanidade, por etapas, para receber a Revelação que faz de Si
próprio, e que vai culminar na Pessoa e missão do Verbo encarnado, Jesus
Cristo (CIC 53). Ele inicia-se com a criação do universo e do homem;
descreve a queda da humanidade, a depuração pelo dilúvio, o
“arrependimento” de Deus e a restauração da humanidade em Noé e sua
descendência; testemunha a presença de Deus junto ao povo de Israel;
contém a Antiga Aliança de Deus com aquele povo e o prepara para a vinda
de Cristo.
Baseado em Lucas 24,44 - “Jesus disse: é
preciso que se cumpra tudo o que está escrito a meu respeito na Lei de
Moisés, nos Profetas e nos Salmos” – a tradição cristã dividiu o
Primeiro Testamento em quatro grandes blocos de livros: Leis,
Proféticos, Escritos, e acrescentou os livros Históricos. Na atual
divisão da Bíblia, os blocos seguem a seguinte ordem: Leis ou ‘Torá’,
mais conhecido como Pentateuco, que contém os cinco primeiros livros da Bíblia: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Os livros Históricos:
Josué, Juízes, Rute, I e II Samuel, I e II Reis, I e II Crônicas,
Esdras, Neemias, Tobias, Judite, Ester, I e II Macabeus. Os livros
Proféticos que estão divididos em Profetas maiores, que são os livros
longos: Isaías, Jeremias, Ezequiel, Daniel; e Profetas menores, livros
menores: Baruc, Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum,
Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias. E os Escritos, com os
diversos livros Poéticos ou Sapienciais:
Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Sabedoria,
Eclesiástico e Lamentações, sendo que este último se encontra no bloco
dos livros proféticos por ser Jeremias (profeta) atribuído como o seu
autor.
A Igreja considera como Palavra de Deus
escrita na linguagem humana, tanto o Primeiro Testamento quanto o
Segundo, onde este dá continuidade e reafirma o valor e a atualidade do
Primeiro. E, apesar de Cristo ter alicerçado a Nova Aliança no Seu
sangue, os livros do Primeiro Testamento integralmente aceitos na
pregação evangélica, adquirem e manifestam a sua significação completa
no Segundo Testamento, e este os iluminam e explicam (DV 16).
O Segundo Testamento tem como objetivo
central a Palavra de Deus que se apresenta de modo especial na pessoa de
Jesus Cristo, o Seu Filho feito Homem, com seus atos, ensinamentos,
paixão e glorificação que se encontram nos quatro Evangelhos e que são o
coração de toda a Bíblia. Eles ocupam o primeiro lugar nas Escrituras
porque dão o testemunho da vida e da doutrina do Verbo encarnado (CIC
124-125).
A Igreja defendeu e defende, sempre e
em toda a parte, a origem apostólica dos quatro Evangelhos na certeza de
que, aquilo que os apóstolos ouviram de Cristo, eles mesmos pregaram e,
juntamente com os seus seguidores, deixaram por escrito, sob a ação do
Espírito Santo, como fundamento da fé, após a Ascensão do Senhor. Eles
comunicam coisas verdadeiras e sem engano, daquilo que se lembravam, e
com base no testemunho daqueles que viram e foram ministros da palavra,
com a intenção de dar a conhecer a verdade dos ensinamentos a que foram
instruídos. Transmitem, também, com fidelidade, o que Jesus, o Filho de
Deus, realmente praticou e ensinou durante a sua vida terrena até o dia
em que foi elevado ao céu (At 1,1-2) (DV 17-19).
No Segundo Testamento, além dos Evangelhos Mateus, Marcos, Lucas e João, estão também os Atos dos Apóstolos; as Cartas Paulinas:
Romanos, I e II Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, I
e II Tessalonicenses, I e II Timóteo, Tito, Filemon; a Carta aos Hebreus e Cartas universais: Tiago, I e II Pedro, I, II e III João, Judas; e o Apocalipse.
Todos foram redigidos por inspiração do Espírito Santo e revelam o
início da Igreja de Cristo e a sua difusão; confirmam o que diz respeito
a Cristo Senhor e explicam, mais ainda, a Sua genuína doutrina; e
anunciam a Sua consumação gloriosa (DV20).
No Evangelho de Jo 1,3 está escrito: ”o
que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos!”. Esta frase expressa a
intenção dos Textos Sagrados, pois a Palavra de Deus vivida e
testemunhada foi codificada para que a memória da comunidade não se
perdesse, e a Bíblia é o resultado desse esforço. Entretanto, ela não
encerra toda a Revelação, pois, como lemos em Jo 21,25: “Jesus fez ainda
muitas outras coisas. Se fossem escritas uma por uma, penso que não
caberiam no mundo os livros que seriam escritos.”
Notas
[1] Catecismo da Igreja Católica
Para refletir:
- O que esta ficha acrescentou no seu conhecimento sobre a Bíblia?
- Como você entende a relação entre o Primeiro e o Segundo Testamentos?
- Que relação você faz, entre os dois Testamentos, no que diz respeito à experiência do deserto e à liberdade do homem?
- Para você, qual é a importância do Primeiro Testamento?
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