Ficha 13: A Revelação Divina (1ª DV)
Constituição Dogmática DEI VERBUM
Sobre a Revelação Divina
Esta décima terceira Ficha dá início ao estudo da Constituição Dogmática Dei Verbum (DV) e aborda o Proêmio e o Capítulo I que se refere à Revelação de Deus à humanidade, em Cristo Jesus.
Esta Constituição foi um dos últimos
documentos a serem aprovados, e a terceira Constituição promulgada pelo
Concílio Vaticano II, assinada pelo Papa Paulo VI e pelos Bispos
Conciliares a 18 de novembro de 1965. É o mais breve documento, porém o
que foi mais longamente discutido.
Como já refletido, anteriormente, na Ficha 1 – História: O que é um Concílio?,
o tema Revelação e Sagrada Escritura despertou muito interesse na
Igreja desde o início do século passado, de forma que no Concílio
Vaticano II houve calorosos debates, que geraram 102 “proposições”
agrupadas inicialmente em dois capítulos que foram desmembrados em ‘um
Proêmio e seis capítulos’: I – A Revelação; II – A Transmissão da
Revelação Divina; III – A Inspiração Divina e a Interpretação da Sagrada
Escritura; IV – O Antigo Testamento; V – O Novo Testamento; e VI – A
Sagrada Escritura na vida da Igreja. Em síntese, pode-se afirmar que a
DV trata da relação entre Revelação, Tradição e Escritura, isto é, a
forma como historicamente a comunidade eclesial percebeu a Revelação de
Deus e a perpetuou.
Ao dedicar uma Constituição Dogmática
[1] sobre a Revelação de Deus, o Vaticano II quis mostrar, como já o
fizera na Sacrossanto Concílio (SC), que tudo na Igreja ‘gravita’ em
torno de seu Senhor e que ela existe em função Dele; e que a Revelação
de Deus é dinâmica, pois a cada dia Ele se revela à humanidade. Com
isso, o Concílio quis ‘dizer’ ao mundo que a Igreja não anuncia a si
mesma e tampouco é a Revelação. Ao debruçar-se sobre a relação entre
Sagrada Escritura e a Tradição da Igreja, os padres conciliares quiseram
dialogar com a sociedade e as ciências modernas e mostrar que a Igreja
se atualizava, todavia, a DV insistiu em que a interpretação da Bíblia,
fosse feita sempre em comunhão com a Igreja.
A centralidade cristológica da SC já
indicava que a Constituição sobre a Revelação de Deus traria ‘novas
luzes’ que ‘iluminariam’ a Igreja, e a principal mudança pastoral
ocorrida foi ‘colocar a Bíblia na mão do povo’, o que muito contribuiu
para o fortalecimento das comunidades e paróquias, alimentando uma
espiritualidade centrada na Palavra de Deus.A partir da DV houve um
grande incentivo ao estudo da Sagrada Escritura, à tradução da Bíblia
dos originais hebraico, aramaico e grego, e à sua divulgação, que fez da
Bíblia o livro mais conhecido no ocidente.
Segundo palavras do então Cardeal
Arcebispo do Rio de Janeiro (2008), Dom Eusébio Scheid, ‘a DV é um dos
Documentos mais usados, devido ao avanço dado sobre a Palavra de Deus,
seja no seu estudo científico, seja na sua vivência prática, na vida das
comunidades, baseada especialmente nos pequenos círculos fundados na
Palavra de Deus, e mesmo na própria pregação, a homilia com mais
enriquecimento e mais serenidade’. [2]
Proêmio
O Concílio Vaticano II, vem mostrar,
através da Constituição Dei Verbum, que a bússola que orienta a Igreja é
a Palavra de Deus, o Verbo de Deus, Aquele que pela Encarnação traduz,
revela o Pai e se faz Deus-conosco. De fato, a Igreja funda-se sobre a
Palavra de Deus, nasce e vive dela.
Para o cristianismo, Jesus Cristo é a
Revelação, o rosto e a palavra de Deus, cheio de graça e de verdade que
continua a se revelar no tempo presente. E mais, não é um Jesus
qualquer, e não se trata de um personagem histórico, mas o Jesus Cristo
real, vivo e vivificante: aquele crido, adorado, vivido e testemunhado
pela Igreja. É Ele a Revelação!
Através da DV, o Concílio deseja que as
palavras de Jesus Cristo ressoem, assim como ressoou nos apóstolos, em
todas as pessoas de boa vontade que acreditam na possibilidade de um
mundo melhor ou seja, a Igreja entende que tem como missão tornar esta
mensagem compreensível ao homem moderno (DV1).
O Documento de Aparecida (2007)
enfatiza que cada pessoa precisa ter um encontro pessoal com Jesus
Cristo, o Senhor da História, e indica que a A ‘Palavra de Deus’ é um
dos ‘lugares’ que possibilita este encontro e alimento, e é ela que
indica a pessoa de Jesus Cristo, o Filho eterno do Pai feito Homem.
Dentre as muitas formas, destaca que a Leitura orante da Bíblia,
conhecida também como Lectio Divina, conduz ao ‘encontro com
Jesus-Mestre, ao conhecimento do mistério de Jesus Messias, à comunhão
com Jesus-Filho de Deus, e ao testemunho de Jesus-Senhor do universo’
(DA 246-249).
Após 45 anos da promulgação da DV, a
Exortação Apostólica Pós-Sinodal Verbum Domini (2010), de Bento XVI
sobre “a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja”, afirma que toda
a humanidade é colocada, cotidianamente, diante do mistério de Deus que
Se comunica a Si mesmo por meio do dom da Sua Palavra.
A Palavra é, para todos, motivo de
grande alegria que brota da certeza de que “só o Senhor Jesus tem
palavras de vida eterna” (Jo 6,68); ela é pregada pelos Apóstolos, em
obediência ao pedido de Jesus : “Ide por todo o mundo e anunciai a Boa Nova a toda a criatura’’
(Mc 16,15), e continua sendo transmitida pela Tradição viva da Igreja,
não como uma palavra escrita e muda, mas como o Verbo encarnado e vivo.
A Revelação Divina
No prólogo do Evangelho de João lemos: “No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus.”
O Logos (o Verbo, a Palavra) existe desde sempre (Gn 1,1) e, desde
sempre, Ele mesmo é Deus, e como o Verbo é Deus, Deus se dá a conhecer
no diálogo do Filho com a humanidade, e revela-Se a Si mesmo em Jesus,
desejoso de que os homens se tornem participantes da natureza divina por
meio d’Ele, e tenham acesso ao Pai no Espírito Santo (Ef 2,18; 2Pe
1,4).
A DV explicitou a doutrina sobre a Revelação Divina e sua transmissão,não como ‘depósito de verdades’ estático, mas como a vontade livre de Deus de revelar-se
ao homem, “para que, ouvindo o anúncio da salvação, o mundo inteiro
acredite, acreditando espere, esperando ame” – Final do Proêmio.
Deus invisível fala aos seus filhos,
conversa com os homens como amigos e convive com eles; mostra seu
coração amoroso no anseio de conduzi-los à vida eterna; e revela-se como
o Deus da História, conhecido pela Palavra que se torna acessível e
real na prática visível do Amor, nas obras, sinais e milagres revelados
pelo Seu Filho (DV2).
Deus foi preparando Israel e a
humanidade para Jesus Cristo: chamou os patriarcas Abraão – nosso pai na
fé, Isaac e Jacó (Gênesis) para que neles iniciasse a formação de um
povo escolhido, que seria instruído por Ele; junto a Moisés, os conduziu
para a terra prometida (Êxodo); e, apontou e orientou este povo para
Si, junto aos profetas. Um povo que tinha como compromisso testemunhar
que Ele é o único Deus vivo e verdadeiro, Pai providente e justo juiz; e
esperar Aquele que haveria de vir para salvar toda a humanidade da
opressão, do medo e da escravidão do mundo, libertando-a do pecado e da
morte. Ao revelar-se, Deus quis tornar os homens capazes de
responder-lhe, de conhecê-lo e de amá-lo bem além do que seriam capazes
por si mesmos (DV3).
No centro da revelação de Deus está o
acontecimento Cristo(DV6), e este é o grande impulso dado pela DV:
redescobrir a Palavra de Deus, Jesus Cristo vivo e presente na vida da
Igreja.
Em síntese, a Revelação é uma iniciativa
de Deus que independe dos homens e da Bíblia que, enquanto livro, tem
um papel fundamental, mas não é mais importante que a Revelação do
próprio Deus, que é dinâmica e atual, e seu objetivo final é
estabelecer a comunicação entre Deus e os homens. Poderíamos dizer que
Deus nos deu um primeiro “livro” não escrito – a criação, a vida, a
natureza, a humanidade – e, diante da dificuldade humana em
interpretá-lo, Ele nos deu a Sagrada Escritura, o segundo livro, agora
escrito, “um manual” para nos servir de Guia e nos revelar Sua vontade.
[1] Uma constituição Dogmática é aquela considerada com mais alto
grau de importância, pois apresenta uma doutrina da Igreja que os
católicos devem aceitar como autêntica e inquestionável em seus pontos
fundamentais.
Para refletir:
- O que a Dei Verbum vem revelar na Igreja sobre a Palavra de Deus?
- De que forma Deus preparou a humanidade para receber o Seu Filho Jesus?
- Qual é o centro da Revelação Divina?
- O que mais lhe chamou a atenção nesta primeira ficha sobre a Palavra de Deus? Por quê?
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por comentar. Sua participação é muito importante para nós. Deixe seu e-mail para podermos lhe contatar.