Ficha 11 – Vocação Universal da Santidade da Igreja e Índole Escatológica da Igreja (LG 4)
Constituição Dogmática LUMEN GENTIUM
A Luz dos Povos, a Luz das gentes
Vocação Universal da Santidade da Igreja
e Índole Escatológica da Igreja (LG 04)
Esta
décima primeira Ficha, quarta sobre a LG, aborda os capítulos V e VII
sobre a ‘Vocação à Santidade’ e a ‘Índole Escatológica da Igreja’,
respectivamente.
A vocação à Santidade
O capítulo V recorda
que todos os cristãos, estejam onde estiverem, são chamados à santidade,
isto é, a uma vida de profunda comunhão com o Senhor, e adesão ao
projeto anunciado por Jesus Cristo. Este é o maior testemunho e a maior
obra da Igreja! [1]
Falar da vocação à santidade universal
da Igreja significa refletir no chamamento à santidade do Povo de Deus.
Cremos que a Igreja é indefectivelmente santa, pois Cristo a amou como
esposa, entregou-Se por ela, para santificá-la (cf. Ef 5,25-26), e
uniu-a a Si como Seu corpo, cumulando-a com o dom do Espírito Santo.
Esta santidade se manifesta nos frutos da graça que o Espírito Santo
produz nos fiéis; exprime-se de muitas maneiras em cada um daqueles que,
no seu estado de vida, tendem à perfeição da caridade, com edificação
do próximo; e aparece de modo especial na prática dos conselhos chamados
evangélicos. A prática destes conselhos, develevar ao mundo um
admirável testemunho e exemplo desta santidade (LG 39).
Cristo, Mestre e modelo de perfeição,
sempre pregou a santidade de vida que Ele é autor e consumador: “Sede
perfeitos, como é perfeito vosso Pai celeste” (Mt 5,48). Todos aqueles
que no batismo da fé foram feitos verdadeiros filhos de Deus e
participantes da natureza divina, são destinados à santidade que
receberam na graça, devendo conservá-la e aperfeiçoá-la. Sejam os
clérigos, os religiosos ou os leigos, todos são igualmente chamados à
santidade, cada qual, de acordo com seu estado de vida. A LG exorta toda
a Igreja a viver conforme a santidade pregada por Cristo, consistente
no amor incondicional a Deus e ao próximo, na caridade e fraternidade,
na prática constante da oração e no exercício das virtudes cristãs (LG
40).
Escrevendo sobre a santidade, Dom Orani João Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro, lembra:
“Desde a Antiga
Aliança, com os Patriarcas, Deus chama o povo à santidade: ‘Eu sou o
Senhor que vos tirou do Egito para ser o vosso Deus. Sereis santos
porque Eu sou Santo’” (Lv 1,44-45). O desígnio de Deus é claro: uma vez
que fomos criados à sua “imagem e semelhança” (Gn 1,26), e Ele é Santo,
nós devemos ser santos também. O Senhor não deixa por menos. A medida e a
essência dessa santidade é o próprio Deus. São Pedro repete esta ordem
dada ao povo no deserto, em sua primeira carta, convocando os cristãos a
imitarem a santidade de Deus: “A exemplo da santidade daquele que vos
chamou, sede também vós santos, em todas as vossas ações, pois está
escrito: Sede santos, porque eu sou santo” (1Pd 1,15-16).”[2]
Os caminhos e os meios para a santidade
passam, em primeiro lugar, pela caridade que Deus difundiu em nossos
corações, pelo Espírito Santo que nos foi dado; em seguida, para que a
caridade frutifique, é necessária a escuta atenta da Palavra de Deus e,
com seu auxílio, cumprir nas obras a Sua vontade; participar ativa e
frequentemente dos Sacramentos, sobretudo da Eucaristia, e nas demais
celebrações litúrgicas, aplicando-se constantemente à oração, à
abnegação de si mesmo, ao serviço fraterno atuante e no exercício de
todas as virtudes (LG 42).
Especialmente os cristãos, leigos e
leigas, são chamados a viverem a santidade nos espaços onde estão
inseridos. A começar pela família, a Igreja doméstica, os esposos devem
viver a santidade no amor mútuo e no serviço um ao outro e aos filhos,
proporcionando-lhes educação cristã que os insira no mundo como sal e
luz. No trabalho, na política e na sociedade, homem e mulher são
chamados a darem testemunhos das virtudes cristãs e de uma fé inabalável
na presença salvífica do Senhor na História. Assim testemunharão a
santidade da Igreja presente no mundo como luz para iluminar aqueles que
jazem nas trevas.
Viver a vocação cristã é estar aberto ao
chamado de Deus para realizar o que Ele pede, tal como na oração do Pai
nosso que rezamos: ‘seja feita a Vossa vontade’.
Índole escatológica da Igreja
O capítulo VII aborda a índole
escatológica da Igreja. Etimologicamente, escatologia diz respeito à
teologia do final dos tempos, mas isso não significa que a Igreja pregue
o fim do mundo. Para a doutrina católica, a escatologia diz respeito à
promessa da vinda de Cristo quando, então, Ele resgatará todos,
definitivamente, para o seu Reino. Enquanto isso, a Igreja espera dando
testemunho de que o Reino já está entre nós. Disso nasceu a imagem da
Igreja peregrina ou militante!
O texto da carta aos Filipenses
(1,20-24) expõe de maneira clara que, se o Reino é o lugar definitivo
para o cristão, ‘‘o morrer é lucro”, mas todos tem a missão de viver e
testemunhar Cristo na Terra, enquanto viventes. Paulo reflete: “Fico na
indecisão: meu desejo é partir desta vida e estar com Cristo, e isso é
muito melhor. “No entanto, por causa de vocês, é mais necessário que eu
continue a viver” (Fl 1,23-24).
No comentário de D. Henrique Soares da
Costa, bispo auxiliar de Aracaju, lemos o seguinte sobre a Índole
escatológica da Igreja:
“Sendo Povo de Deus
peregrino, a Igreja nunca pode esquecer que sua pátria é o céu e é para
lá que ela deve conduzir a humanidade toda. Por isso mesmo, ela tem um
papel importantíssimo neste mundo, que ninguém, a não ser ela, pode
realizar: ser sinal do Reino que está para acontecer plenamente na
glória. A Igreja deve despertar nos homens a saudade do céu e a
fidelidade ao Cristo na terra! Por isso, tudo quanto de bom os homens
construírem, tem a aprovação e solidariedade da Igreja… mas ela sabe,
que a plenitude do Reino somente se dará na Glória”[3].
Esta ‘saudade do céu’ que o bispo
descreve, não é de forma alguma negação deste mundo, mas certeza e
esperança de que ele deve ser transformado segundo os critérios do
Reino. Disso nasce a missão da Igreja de empenhar-se junto a outros
organismos sociais na construção de uma nova sociedade. Nesta
perspectiva, os cristãos são chamados a se engajarem em movimentos
alternativos que assegurem maior dignidade aos filhos de Deus. Uma
música das CEB’s diz: “Queremos terra na terra, já temos terra no céu!”.
É a certeza de que a maior Glória que pode ser dada a Deus é que a vida
de seu povo seja defendida! [4]
Ao adentrar na Índole Escatológica da
Igreja peregrina e sua união com a Igreja Celeste, a LG inicia pela
índole escatológica da vocação de todos os cristãos, na Igreja,
explicitando que, ‘a Igreja, para a qual somos todos chamados em
Cristo Jesus e na qual pela graça de Deus adquirimos a santidade, só se
consumará na glória celeste, quando chegar o tempo da restauração de
todas as coisas (At 3,21), e quando com o gênero humano, também o mundo
todo, que está ligado intimamente com o homem e que por ele chega ao
seu fim, será perfeitamente restaurado em Cristo.’ Esta restauração
começou já em Cristo, foi impulsionada com a vinda do Espírito Santo e
continua por meio d’Ele na Igreja – que nos faz descobrir na fé o
sentido da própria vida temporal – à medida que vamos realizando, com
esperança nos bens futuros, a obra que o Pai nos confiou no mundo, e
vamos operando a nossa salvação (LG 48).
Enquanto estamos neste mundo como Igreja
peregrina, nós nos mantemos profundamente unidos aos que já morreram e
que contemplam “Deus face a face” na Igreja Celeste, através das
celebrações litúrgicas e orações pessoais; e à multidão de santos e
santas que nos precedeu e intercede por nós. Todos os que são de Cristo
formam uma só Igreja, corpo místico, e n’Ele estão unidos entre si, por
isso, a união dos que estão na terra com os irmãos que adormeceram na
paz de Cristo, de maneira nenhuma se interrompe. A certeza desta união e
os santos exemplos deixados por aqueles que seguiram fielmente a Cristo
e muitos que o fazem ainda hoje, ajudam na santificação da Igreja,
pois, todos aqueles que são constituídos em Cristo formam uma só família
unida em caridade e louvor à Trindade Santa (LG 49-51).
Para refletir:
- Somos chamados à santidade em Cristo. Como podemos e devemos atender a este chamamento?
- Ao falar de índole escatológica, a Igreja prevê que no futuro, no final dos tempos, haverá uma restauração de todas as coisas. Como você entende esta afirmação?
- O que você aprendeu nesta ficha e que não conhecia anteriormente? Isso vai interferir no seu modo cristão de viver, a partir de então? Por quê?
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por comentar. Sua participação é muito importante para nós. Deixe seu e-mail para podermos lhe contatar.