Posted: 05 May 2012 08:58 AM PDT
Evangelho: João 15,1-8
Segundo o relato evangélico de João, nas vésperas de sua morte, Jesus revela a seus discípulos seu desejo mais profundo: “Permanecei em mim”. Conhece sua covardia e mediocridade. Em muitos momentos tem-lhes recriminado sua pouca fé. Se não permanecerem vitalmente unidos a ele, no poderão subsistir.
As palavras de Jesus não podem ser mais claras e expressivas: “Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo se não permanecer na videira, assim também vós não podereis dar fruto se não permanecerdes em mim” [Jo 15,4]. Se vocês não permanecerem firmes naquilo que têm aprendido e vivido junto a ele, sua vida será estéril. Se eles não vivem de seu Espírito, o que foi iniciado por ele se extinguirá.
Jesus utiliza uma linguagem clara: “Eu sou a videira e vós os ramos” [Jo 15,5]. Nos discípulos deve correr a seiva que vem de Jesus. Eles jamais devem esquecer isso. "Aquele que permanece em mim, e eu nele, esse produz muito fruto porque; sem mim nada podeis fazer." [Jo 15,5]. Separados de Jesus, os discípulos não podem fazer nada.
Jesus não somente pede-lhes que permaneçam nele. Ele disse-lhes também que: “minhas palavras permanecerem em vós” [Jo 15,7]. Que eles não as esqueçam. Que vivam do seu Evangelho. Essa é a fonte da qual haverão de beber. Já foi dito em outra ocasião: “As palavras que vos digo são espírito e vida”.
O Espírito do Ressuscitado permanece hoje vivo e operante na sua Igreja de múltiplas formas, porém sua presença invisível e calada adquire traços visíveis e voz concreta graças à recordação guardada nos relatos evangélicos por aqueles que o conheceram de perto e o seguiram. Nos evangelhos entramos em contato com sua mensagem, seu estilo de vida e seu projeto do Reino de Deus.
Por isso, nos evangelhos encerra-se a força mais poderosa que possuem as comunidades cristãs para regenerar sua vida. A energia de que necessitamos para recuperar nossa identidade de seguidores de Jesus. O Evangelho de Jesus é o instrumento pastoral mais importante para renovar hoje a Igreja.
Muitos bons cristãos de nossas comunidades somente conhecem os evangelhos “de segunda mão”. Tudo o que eles sabem sobre Jesus e sua mensagem provém daquilo que eles conseguiram reconstruir a partir das palavras dos pregadores e catequistas. Eles vivem sua fé sem ter um contato pessoal com as “palavras de Jesus”.
É difícil imaginar uma nova evangelização sem favorecer às pessoas um contato mais direto e imediato com os evangelhos. Não há força evangelizadora mais forte do que a experiência de escutar juntos o Evangelho de Jesus a partir das perguntas, dos problemas, dos sofrimentos e das esperanças de nosso tempo.
VIDAS ESTÉREIS
Nós, seres humanos, somos um desejo intenso de vida e realização. Há dentro de nós algo que deseja viver, viver intensamente e viver para sempre. Mais ainda, nascemos para fazer crescer a vida.
Sem dúvida, a vida não muda facilmente. A injustiça, o sofrimento, a mentira e o mal continuam nos dominando. Parece que todos os esforços que fazemos para melhorar o mundo terminam, cedo ou tarde, em fracasso.
Movimentos que se dizem comprometidos em lutar pela liberdade, terminam provocando escravidões iguais ou maiores. Homens e mulheres que buscam a justiça acabam gerando novas e intermináveis injustiças.
Quem de nós, inclusive o mais nobre e generoso, não teve um dia a impressão de que todos os seus projetos, esforços e trabalhos não serviam para nada?
Será a vida algo que não conduz para nada? Um esforço vazio e sem sentido? Uma "paixão inútil" como dizia Jean-Paul Sartre?
Os crentes devem voltar a se recordar que a fé é "fonte de vida".
Crer não é afirmar que deve existir Algo último em algum lugar. Crer é descobrir a Alguém que nos "faz viver" superando nossa impotência, nossos erros e nosso pecado.
Uma das maiores tragédias dos cristãos é a de "praticar a religião" sem nenhum contato com o Vivente. Sem dúvida, alguém começa a descobrir a verdade da fé cristã quando consegue viver em contato pessoal com Jesus Ressuscitado. Somente, então, se descobre que Deus não é uma ameaça ou um desconhecido, mas Alguém vivo que traz nova força e nova alegria em nossas vidas.
Frequentemente, nosso problema não é viver envolvidos em problemas e conflitos constantes. Nosso problema mais profundo é não ter força interior para enfrentarmos os problemas cotidianos da vida.
A experiência diária deverá fazer os cristãos pensarem na verdade das palavras de Jesus: "Eu sou a videira e vós os ramos. Aquele que permanece em mim, e eu nele, esse produz muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer" [Jo 15,5].
Não está ai, justamente, a raiz mais profunda de tantas vidas estéreis e tristes de homens e mulheres que nós chamamos de crentes?
CRER
A fé não é uma impressão ou emoção do coração. Sem dúvida, o crente sente sua fé, a experimenta e a desfruta, porém seria um erro reduzi-la ao "sentimentalismo". A fé não é algo que dependa dos sentimentos: "já não sinto nada... devo estar perdendo a fé". Ser crentes é uma atitude responsável e pensada.
A fé não é, tão pouco, uma opinião pessoal. O crente se compromete pessoalmente a crer em Deus, porém a fé não pode ser reduzida ao "subjetivismo": "eu tenho minhas ideias e creio naquilo que me parece". A realidade de Deus não depende de mim, nem o cristianismo é fabricação de cada um.
A fé não é, muito menos, um costume ou tradição recebida dos pais. É bom nascer numa família crente e receber, desde criança, uma orientação cristã da vida, porém seria muito pobre reduzir a fé a um "costume religioso": "na minha família sempre fomos muito da Igreja". A fé é uma decisão pessoal de cada um.
A fé não é, tão pouco, uma receita moral. Crer em Deus tem suas exigências, porém seria um equívoco reduzir tudo ao "moralismo": "eu respeito a todos e não faço mal a ninguém". A fé é, também, amor a Deus, compromisso por um mundo mais humano, esperança de vida eterna, ação de graças, celebração.
A fé não é, também, um "tranquilizante". Crer em Deus é, sem dúvida, fonte de paz, consolo e serenidade, porém a fé não é somente um "salva-vidas" para os momentos críticos: "eu quando estou em apuros apelo à Virgem Maria". Crer é o melhor estímulo para lutar, trabalhar e viver de maneira digna e responsável.
A fé começa a desfigurar-se quando se esquece que, antes de tudo, ela é um encontro pessoal com Cristo. O cristão é uma pessoa que se encontra com Cristo e nele vai descobrindo a um Deus Amor que cada dia o convence e atrai mais. João o disse muito bem: "Nós conhecemos o amor que Deus tem por nós e cremos nele. Deus é Amor" (1Jo 4,16).
Esta fé só dá frutos quando vivemos dia a dia unidos a Cristo, isto é, motivados e sustentados por seu Espírito e sua Palavra: "Aquele que permanece em mim, e eu nele, esse produz muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer" [Jo 15,5].
Tradução de: Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.
Fonte: MUSICALITURGICA.COM - Homilías de José A. Pagola - 01/05/2012 - 09h11 - Internet: http://www.musicaliturgica.com/0000009a2106d5d04.php
José Antonio Pagola
CONTATO PESSOAL
Segundo o relato evangélico de João, nas vésperas de sua morte, Jesus revela a seus discípulos seu desejo mais profundo: “Permanecei em mim”. Conhece sua covardia e mediocridade. Em muitos momentos tem-lhes recriminado sua pouca fé. Se não permanecerem vitalmente unidos a ele, no poderão subsistir.
As palavras de Jesus não podem ser mais claras e expressivas: “Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo se não permanecer na videira, assim também vós não podereis dar fruto se não permanecerdes em mim” [Jo 15,4]. Se vocês não permanecerem firmes naquilo que têm aprendido e vivido junto a ele, sua vida será estéril. Se eles não vivem de seu Espírito, o que foi iniciado por ele se extinguirá.
Jesus utiliza uma linguagem clara: “Eu sou a videira e vós os ramos” [Jo 15,5]. Nos discípulos deve correr a seiva que vem de Jesus. Eles jamais devem esquecer isso. "Aquele que permanece em mim, e eu nele, esse produz muito fruto porque; sem mim nada podeis fazer." [Jo 15,5]. Separados de Jesus, os discípulos não podem fazer nada.
Jesus não somente pede-lhes que permaneçam nele. Ele disse-lhes também que: “minhas palavras permanecerem em vós” [Jo 15,7]. Que eles não as esqueçam. Que vivam do seu Evangelho. Essa é a fonte da qual haverão de beber. Já foi dito em outra ocasião: “As palavras que vos digo são espírito e vida”.
O Espírito do Ressuscitado permanece hoje vivo e operante na sua Igreja de múltiplas formas, porém sua presença invisível e calada adquire traços visíveis e voz concreta graças à recordação guardada nos relatos evangélicos por aqueles que o conheceram de perto e o seguiram. Nos evangelhos entramos em contato com sua mensagem, seu estilo de vida e seu projeto do Reino de Deus.
Por isso, nos evangelhos encerra-se a força mais poderosa que possuem as comunidades cristãs para regenerar sua vida. A energia de que necessitamos para recuperar nossa identidade de seguidores de Jesus. O Evangelho de Jesus é o instrumento pastoral mais importante para renovar hoje a Igreja.
Muitos bons cristãos de nossas comunidades somente conhecem os evangelhos “de segunda mão”. Tudo o que eles sabem sobre Jesus e sua mensagem provém daquilo que eles conseguiram reconstruir a partir das palavras dos pregadores e catequistas. Eles vivem sua fé sem ter um contato pessoal com as “palavras de Jesus”.
É difícil imaginar uma nova evangelização sem favorecer às pessoas um contato mais direto e imediato com os evangelhos. Não há força evangelizadora mais forte do que a experiência de escutar juntos o Evangelho de Jesus a partir das perguntas, dos problemas, dos sofrimentos e das esperanças de nosso tempo.
VIDAS ESTÉREIS
Nós, seres humanos, somos um desejo intenso de vida e realização. Há dentro de nós algo que deseja viver, viver intensamente e viver para sempre. Mais ainda, nascemos para fazer crescer a vida.
Sem dúvida, a vida não muda facilmente. A injustiça, o sofrimento, a mentira e o mal continuam nos dominando. Parece que todos os esforços que fazemos para melhorar o mundo terminam, cedo ou tarde, em fracasso.
Movimentos que se dizem comprometidos em lutar pela liberdade, terminam provocando escravidões iguais ou maiores. Homens e mulheres que buscam a justiça acabam gerando novas e intermináveis injustiças.
Quem de nós, inclusive o mais nobre e generoso, não teve um dia a impressão de que todos os seus projetos, esforços e trabalhos não serviam para nada?
Será a vida algo que não conduz para nada? Um esforço vazio e sem sentido? Uma "paixão inútil" como dizia Jean-Paul Sartre?
Os crentes devem voltar a se recordar que a fé é "fonte de vida".
Crer não é afirmar que deve existir Algo último em algum lugar. Crer é descobrir a Alguém que nos "faz viver" superando nossa impotência, nossos erros e nosso pecado.
Uma das maiores tragédias dos cristãos é a de "praticar a religião" sem nenhum contato com o Vivente. Sem dúvida, alguém começa a descobrir a verdade da fé cristã quando consegue viver em contato pessoal com Jesus Ressuscitado. Somente, então, se descobre que Deus não é uma ameaça ou um desconhecido, mas Alguém vivo que traz nova força e nova alegria em nossas vidas.
Frequentemente, nosso problema não é viver envolvidos em problemas e conflitos constantes. Nosso problema mais profundo é não ter força interior para enfrentarmos os problemas cotidianos da vida.
A experiência diária deverá fazer os cristãos pensarem na verdade das palavras de Jesus: "Eu sou a videira e vós os ramos. Aquele que permanece em mim, e eu nele, esse produz muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer" [Jo 15,5].
Não está ai, justamente, a raiz mais profunda de tantas vidas estéreis e tristes de homens e mulheres que nós chamamos de crentes?
CRER
A fé não é uma impressão ou emoção do coração. Sem dúvida, o crente sente sua fé, a experimenta e a desfruta, porém seria um erro reduzi-la ao "sentimentalismo". A fé não é algo que dependa dos sentimentos: "já não sinto nada... devo estar perdendo a fé". Ser crentes é uma atitude responsável e pensada.
A fé não é, tão pouco, uma opinião pessoal. O crente se compromete pessoalmente a crer em Deus, porém a fé não pode ser reduzida ao "subjetivismo": "eu tenho minhas ideias e creio naquilo que me parece". A realidade de Deus não depende de mim, nem o cristianismo é fabricação de cada um.
A fé não é, muito menos, um costume ou tradição recebida dos pais. É bom nascer numa família crente e receber, desde criança, uma orientação cristã da vida, porém seria muito pobre reduzir a fé a um "costume religioso": "na minha família sempre fomos muito da Igreja". A fé é uma decisão pessoal de cada um.
A fé não é, tão pouco, uma receita moral. Crer em Deus tem suas exigências, porém seria um equívoco reduzir tudo ao "moralismo": "eu respeito a todos e não faço mal a ninguém". A fé é, também, amor a Deus, compromisso por um mundo mais humano, esperança de vida eterna, ação de graças, celebração.
A fé não é, também, um "tranquilizante". Crer em Deus é, sem dúvida, fonte de paz, consolo e serenidade, porém a fé não é somente um "salva-vidas" para os momentos críticos: "eu quando estou em apuros apelo à Virgem Maria". Crer é o melhor estímulo para lutar, trabalhar e viver de maneira digna e responsável.
A fé começa a desfigurar-se quando se esquece que, antes de tudo, ela é um encontro pessoal com Cristo. O cristão é uma pessoa que se encontra com Cristo e nele vai descobrindo a um Deus Amor que cada dia o convence e atrai mais. João o disse muito bem: "Nós conhecemos o amor que Deus tem por nós e cremos nele. Deus é Amor" (1Jo 4,16).
Esta fé só dá frutos quando vivemos dia a dia unidos a Cristo, isto é, motivados e sustentados por seu Espírito e sua Palavra: "Aquele que permanece em mim, e eu nele, esse produz muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer" [Jo 15,5].
Tradução de: Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.
Fonte: MUSICALITURGICA.COM - Homilías de José A. Pagola - 01/05/2012 - 09h11 - Internet: http://www.musicaliturgica.com/0000009a2106d5d04.php
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