Pessoalmente sinto que qualquer assunto sobre diversidade sexual tem valor e lugar no segundo capítulo da educação sexual
Pe. Rafael Vieira, CSsR (atualmente reside em Brasília) |
Não me faltam informações básicas sobre o uso do termo homofobia. Sei que se trata de comportamento hostil em relação a pessoas homossexuais. Gostaria, no entanto, de estender o sentido dessa palavra. Levá-la para o seu conteúdo básico referencial que é “homo”, que quer dizer humano. E, naturalmente, acrescentar “fobia” que quer dizer, basicamente, medo. Em outras palavras – para me aproximar da recente polêmica do kit do MEC – homofobia poderia expressar medo do humano. Penso que há um reincidente comportamento homofóbico quando o assunto é sexualidade. Atitudes de exclusão das diferenças. Nega-se o humano no outro. É como se uma determinada condição sexual fosse suficiente para garantir que uma pessoa é “menos” humana do que outra. E aí, reina o medo. Prevalece o medo que não raras vezes se vale da violência para exorcizá-lo.
Permita-me ironizar. Quando estudei Teologia Moral, em Roma, no início dos anos de 1990, os estudiosos daquela ciência com os quais tive contato costumavam dizer que ninguém escolhe ser homossexual. Diziam ainda que na ausência de respostas suficientemente fundamentadas, nas ciências e na Igreja, para a compreensão da homossexualidade recomendava-se que não era prudente fazer afirmações categóricas sobre o assunto. Ando desatualizado, tenho lido pouco sobre o tema, mas fiquei desconfiado de que tenha se realizado uma verdadeira revolução nesse campo, sem que eu tenha tomado conhecimento. Vi a presidente Dilma Rousseff dizer na TV que o governo não patrocina “opções sexuais”. Se ela está tão certa das ações do governo quanto está do que seja a homossexualidade, houve um avanço científico enorme nesses últimos 20 anos e já se tornou possível e legítima a afirmação de que uma pessoa é homossexual porque decide, porque escolhe, porque quer. E se é assim, é estranho que ainda tenha tanta gente preferindo viver escondida, agredindo a si mesma, sendo humilhada pela cultura, pela sociedade e pelas religiões. Ou que, reagindo a essa situação, tomam as ruas com bandeiras coloridas, escalam palanques, vão para o Parlamento e pedem respeito. Essas pessoas resolveram não sentir atração pelo sexo oposto. Podiam ter sentido desejo sexual pelo outro sexo e, deliberadamente, escolheram sentir pelos iguais. Se a presidente estiver certa, eu estou realmente em péssima situação. Que lástima, essa minha falta de acompanhamento dos avanços da ciência. Se tivesse sido mais cuidadoso, teria ficado sabendo que se trata de uma “opção”. Bom para eu aprender a ler mais!
Todos os elementos que conseguir individuar nessa barulhenta história do kit do MEC contra a homofobia me levam a crer que estamos com tremendas dificuldades de aceitar a humanidade do outro. Causa-nos medo. O ministro da Educação, Fernando Haddad, no calor dessa confusão do material aprovado anteriormente pela sua equipe, parece sugerir que a bissexualidade é uma “coisa boa”. Meio às avessas todas as orientações sexuais entraram na dança e foram atingidas, naquele sentido que enunciei, pela homofobia: heterossexuais, homossexuais, bissexuais (ou será que também nessa enumeração estou desatualizado?). Encerro a ironia e não posso deixar de registrar uma fobia minha: morro de medo de assuntos polêmicos. As pessoas costumam perder o propósito da discussão e passam para o campo da paixão avassaladora. Nesse âmbito, corre sério risco o respeito de uns pelos outros e se lançam mão de expressões perigosas deixando mortos e feridos pelo caminho. E polêmicas envolvendo temas sexuais são ainda mais atrozes. Elas jogam lama nas histórias pessoais, reduzem as pessoas a experiências que nem sempre são definitivas. Pululam juízos sobre comportamentos. Polêmica é sempre um risco enorme.
Ainda assim, me atrevi a tratar da questão levantada e, felizmente, já deixada de lado nos últimos meses. Pessoalmente sinto que qualquer assunto sobre diversidade sexual tem valor e lugar no segundo capítulo da educação sexual. No primeiro capítulo precisariam ser apresentadas as bases da sexualidade que só existem no coração e não se encontram nos órgãos genitais: amor, carinho, respeito, compromisso, entrega. Se nossas crianças, adolescentes, jovens e adultos pudessem investigar, estudar e assimilar esses valores, nem chegaríamos a ter de recorrer a vídeos ou desenhos sobre homossexualidade, heterossexualidade, bissexualidade e situações de afirmação sobre gênero vividas por quem se sente homem, tendo nascido mulher ou se sente mulher, tendo nascido homem. Brotaria, naturalmente, o desejo de amar e respeitar o humano, sem medo! Sem homofobias.
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