APRESENTANDO
Escrevi essas dicas tendo diante dos olhos pessoas, com quem conversamos, que trazem no coração um mundo de ansiedade, porque não sabem se libertar do dia a dia.
São pensamentos que podem ajudar a essas pessoas a fazerem uma terapia pessoal. São orientações para quem quer caminhar, sair do fundo do poço e se reconstruír.
Não são textos para serem lidos, porque em meia hora a pessoa atravessa essas páginas. Mas são textos que devem levar a um trabalho de reflexão. Apenas lendo, não se vai chegar a lugar nenhum.
Quem não quer sair do marasmo em que vive, não leia o que segue. Quem apenas quer se instruir, procure livros científicos. Essas dicas têm endereço certo: é para pessoas simples que se sentem ou se colocam à margem da vida. Dessas pessoas eu tenho compaixão. E essas dicas querem dizer a elas o mesmo que Jesus falou ao homem de mão ressequida: “Vem para o meio”.
Hélio Libardi, CSsR
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DICA DO MÊS - GAIOLA DE OURO – (junho)
“É para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5,1).
Deus nos criou como seres livres e com capacidade para superar erros, tendências, dificuldades. Mas somos detentores de uma vontade que nos leva a decidir, escolher até mesmo o errado. Nessa escolha mergulhamos na escravidão. Somos ou nos tornamos escravos do mundo, dos prazeres, da ambição e dos cárceres pessoais.
Quando nos sentimos presos, aparece em nós um sentimento de impotência, de revolta ou de conformismo. A prisão nos impede de sermos livres e, porque não sabemos trabalhar com nossas sombras e limitações, nos sentimos escravos de situações e impotentes para resolvê-las.
Ninguém pode, porém, nos tirar a liberdade interior. Pagamos por ela o preço que achamos que nossa liberdade merece. Não é o tumulto do mundo de fora que nos tira a liberdade. Essa nós a perdemos quando a depreciamos ou quando nós nos desvalorizamos. A falta de valorização de si atira a pessoa no fundo escuro de seu cárcere pessoal. Essa gaiola é terrível, porque faz a pessoa chegar ao fundo do poço de sua existência.
Perdeu-se então o dom maior que Deus nos deu e que nos aproxima d’Ele. As prisões que prendem o corpo nada podem dizer para aquele que tem uma estrutura firme e consegue ver além das grades. Grade nenhuma tira a liberdade interior de uma pessoa. Ela pode estar presa e se sentir a pessoa mais livre do mundo. A incapacidade de administrar os problemas, a falta de calma e de valores, a incapacidade de pensar e de ir além dos fatos realmente podem fazer a pessoa perder a liberdade total.
Observemos um pássaro na gaiola. Ela pode ser gaiola de ouro, mas é gaiola, no entanto ela não impede que o pássaro cante. Na realidade gaiola nenhuma silencia um pássaro e o impede de cantar.
Ninguém pode nos fazer infelizes, quando temos a capacidade de refletir e de colocar cada coisa em seu lugar. Quem está fora da gente não pode perceber o que realmente se passa dentro de cada um. Se não nos impressionarmos com o que nos fazem ou dizem de nós, podemos continuar nossa caminhada com serenidade. Mas se dermos ouvido ou atenção, entramos num redemoinho ou ciranda onde se torna impossível manter a calma. E a calma é preciso mantê-la mesmo quando, ao nosso redor, todo mundo a perdeu e nos culpa. Os outros podem nos alertar sobre nossos defeitos ou mal-feitos, mas quem sabe sobre nós é nossa consciência e mais ninguém.
No momento em que deixamos a tristeza tomar conta de nós, damos o primeiro passo para silenciar nosso coração. Vamos perder a alegria e isso vai silenciar nosso canto. Os problemas não podem aprisionar nossos sonhos. Eles são sonhos, mas fazem parte dos ritos da vida. É preciso sonhar.
É hora de descobrir que, mesmo na mais dura prisão, há algo de bom e de positivo pelo qual paga a pena cantar. Os israelitas no cativeiro da Babilônia, dependuraram suas harpas nos salgueiros dizendo que não podiam cantar em terras estrangeiras. Silenciar e aceitar a tristeza é morrer a conta gota; não é esse o caminho.
Temos que aprender a administrar o tempo bom e o tempo ruim com a mesma sabedoria de quem separa o joio do trigo na hora da colheita. Temos que aprender a nos guiarmos pela nossa consciência; os outros podem nos alertar sobre possíveis erros, mas não podem exigir que deixemos de ser livres para fazer o que eles querem. É difícil dizer não, mas muitas vezes é preciso dizê-lo. Temos que deixar tudo aquilo que nos amarra e nos prende. E para viver na liberdade é necessário renunciar a muitas coisas. Mas vale a pena.
(Próxima Dica em julho)
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