PE. ESTÊVÃO (MARIA) HEIGENHAUSER CSsR
5 de FEVEREIRO 1937+
“Foi um homem verdadeiramente religioso” — assim escreveu D. José Gaspar, Arcebispo de São Paulo, a respeito do nosso Pe. Estêvão. E por ter sido verdadeiramente religioso, foi também o tipo exato do missionário redentorista. — Nasceu em Reitim Wink (Alemanha) a 23 de março de 1879, e aos quatro anos de idade ficou órfão de mãe. Feitos os estudos primários, ingressou no Juvenato C.Ss.R. onde foi aluno do Pe. Gaspar Stanggassinger, do qual (dizia ele) aprendeu muito a respeito de Nossa Senhora. Durante o noviciado, com os nervos abalados, precisou voltar para casa; mas, não querendo perder tempo, matriculou-se na Universidade de Friburgo. Já restabelecido, voltou ao noviciado, professando a 8 de setembro de 1900. Já antes de terminar seus estudos, ofereceu-se para vir trabalhar no Brasil.
Aqui continuou estudando, sendo ordenado em Aparecida, onde cantou sua primeira missa. Nomeado depois professor e prefeito do Juvenato, Pe. Estêvão soube aproveitar essa oportunidade para aperfeiçoar seu português. De espírito aberto, otimista, ganhava logo a amizade e confiança de todos.
Foi Superior nas Casas de Aparecida, Penha, Araraquara, em vários triênios; e como Vice-Provincial foi um homem de extraordinária visão.
Sua idéia de abandonar o antigo Colégio Santo Afonso, passando o Juvenato para o chamado “Colegião” surpreendeu a todos, como uma bomba que ninguém ousava aceitar. Trocar uma casa já montada, por uma ala do Colegião, sem janelas e nem portas, com paredes sem rebocar, sem instalações, não era um sonho, diziam, mas um pesadelo que só o Pe. Estêvão podia ter.
Este, porém dizia: “A Redenção começou numa estrebaria; nós vamos começar num pardieiro”. — Ele olhava para o futuro da Vice-Província, com maior numero de juvenistas, maior número de Padres, para um campo de trabalho que ele já previa sem fronteiras. Quando o chamavam de idealista, respondia feliz:
“Levo o nome daquele que, ao morrer, viu abertas as portas do céu!” Trabalhou, lutou pela sua idéia, e em 1929 estavam os Juvenistas no Colegião. Dormiam no corredor aberto, onde à noite, as corujas agouravam, fazendo vai-vem, e deixando cair lembranças raras.... Aos poucos a casa foi melhorando, tudo entrando no seu lugar, e, com maior número de vocações, pôde a Vice-Província contar com as forças de que precisava. — Quando o Núncio Apostólico quis entregar aos Redentoristas a Prelazia do Xingu, Pe. Estêvão moveu céus e terra, até conseguir ficasse a Vice-Província livre desse ônus. Enfrentando as maiores dificuldades, e com muito sacrifício, comprou uma quase fazenda em Pinda, onde construiu e consolidou a Casa do Noviciado que a Vice-Província ainda não possuía. — Olhando sempre para o futuro, ele viu a necessidade de uma fundação no centro de São Paulo, para sede do governo Vice-Provincial; o que só não realizou por dificuldades que não pôde superar. Após três anos apenas de Vice-Provincialado, podemos dizer que Pe. Estêvão fez a Vice-Província avançar muitos anos, saindo da estagnação que já a ameaçava.
Apesar de toda a sua atividade como Superior e missionário, Pe. Estêvão ainda achava tempo para o apostolado da pena. Se ele falava bem, escrevia melhor. Varias edições teve a “Vida de São Geraldo” que ele escreveu; e seus artigos no “Santuário” ou no jornal da Liga Católica J.M.J. eram conteúdo e doutrina em linguagem simples, mas leve e atraente. O forte, porém do Pe. Estêvão foram sempre as Missões. De 1921 até o fim da vida
dedicou-se de corpo e alma às missões e retiros populares que o tornaram conhecido em toda a parte. Missão redentorista e Pe.Estêvão eram sinônimos, e os vigários faziam questão da sua presença, como um missionário simples, original dono de uma palavra que empolgava e convencia os mais indiferentes. Grande organizador, era, de guarda-chuva em punho e apito na boca, que ele comandava as grandes concentrações. Foi ele quem introduziu e aperfeiçoou o plano de conferências de estado, principalmente para os homens. Soube usar da sua experiência para fixar a estrutura das nossas Missões: horários, temas, cerimônias etc. Sabia impor-se aos homens pela sua piedade, seu entusiasmo e otimismo. Deixou numerosos manuscritos: sermões, conferências planos e estudos sobre as Missões.
Como superior e confrade Pe. Estêvão foi sempre muito estimado pela sua bondade e compreensão. Tendo conseguido trazer para o Brasil os redentoristas americanos, estes o tinham como o maior amigo e mentor em todas as iniciativas que deviam realizar. Foi o homem que trabalhou até quando lhe permitiram suas forças. De 1934 em diante, todos começaram a notar que Pe. Estêvão já não era o mesmo. Ele, porém, não admitia cansaço, nem doença.
Continuou trabalhando até dezembro de 1936, quando pregou um grande retiro para os Vicentinos de Taubaté. Aí teve de interromper o seu trabalho, e voltar para casa, sem forças para continuar.
Pensava ele estar sofrendo de uma úlcera no estômago. Os exames, porém, acusaram câncer, e ele teve de ser logo internado no Hospital Santa Catarina. A operação revelou que nada mais se podia esperar. Mas ele, que ignorava sua própria situação, sonhava ainda com restabelecer-se, para voltar às missões. Apenas quinze minutos antes da sua morte foi que ele se convenceu de que chegara ao fim. Com o terço nas mãos, pediu sua cruz de Missionário, e, fitando o Crucifixo, faleceu no dia 5 de fevereiro de (1937) às 9 horas da manhã. Era a primeira Sexta-feira do mês. Seu corpo foi transportado para a Penha, e, na manhã seguinte, D.José Gaspar cantou o Requiem solene de corpo presente, oficiando, depois as cerimônias do sepultamento.
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