PADRE FLÁVIO CAVALCA DE CASTRO CSsR
Em 21 de janeiro de 2009, Bento XVI, por decreto da Congregação para os Bispos, revogou a excomunhão automática que, desde 1º de julho de 1988, pesava sobre os quatro bispos (Bernard Fellay, Bernard Tissier de Mallerais, Richard Williamson e Alfonso de Galarreta) ilegitimamente ordenados pelo arcebispo francês (já emérito) Marcel Lefebvre. Como todos recordam, a iniciativa de Lefebvre decorria de sua não aceitação do Concílio Vaticano II, que ele considerava ilegítimo e contrário à Tradição da Igreja.
O gesto do papa provocou diversos comentários, nem sempre adequados. Tendo em vista clarear o assunto, o Osservatore Romano,de 26-27 de janeiro de 2009, publicou um texto editorial de seu vice-diretor Carlo Di Cicco (http://www.vatican.va/news_services/or/or_quo/text.html#6).
Segundo o editorial, alguns teriam visto no gesto uma concessão perigosa aos adversário do Concílio Vaticano II, e uma liquidação apressada do conflito entre a Igreja e os seguidores de Lebebvre. Diz o texto (em minha tradução): “A reforma do concílio ainda não foi plenamente realizada, mas já está de tal modo consolidada na Igreja católica que haverá nenhuma crise a partir de um generoso gesto de misericórdia. Gesto, aliás, inspirado pelo novo estilo de Igreja querido pelo concílio, que prefere à condenação o remédio da misericórdia.”
Nem tão pouco se está liquidando apressadamente um doloroso cisma. “A revogação (da excomunhão) que provocou tanto alarma não encerra um caso doloroso como o cisma de Lefebvre. Com ela o papa afasta possíveis pretextos para infindáveis polêmicas, atingindo o problema real: a plena aceitação do magistério, incluindo evidentemente o concílio Vaticano II. A revogação da excomunhão ainda não é a plena comunhão. A caminhada de reconciliação com os tradicionalistas é uma opção colegial e já conhecida da Igreja de Roma, e não um gesto repentino e improvisado do de Bento XVI.”
Para constar: o bispo Bernard Fellay, principal dirigente dos seguidores de Lefebvre (Fraternidade Sacerdotal de São Pio X), em carta de 24 de janeiro de 2009 a seus fiéis, faz estes comentários:
“Graças a este gesto, os católicos do mundo inteiro unidos à Tradição não serão mais injustamente estigmatizados e condenados por ter mantido a Fé de seus pais. A Tradição católica não está mais excomungada. Apesar de que ela nunca o esteve em si, ela muito freqüentemente e cruelmente o esteve de fato. Do mesmo modo que a missa tridentina jamais esteve ab-rogada em si, como foi felizmente lembrado pelo santo Padre pelo Motu Proprio Summorum Pontificum do dia 7 de julho de 2007.
O decreto do dia 21 de janeiro cita a carta do dia 15 de dezembro passado ao Cardeal Castrillón Hoyos na qual eu expressava nosso apego “à Igreja de N.S. Jesus Cristo que é a Igreja Católica” e reafirmando nossa aceitação de seu ensinamento e nossa Fé na primazia de Pedro. Eu recordava como sofremos pela situação atual da Igreja onde este ensinamento e esta primazia são humilhados, e acrescentava: “Estamos prontos para escrever com nosso sangue o Credo, para assinar o juramento anti-modernista, a profissão de Fé de Pio IV, nós aceitamos e fazemos nossos todos os concílios até o Vaticano II, a respeito do qual temos nossas reservas”. Em tudo isso, temos a convicção de permanecer fiéis à linha de conduta traçada por nosso fundador, Dom Marcel Lefebvre, de quem esperamos uma próxima reabilitação.
Também desejamos abordar estas “conversações” que o decreto reconhecia como necessárias sobre as questões doutrinais que se opõem ao magistério de sempre. Não podemos senão verificar a crise sem precedentes que sacode a Igreja de hoje: crise de vocações, crise de prática religiosa, do catecismo, e da freqüência dos sacramentos… Antes de nós, Paulo VI falava de uma infiltração da “fumaça de Santanás”, e de uma “auto demolição” da Igreja. João Paulo II não hesitou em dizer que o catolicismo na Europa estava em estado de uma “apostasia silenciosa”. Pouco antes de sua eleição ao Soberano Pontificado, Bento XVI, ele mesmo, comparava a Igreja a “uma barca na que entrava água por todos os lados”. Também nós queremos, nestas “conversações” com as autoridades romanas, examinar as causas profundas da situação presente e de apresentando o remédio adequado, chegar a uma restação sólida da Igreja.” (http://fratresinunum.wordpress.com/2009/01/24/carta-de-dom-bernard-fellay-aos-fieis-da-fraternidade-sacerdotal-sao-pio-x/)
Na audiência geral de hoje, 28 de janeiro, Bento XVI disse esperar que os beneficiados deem os passos necessários para a plena comunhão, reconhecendo o magistério papal e o Concílio Vaticano II.
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