062 - Cuncum, cuncum, cuncum!
- Cuncum, cuncum, cuncum! - È o que minha filha Fernanda, até os dois anos e meio, sabia falar – e só!
Para as conversas da Nanda – cuncum, cuncum e cuncum - a gente chamava a irmã Tati para traduzir - era exímia.
Fernanda, com pouco mais de ano e meio, brincava só na sala. De repente começou a choramingar. A Hedda, a mãe, corre para ver o que acontecia e encontra-a apontando para a casa do botão da blusinha e para o nariz, dizendo:- cuncum, cuncum, cuncum... e, fazendo carinha feia, olhava para a mãe e choramingava.
Entro em casa e a Tati me relata – para quaisquer fatos, a Tatiana contava uma história e uma estória! - que a Nanda introduziu um botão no nariz. Pego-a e corro para o posto do INSS, perto de casa – morávamos no Bairro Sagrada Família. Na portaria, informam-me que o médico atendia no oitavo andar do prédio. A Nanda choramingando. Ela e eu cada vez mais aflitos e nervosos. Pois seria muito perigoso se o corpo estranho fosse para o pulmão; um botão ou o quê? Espero o elevador por instantes, mas como achei que demorava demais – nessas situações, um minuto vira uma hora! - subi os oito andares pela escada. Alguém me aponta a porta onde estaria o médico. Sem bater, abri a porta e lá dentro uma senhora acabando de se vestir e um médico levantando-se da cadeira, esbaforido com minha brusca entrada.
- Mas o Senhor não pode fazer uma coisa dessa!
- O Senhor vai atender à menina?
- Vou...
- É o que interessa!
O médico apanha na gaveta um pequeno aparelho, o introduz no narizinho da Fernanda, que nem teve tempo de se assustar ou chorar, e em questão de segundo tira o bendito corpo estranho: um botão!
Cuncum, cuncum e cuncum, apontando para o nariz e a casa de botão da blusinha, repetidos inúmeras vezes, foi a explanação que a Nanda fez, para a mãe e a Tati, do acontecido no consultório. Entenderam?
Ah!... Isquici!...
Em Belo Horizonte, morávamos na Av. Brasil, perto da Igreja de Santa Efigênia, a qual freqüentávamos. No mês de maio, havia a coroação, quando as meninas se vestiam de anjinhos.
O importante, a alegria e o orgulho dos pais era a filha cantar e coroar. A Tati coroou e a Nanda também, só que, na hora de cantar, a Fernanda, com uns três anos, pegou a coroa - todos nós na expectativa - olhou para Nossa Senhora, e em vez de cantar, calmamente colocou a coroa na cabeça da imagem, virou-se para o público e falou:
- Ah!... isquici!
A Igreja inteira foi um só riso!
127 – Artes
Em Belo Horizonte, minhas meninas, desde os quatro, a Fernanda, e cinco anos, a Tatiana, levava-as ao teatro todos os fins semana possíveis. Terminada a peça, íamos a uma exposição de arte. Como eu mensalmente passava por Ouro Preto, São João Del Rei, Tiradentes, tinha, e tenho, o costume de visitar igrejas, principalmente as barrocas, em todas as cidades por onde passo - as meninas seguiam-me constantemente. Pra falar a verdade, nem sempre adoravam essas visitas, mas mesmo assim iam.
Estudei algum tempo na Escola Grinhard, no Palácio das Artes. As meninas acompanhavam-me, sendo paparicadas por todos. Ganhavam folhas de papel e desenhavam, assim como olhavam curiosas os escultores e outros artistas, dando suas opiniões – a Tatiana falava feito pobre na chuva – agradava e era agradada!
Em uma novela que fez muito sucesso, a protagonista foi a Sônia Braga. Terminada a novela, a Sônia apresentava-se numa peça teatral em um teatro na Avenida Princesa Izabel, no Rio de Janeiro. Levei-as para assistirem a tal peça. Normalmente, acabada a apresentação, nas peças infantis, os artistas apareciam no palco e recebiam mui carinhosamente as crianças, respondendo-lhes as perguntas e dando-lhes sorrisos e abraços. A meninada esperou, esperou e a Sônia saiu rapidamente pelos fundos, não dando satisfação à criançada. Decepção total.
Até hoje, minhas meninas (mulheres casadas!) gostam muito de teatro.
Vá e leve os seus ao teatro! Teatro é cultura!
Benedito Franco
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