
PADRE RAFAEL VIEIRA CSsR
Celebrada como o maior trunfo técnico do governo Lula, desde o primeiro mandato, a ministra Dilma Rousseff está embicada numa trama sofisticadamente política. Há uma suspeita, largamente divulgada pela imprensa nos últimos dias, de que ela tenha autorizado a montagem de um dossiê sobre gastos pessoais do casal Fernando Henrique e Ruth Cardoso durante os 8 anos do mandato do tucano como presidente da República. As informações contidas nesses documentos teriam vazado e colocado tudo a perder. A ministra se defende. O presidente Lula a defende. O PT a defende. Se não fosse o precedente do escândalo chamado “mensalão”, essas defesas teriam alguma importância. Se valer a mesma lógica daquela época, não valem nada. Dona Dilma pode, com esta aventura, caminhar para o mesmo destino de outras eminentes figuras do governo federal. E bem na hora que seu nome começou a ser apresentado como o de candidata da situação para 2010. Aliás, talvez seja justamente por causa dessa pretensão que as coisas complicaram.
Dilma Rousseff sempre teve sua imagem associada a duas características de comportamento péssimas para a prática política comum no Brasil e extraordinariamente eficientes para a administração pública: discrição e rigor. O primeiro cargo de importância, na carreira dela, chegou com sua mudança de partido. Ela era integrante do PDT e assumiu a Secretaria de Energia de Energia no tempo que Alceu Colares foi governador do Rio Grande do Sul. Olívio Dutra, do PT, ganhou as eleições em 1998 com o apoio do partido e a reconduziu ao cargo. Em 1999, com a saída do PDT do governo, Dona Dilma passou para o PT e continuou na pasta. Destacou-se, em todo esse tempo, pela determinação e disciplina. Mineira de Belo Horizonte, com mestrado e doutorado obtidos na Universidade de Campinas, em São Paulo, Dona Dilma enfrentou o regime militar na década de 1960 com a mais radical de todas as formas políticas de combate: a luta armada. A experiência administrativa no governo gaúcho, no entanto, a credenciou de forma a não deixá-la confinada a essa imagem do passado. Ele passou a ser respeitada pela competência e eficiência com que lidou com uma pasta altamente árida. O resultado de sua gestão colocou-a como nome natural do PT para o Ministério das Minas e Energia e ela só foi parar na Casa Civil por causa da queda de José Dirceu.
No posto, ela nunca deixou margem para suposições de que faria investidas político-eleitorais. O que ocorreu, de verdade, é que seu nome foi o único de grande peso que sobrou na derrocada das figuras ilustres do PT no governo federal. O presidente Lula, até o dia em que estiver contrário a um terceiro mandato, precisava levantar a bandeira de que seu partido tem candidato. Sobrou para Dona Dilma. Quem acompanhou essa virada, percebeu que ela não se fez de rogada. A oposição teme que seu perfil de correção possa ter um peso grande e a popularidade estratosférica pode colocar quem quiser na cadeira presidencial. Essa história de “dossiê” pode ser compreendida dentro desse quadro. Se bem que não lógica para a ação dos aloprados. Dona Dilma não parece ter sido vitima desse fenômeno. O barulho todo em torno do seu nome tem evidentes propósitos de derrubá-la como alternativa na sucessão.
A única face dessa trama desenrolada até agora que não me parece ter merecido a devida atenção é aquela que coloca o senador Álvaro Dias, do PSDB do Paraná, na roda das conversas. Ele teria sido o destinatário do tal “dossiê” e, mesmo alimentando as suspeitas sobre a Casa Civil, não quer revelar quem, de fato, trouxe o material para sua mesa. O senador tem fama de opositor contundente e forte. Anda meio calado e arredio. Desse comportamento surgem ainda mais suspeitas e dificuldades para o discernimento da opinião pública. Dona Dilma está reagindo do modo que mais sabe conduzir as coisas: fazendo uma investigação técnica e chamando em causa organismos de reconhecida lisura para que apresentem uma explicação para todo o imbróglio do tal “dossiê”. Acredito, que no fim das contas, Dona Dilma pode perder a possibilidade de ser a indicada para suceder o Presidente Lula, mas não irá contradizer sua trajetória de mulher séria.
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