PADRE RAFAEL VIEIRA CSsR
O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, não estava preparado para a saraivada de vaias que recebeu no Maracanã durante a cerimônia de abertura dos jogos pan-americanos no ano de 2007. E os críticos disseram que elas traduziram a insatisfação da classe média, uma vez que o estádio estava lotado de gente que precisou pagar ingressos caros. Acho que o buraco é mais embaixo. Lula está mal acostumado. O último pleito pode ter deixado nele uma sensação de onipotência. As pesquisas de popularidade o colocam sempre em posição privilegiada, mesmo com a penca de escândalos que envolvem seus amigos. Tornou-se folclórico afirmar que ele não sabe nada do que ocorre nos bastidores do seu próprio governo. Dessa maneira, instalou-se na figura dele uma espécie de imunidade. O barulho das vaias deve tê-lo feito ver que ele é vulnerável. Todo mundo é, e um político ainda mais. A experiência pode ter sido altamente positiva. Numa democracia não é saudável bajular governante, e pior ainda é torná-lo um tipo inatingível.
E essa história de que se o estádio estivesse lotado de pobres a reação seria oposta pode ter sua verdade, mas também tem lá uma cilada. Desde que Lula chegou ao Palácio do Planalto e afirmou o modelo econômico profundamente embalado por Fernando Henrique Cardoso, os ricos só têm levado vantagens. Este é um país que melhorou muito para os ricos. Se eles estão aborrecidos, talvez seja porque as expectativas completamente marcadas pelo capricho pessoal, ou de grupo, não estão sendo atendidas nem aqui, nem em qualquer outro lugar do mundo. O Brasil de hoje funciona com as mesmas ferramentas econômicas que são usadas nos Estados Unidos e nos países onde impera o capitalismo vitorioso e arrogante. Rico que fica triste com o governo brasileiro neste momento não encontraria motivos para ovacionar nenhum dos chefes das oito maiores economias da Terra. A vida por aqui ainda anda muito complicada e difícil é para os pobres. O débito social mal tem um pálido sinal de pagamento e não há clima para que a população pobre se inscreva como baba-ovo do presidente.
E tem mais: vaia não devia ser motivo para deixá-lo desapontado. Um beicinho não combina com um homem que construiu seu perfil político nos velhos tempos, em cima de caminhões na mobilização de operários. Um sindicalista corajoso que usava refrões para pressionar governos. Um líder arrojado que ajudou a construir uma força partidária que em menos de 30 anos chegou ao posto máximo de poder no país. Um candidato que enfrentou 3 campanhas presidenciais quentíssimas, e com uma oposição virulenta. Um presidente que enfrenta reuniões importantíssimas e de alto grau de exigência em todo canto do mundo. E, por que não lembrar, um corintiano de coração. Uma pessoa assim não podia se impressionar com 20 segundos de rumores de apreciadores de esportes garantidos somente ao que ele mesmo sempre chamou de elite brasileira.
A vaia é um instrumento popular legítimo e nem é assim tão grave. Um ator, por exemplo, passa perto dela toda santa noite em que tem de fazer um exercício dramático. Um acrobata de circo pode ouvi-la com toda sonoridade por erros compreensíveis, e um jogador de futebol – não em competições olímpicas – arrisca ser vaiado em todas as partidas que participa. Se qualquer pessoa que se expõe para mostrar seu talento fica a um passo de uma experiência dessas, qual seria a razão para Lula perder o rebolado? O que ele tem de mais bonito que os outros que querem apresentar ao público sua capacidade de realização? Na cena política, no bom período que o PT era o PT, uma das armas mais poderosas que se usava contra gente almofadinha, que abocanhava cargo publico e só queria afagos, eram calorosas salva de vaias em situações de exposição pública. O César Maia lembra-se disso. Mas ele não daria conta de ensaiar com aquela multidão toda. Se bem que aplausos e vaias são que nem coceira, basta começar!
Pe. Rafael Vieira, CSsR / 16.07.2007.
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