PADRE RAFAEL VIEIRA CSsR
Entre tantos desejos mirabolantes que a humanidade sente e para os quais é impulsionada a encontrar a satisfação por meio de tecnologia avançada está o de dominar a técnica da invisibilidade. Quem não gostaria de desaparecer em algumas situações? O cinema e a televisão jogam sempre com essa possibilidade. Agora, no entanto, parece que algo curioso está surgindo fora do mundo da fantasia. Deu, outro dia, num portal de ciência da internet que os japoneses criaram um jeito de tornar objetos e até pessoas transparentes. A explicação pode ser simples: ocorre um processo chamado de retrorreflexivo. Um raio de luz rebate para a direção de onde ele partiu. Um espelho só consegue fazer isso quando o raio de luz está vindo num ângulo exatamente perpendicular à sua superfície. E a turma estudiosa da terra do sol nascente ilustra a teoria afirmando que tudo funciona como a bola que rola na diagonal numa mesa de sinuca. Quando bate na parede, continua indo adiante, mas noutra direção, isso é o que acontece com o espelho normal. Se o material retrorreflexivo fosse a mesa de sinuca, a bola bateria na lateral e voltaria exatamente de onde veio.
Combinemos que ficou claro e avancemos. A invisibilidade é um paradoxo. É a negação do que se quer afirmar. E, pelo visto na novidade japonesa, o seu êxito é apenas mais um truque para enganar os olhos. O objeto invisível não é invisível e só dá a impressão de ser por causa de um bom jogo de luz. Isso significa que, propriamente, não houve progresso no que tange a possibilidade de alguém sumir e depois voltar a aparecer. É fundamental a volta, porque se não for assim, a invisibilidade é a morte. Houve um tempo em que se divulgava muito as teorias da Física Quântica e no meio das afirmações nesse campo, encontrava-se aquela que garantia, em tese, que uma pessoa, por exemplo, pode se desintegrar e voltar a se recompor. Se não me engano, essa projeção era feita com o propósito de assegurar um futuro para o transporte de pessoas. O teletransporte de dados já é uma realidade, segundo os redatores de um site que trata de inovação tecnológica na fronteira do conhecimento. Os pesquisadores conseguiram fazer cópias remotas de feixes de raios laser, combinando a clonagem quântica com o teletransporte quântico em um único passo. A teleclonagem é mais eficiente do que qualquer combinação de teletransporte e clonagem local porque ela se fundamenta em uma nova forma de entrelaçamento quântico.
O teletransporte de seres vivos, no entanto, permanece sendo um fenômeno da ficção. Ninguém conseguiu, até agora, encontrar o caminho para fazer uma pessoa desaparecer em um lugar e reaparecer em outro e, dessa maneira, continua confinada aos sonhos, a pretensão da invisibilidade. Um dos elementos de base dessa vontade humana pode ser o que se costuma chamar de conveniência. Tudo deverá ser regido pelo gosto e o interesse de quem pretende desaparecer. E aí a questão toda deságua num mar de subjetividades. Enquanto o ser vivo estiver desaparecido no caso de sucesso desse propósito, o que de fato, existirá dele? Qual seria a consciência que se poderia formar de uma experiência de sumiço total? Seria um modo de tocar na eternidade? Enfim, as perguntas chegam como enxurrada e aparentam não terem respostas.
Pensando bem, o grande movimento do mundo atual está direcionado para a tese oposta. O marketing de pessoas, por exemplo, tão evidente em quase todos os campos da atividade social, aposta todas as fichas em encontrar fórmulas de tornar as pessoas visíveis. Hoje, na verdade, os indivíduos não existem para o grande jogo do universo se não forem submetidos a uma série de processos que os façam aparecer para o mercado e para mídia. Mesmo nas relações simples de contato entre as pessoas, o esforço maior está concentrado em se fazer notar. Para isso funciona a industria da cosmética e toda a literatura de auto-ajuda. A invisibilidade, sob este aspecto, é uma realidade e um desconforto existencial. Os japoneses podem continuar com suas pesquisas e o mundo inteiro continuará rindo dos truques de sumiço, mas cada pessoa sabe o peso de ser invisível.
Pe. Rafael Vieira, CSsR / 11.07.2007
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por comentar. Sua participação é muito importante para nós. Deixe seu e-mail para podermos lhe contatar.