
PADRE LUÍS KIRCHNER CSsR
Ao escrever esta reflexão, encontro-me no exterior, nos Estados Unidos, que durante os últimos dias tem sofrido sua pior crise econômica desde 1929, tempo da Grande Depressão. Milhares de pessoas estão perdendo suas casas, seus empregos, seus investimentos, suas aposentadorias, enquanto os responsáveis de grandes instituições financeiras estão ganhando recompensas indecentes. O povo americano está zangado e furioso. Provavelmente as eleições presidenciais e federais serão decididas no dia 4 de novembro à luz dessa catástrofe.
Muitos dizem que a causa foi a ganância e a enganação por parte de agentes econômicos, que queriam ganhar dinheiro fácil, sem pensar na responsabilidade de suas ações. Que lições podemos aprender de tudo isso? Um efeito cascata está perturbando os mercados internacionais. Grandes bancos estão em pânico. Os pequenos estão sofrendo por causa dos pecados dos grandes.
Em primeiro lugar, é necessário voltar a viver como uma família normal qualquer. Quando há menos receita, ela não pode gastar mais, durante muito tempo. Tem de cortar certas despesas. Nenhum governo ou administração pode resolver todos os problemas que merecem uma solução. Mas certas prioridades são mais importantes e merecem ser atendidas, porque governos existem para fazer o que o individuo não pode alcançar.
Capitalismo, ou seja, livre iniciativa, não pode ser tão livre de responsabilidades que esmague as pessoas a que deve servir. Capitalismo selvagem precisa ser contrabalançado com espírito comunitário e uma visão do bem comum. Não há duvida que o capitalismo tem criado riquezas e empregos para muita gente e melhoramento de vida para bilhões. Entretanto, outros bilhões de pessoas têm sido vitimas de seu poder e dominação. No Brasil, houve um crescimento econômico recentemente. A questão é evitar uma concentração de riqueza nas mãos de poucas pessoas. Quem foi beneficiado? Quanto chegou as bases?
Se lucro é o dinamismo, o motor que dirige os negócios do mundo globalizado, é bom lembrar o que cristianismo ensina sobre moderação e disciplina. Posso não ter tudo que amo, mas amo tudo que tenho. Uma economia que está construindo em cima de um crescimento continuo, sempre maior, contem as sementes de sua própria destruição. Criar novos empregos e elevar o padrão de vida é nobre, deve ser incentivado. Mas o perigo é fazer isso usando qualquer meio, sem olhar para as conseqüências. Vidas humanas estão em jogo. Merecem respeito e consideração.
Confiança no mercado e nas instituições financeiras exige que homens e mulheres sérios, éticos e transparentes administrem seus negócios com honestidade. Se não, nada funcionará.
Espero que nos dias e nos meses que vêm haja uma mudança de conduta e nova confiança, não para enriquecer os já ricos, mas para recuperar o dinheiro que foi perdido por operários e trabalhadores, que viram seu patrimônio, às vezes bem pequeno, desaparecer. Deus nos deu a inteligência e a criatividade para melhorar nossas vidas. Falta uma moral para nos orientar. Não é justo que um pequeno grupo, com tanto poder nas mãos, possa afetar a vida de tantas pessoas inocentes, longe dos centros de decisão.
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