O pudor cristão
56. Bem melhor fariam os educadores da juventude clerical, inculcando-lhe as normas do pudor cristão, que tanto contribui para manter incólume a virgindade, e bem pode chamar-se a prudência da castidade. O pudor adivinha o perigo, obsta a que se afronte, e leva a evitar aquelas mesmas ocasiões de que não se acautelam os menos prudentes. Ao pudor não agradam as palavras torpes ou menos honestas, e aborrece-lhe a mais leve imodéstia. Ele afasta-se da familiaridade suspeita com pessoas do outro sexo, porque enche a alma de profundo respeito pelo corpo, membro de Cristo (cf.l Cor 6,15), e templo do Espírito Santo (l Cor 6,19). A alma cristãmente pudica tem horror de qualquer pecado de impureza e retira-se ao primeiro assomo da sedução.
57. O pudor sugere ainda aos pais e educadores os termos apropriados para formar, na castidade, a consciência dos jovens. Evidentemente, como lembrávamos há pouco numa alocução, "este pudor não se deve confundir com o silêncio perpétuo que vá até excluir, na formação moral, que se fale com sobriedade e prudência dessas matérias". Contudo, com freqüência demasiada nos nossos dias, certos professores e educadores julgam-se obrigados a iniciar as crianças inocentes nos segredos da geração duma maneira que lhes ofende o pudor. Ora, nesse assunto tem de se observar a justa moderação que exige o pudor.
58. Alimenta-se esse do temor de Deus, temor filial baseado numa profunda humildade, o qual inspira horror ao menor pecado. Já o afirmava o nosso predecessor são Clemente I: "Aquele que é casto no seu corpo, não se glorie, pois deve saber que recebeu de outro o dom da continência". Mas ninguém mostrou melhor que santo Agostinho a importância da humildade cristã para a defesa da virgindade: "Sendo a continência perpétua, e sobretudo a virgindade um grande bem nos santos de Deus, deve-se evitar com o maior cuidado que se corrompa com a soberba... Quanto maior vejo é este bem que eu vejo, mais temo que a soberba o roube. Esse bem virginal ninguém o conserva senão o próprio Deus que o deu: e 'Deus é caridade' (1Jo 4,8). Portanto, a guardiã da virgindade é a caridade; e a morada dessa guardiã é a humildade".
O socorro da oração e dos sacramentos
59. Outra coisa se deve ainda ponderar com atenção: para conservar ilibada a castidade não bastam a vigilância e o pudor. É preciso recorrer também aos meios sobrenaturais: à oração, aos sacramentos da penitência e da eucaristia, e a uma devoção ardente à virgem Mãe de Deus.
60. Nunca nos devemos esquecer que é dom divino a castidade perfeita. "Foi dado àqueles que o pediram", nota são Jerônimo (cf. Mt 19,11), "àqueles que o quiseram, àqueles que trabalharam para o receber. Porque a todo aquele que pede ser-lhe-á dado, aquele que procura encontrará e a quem bate ser-lhe-á aberto" (cf. Mt 7,8). Acrescenta santo Ambrósio que da oração depende a constante fidelidade das virgens ao seu divino Esposo. E santo Afonso Maria de Ligório, com a ardentíssima piedade que o caracterizava, ensina que não há meio mais necessário e mais eficaz para vencer as tentações contra a virtude angélica do que o recurso imediato a Deus pela oração.
61. À oração tem de se juntar o sacramento da penitência, que, sendo recebido com freqüência e preparação, é remédio espiritual que purifica e sara; e também a sagrada Eucaristia, que na expressão do nosso predecessor de imortal memória, Leão XIII, é o melhor "remédio contra a concupiscência". Quanto mais casta é a alma, tanto mais fome tem deste pão, que dá a força contra todas as seduções impuras e une mais intimamente ao divino Esposo: "O que come a minha carne e bebe o meu sangue, permanece em mim e eu nele" (Jo 6,57).
A devoção a nossa Senhora
62. Mas, para conservar e fomentar a castidade perfeita, existe um meio que a experiência dos séculos mostra repetidamente ter valor extraordinário: é a sólida e fervorosa devoção a nossa Senhora. Em certo modo, essa devoção encerra em si todos os outros meios: quem a cultiva sincera e profundamente é levado a vigiar e a orar, a aproximar-se do tribunal da penitência e da sagrada mesa. Por isso exortamos com afeto paternal os sacerdotes, os religiosos e as religiosas a colocarem-se debaixo da proteção da augusta Mãe de Deus, que, sendo a virgem das virgens, é, como afirma santo Ambrósio, "a mestra da virgindade" e, de modo especial, a mãe poderosíssima das almas consagradas a Deus.
63. Por meio dela entrou a virgindade no mundo, como nota santo Atanásio, e santo Agostinho ensina claramente que "a dignidade virginal começou com a Mãe de Deus". Seguindo o mesmo santo Atanásio, propõe santo Ambrósio a vida da Virgem Maria como exemplar para as virgens: "Imitai-a, minhas filhas,... a vida de Maria seja para vós a imagem da virgindade, da qual irradie como de espelho o encanto da castidade e o ideal da virtude. Seja ela o exemplo da vossa vida, pois os seus admiráveis ensinamentos mostram o que deveis corrigir, copiar e conservar... Ela é o modelo da virgindade. É tal a natureza de Maria que, para lição de todos, basta a sua vida... Por conseguinte, Maria deve ser a regra de nossa vida". "Tão grande era a sua graça, que não só conservava em si a virgindade, mas comunicava o dom da integridade àqueles que visitava". Santo Ambrósio tinha razão de afirmar: "Oh, riquezas da virgindade de Maria"!) Por causa dessas riquezas, é da maior importância que, ainda hoje, as religiosas, os religiosos e os sacerdotes contemplem a virgindade de Maria para observarem com mais fidelidade e perfeição a castidade do próprio estado.
64. Mas não vos contenteis, amadíssimos filhos e filhas, com meditar nas virtudes da bem-aventurada virgem Maria; recorrei a ela com absoluta confiança, seguindo o conselho de são Bernardo: "Procuremos a graça e procuremo-la por Maria". Muito especialmente neste ano mariano, confiai-lhe o cuidado da vossa vida espiritual e perfeição, imitando são Jerônimo que dizia: "Para mim, a virgindade é uma consagração em Maria e em Cristo".
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