O pensamento teológico, tendo superado o Nestorianismo (que cindia Jesus Cristo, atribuindo-lhe dois eu ou duas pessoas), esteve sujeito a movimento pendular. A tese da ortodoxia, que rejeitava a dualidade de pessoas, foi exageradamente enfatizada no chamado “monofisismo” ou “monofisitismo”. Com efeito, Eutiques de Constantinopla, adversário de Nestório e seguidor de S. Cirilo, ultrapassou o seu mestre, ensinando o seguinte: em Cristo, não havia apenas uma só pessoa (um só eu), mas havia também uma só natureza, visto que a natureza divina absorvera a humana.
Tal posição suscitou controvérsia, pois se lhe opunham Teodoreto de Ciro, Domno de Antioquia e o próprio Papa Leão I (440-461).
O Imperador Marciano (450-457) convocou então um Concílio Ecumênico para Éfeso, o qual, iniciado nesta cidade, foi transferido para Calcedônia (junto a Constantinopla); durou de 8 de outubro a novembro de 451. São Leão Magno, Papa, enviou seus legados, assim como uma carta que definia a doutrina ortodoxa: em Cristo há uma só pessoa, mas duas naturezas (a divina e a humana) não confundidas entre si. Tal doutrina foi aclamada pelos padres conciliares, que condenaram Eutiques e o monofisismo aos 25/10/451.
O Concílio de Calcedônia também se voltou para questões disciplinares condenando a simonia, os casamentos mistos e proibindo as ordenações absolutas (isto é, realizadas sem que o novo clérigo tivesse determinada função pastoral).
Em seu famoso cânon 28, o Concílio reconheceu à sé de Constantinopla, a cidade imperial, os mesmos privilégios que à de Roma. O Papa S. Leão Magno recusou-se a aprovar este cânon, visto que Roma é a sede dos Apóstolos Pedro e Paulo, ao passo que Constantinopla não foi sede de Apóstolos, mas derivava sua importância do simples fato de ser sede do Imperador.
Dom Estêvão Bettencourt O.S.B
+ 14/04/2008
Concílio de Calcedônia - Cânon 28. Neste Cânon, aprovado pelo Concílio, mas tornado sem efeito pela autoridade Papal, pretendia que a Sé de Constantinopla fosse a 2.ª depois de Roma: "non secus ac illiam extolii ac magnifieri sucundum post illam existentem". O Patriarca Anatólio escreve a S. Lião I uma epístola submetendo-se e se desculpando pela ousadia a que chegou induzido pelo clero constantinopolitano: "Rogamus igitur et tuis decretis nostrum honora indicium, et sicuti no capiti in bonis adecimus consonantiam sic et Summitas Tua filiis quod decet adimpleat". E no fim da epístola: "Omnem vogis gestorum vim insinuavimus ad comprobationem nostrae sinceritatis et ad eorum, quae a nobis gesta sunt, firmitatem et consonantiam". (ML, liv, 959).
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