PADRE HÉLIO DE PESSATO LIBÁRDI CSsR
Pecado original é uma solidariedade humana no pecado?
Existe uma série de pontos discutidos na doutrina do “Pecado original”. O primeiro ponto é o entendimento do relato do Gênesis 2 e 3, que deve ser lido como texto sapiencial. Outro ponto não definido pelo Concílio de Trento é a identidade histórica de Adão e Eva. Trento também não deu uma definição formal do “pecado original” nem seria “justiça original”, apenas afirmou a existência do “pecado original” em nós no nascimento e sua remissão pelo batismo. A doutrina não define a existência histórica do primeiro pecador e primeiro pai da humanidade. Também não define a questão da transmissão do pecado por geração biológica, como queria Santo Agostinho.
Independente dessas questões podemos esclarecer a problemática do “pecado original” através da solidariedade humana. Contraímos o “pecado original” por causa de nossa solidariedade com a humanidade pecadora. E seremos recuperados pela solidariedade com Cristo, que agrega em si todos para a plenitude de seu Corpo Místico.
Há uma solidariedade no plano humano. A coletividade humana age sobre nós, e nós agimos sobre ela para o bem e para o mal. Também nas relações com Deus há a solidariedade de todos os homens: toda a recusa de Deus não tem apenas o caráter pessoal, mas afeta a comunidade humana. O mundo criado por Deus tornou-se pecador por causa das recusas e oposições dos homens a Deus e à realização de seu projeto de amor.
Não fomos mal feitos, mas fomos feitos humanos, criados de matéria, e matéria tem finitude. O projeto de Deus é a vida plena de comunhão com Ele. Matéria humana não tem condição disso, ela vai ser transformada pela solidariedade com Cristo, potencializada para viver plenamente inserida na vida de Deus. Daí se entende o batismo como nascimento e início da vida de Deus como uma cristificação da criatura humana. Só assim se entende também a morte como fim necessário daquilo que é matéria e para uma transformação para a posse de Deus.
Aqui se tem a impressão da história reversa: a partir da experiência de Israel, de sua infidelidade à Aliança Mosaica, se percebeu a idéia de uma solidariedade humana no pecado. É também mais fácil partir da solidariedade da salvação com Cristo, o único redentor de todos, e depois explicar o restante. Como a experiência da infidelidade de Israel à Aliança, iluminado pelo Espírito o autor de Gênesis 2 e 3 projetou no passado, até as origens da humanidade, sua visão do mal que afeta a condição humana.
O Concílio de Trento estava preocupado com os erros pelagianos, afirmou a existência do “pecado original” em nós desde o nascimento e sua remissão em Cristo, e nós ficamos com um emaranhado de explicações que um teólogo copia do outro e ninguém consegue traduzir em linguagem atual e acessível.
Do Livro:
RELIGIÃO TAMBÉM SE APRENDE - VOLUME 9
EDITORA SANTUÁRIO
Pe. Hélio Libardi, C.Ss.R
http://www.redemptor.com.br
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