
JOÃO A.MAC DOWELL SJ
É verdade que nossa ocupação no céu será ficar louvando a Deus eternamente?
Não lhe parece uma coisa monótona e sem graça? Se é assim, para que esforçar-se para ir para o céu?Em primeiro lugar, existe uma confusão na sua idéia de eternidade. Não se trata de uma duração sem fim, um tempo que vai passando sem acabar jamais. É claro que, se Você imagina assim a vida eterna, surge logo a Pergunta: como preencher todo este tempo? como evitar o tédio de ver sempre a mesma coisa?Mas a vida eterna não é uma sucessão infinita de instantes. É justamente o fim de todo tempo. Com a morte termina a existência temporal, mas resta o que foi construído de definitivo durante ela. Deus colhe a nossa vida como o fruto de toda a nossa história. Se o fruto é bom, ele o guarda com carinho. Se é imprestável, joga-o fora. O que tem caráter definitivo na nossa história pessoal é a atitude que tomamos diante da vida, em relação a Deus, aos outros e ao mundo. Esta atitude é determinada pela nossa liberdade. O conjunto de nossas decisões responsáveis supera a linha do tempo e projeta-se na eternidade de Deus, como fruto de nossa história.Quem é acolhido na presença de Deus, porque creu no seu amor e perdão, sente-se em sintonia perfeita com aquele que ama. Esta comunhão de amor, fonte de alegria sem limite, é a vida eterna. Não se trata de um encontro que dura sem parar, mas de um momento único de plenitude da criatura, abraçada por seu Criador e Salvador. A felicidade do céu consiste na realização plena da pessoa humana graças à comunicação da própria vida divina. Esta é naturalmente uma simples tentativa de explicar o que não podemos imaginar. Como diz S.Paulo: "O olho não viu, o ouvido não escutou, nem o coração humano imaginou, o que Deus preparou para aqueles que o amam" (ICor 2,9).Esta comunhão de amor com Deus e com todos os que ele acolhe na sua presença se exprime no louvor maravilhado e na gratidão jubilosa. Mas não se trata de uma ação que se desenrola aos poucos e vai-se repetindo indefinidamente. Deus, ao comunicar-se, preenche de uma vez com sua felicidade todas as profundezas do nosso ser, suscitando imediatamente uma resposta única e definitiva de adoração e louvor.A experiência do amor humano dá uma pálida idéia do que significa a eternidade desse momento de plenitude. Se não ansiamos por este encontro face a face com Deus, é porque nosso amor é ainda muito imperfeito. Estamos distraídos com muitas coisas e embaraçados por muitos apegos e preocupações. Precisamos ainda ser purificados para nos sentirmos atraídos pela beleza de Deus e desejarmos acima de tudo, como Paulo e outros enamorados de Cristo através da história, entrar em comunhão plena com ele.
João A. Mac Dowell S.J.
João A. Mac Dowell S.J.
EDITORA SANTUÁRIO
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