PADRE CLÓVIS DE JESUS BOVO CSsR
MANOEL PANTA REVIVE O TEMPO DO PE. PELÁGIO
Num certo dia de 1956 as famílias de Manoel Panta e João Dandico estavam reunidas para rezar o terço no silêncio de um barraquinho humilde. Ao redor, somente mato virgem, animais e pássaros reinando como senhores da situação. Assim começou a Vila São José, o mais antigo bairro de Campinas\Goiânia. Hoje Seu Manoel reside numa casa espaçosa e acolhedora com a esposa dona Alaíde e os filhos. Assim começou nossa entrevista com Manoel, história viva do bairro. Ele continuou:- O grande convento dos PP. Redentoristas já existia desde 1900, mas não havia outros moradores por perto. Há poucos anos, já bem arruinado e desabitado, foi desmanchado para dar lugar a um loteamento.Ele me faz lembrar os mosteiros de antigamente: Grande construção na forma de um quadrilátero, com grossas paredes de adobe, e um espaço livre com a cisterna no meio. Tinha muitos quartos ou celas porque, além dos padres e irmãos residentes, hospedavam-se lá muitos religiosos de passagem. Havia outras dependências próprias de um convento como: biblioteca, sala de estar, capela doméstica, refeitório, cozinha etc.Na frente do edifício havia uma capela para o povo e os romeiros que por ali passavam com destino para Trindade. Esta capela é a única construção que ainda existe. Foi restaurada recentemente pelo governo.Os arredores eram como uma grande fazenda, onde se produzia de tudo, graças à ao espírito empreendedor dos padres e irmãos alemães: plantações, gado leiteiro, energia elétrica, cocheira para os animais de montaria, fabricação caseira de rapadura, açúcar, farinha, etc.
O guarda fardado
Seu Manoel contou um fato pitoresco a respeito do pomar dos padres:- Tanta fartura atraía a meninada que não dava sossego para os pés de manga, de laranja, de jabuticaba etc... Um tal João Malanddro era o chefe da garotada. Para espantar os pequenos importunos, alguém colocou um guarda apontando com uma espingarda, postado num lugar estratégico do pomar. Na primeira escalada do muro, ele os assustou e recuaram espavoridos. Mas numa segunda tentativa de entrar no pomar, perceberam que o guarda continuava na mesma posição, com a espingarda em riste e constataram: Aquilo era apenas um espantalho. Mais tarde aprenderam a pedir em vez de invadir. Depois entramos no tema do Pe. Pelágio e sua convivência com ele. - O senhor o conheceu?- Muito. Era de casa. Educadíssimo. Dava atenção para todos. Suas bênçãos eram famosas. Sei de uma moça tristonha e calada, que não dormia e nem se alimentava. Ninguém sabia o motivo. Bastou o padre dar-lhe uma benção para ela voltar a ser uma pessoa normal.Minha filha Carmen Lúcia, de 8 anos, tinha uma amizade profunda com o Pe. Pelágio. Tão profunda e tão misteriosa que, quando ele morreu, ela chorou dia e noite, durante uma semana. Desde aquele dia ela foi declinando, declinando até morrer também, um ano depois.Mostrou-nos seu retratinho, cuja lembrança nos comoveu também.Seu Manoel, memória viva desse bairro que hoje deve ter seus dez mil habitantes, guarda um livro de atas e anotações que constitui uma fonte preciosa para pesquisa dos historiógrafos. Vale a pena continuar as pesquisas em torno deste bairro que hoje é praticamente uma cidade.
Na foto: Manoel e Alaíde
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