BENEDITO CELSO A. FRANCO
Seria um exagero comparar as disputas pelo poder no Congresso com as guerras de quadrilhas pelos pontos de venda de drogas nas favelas cariocas?
Só porque uns vendem crack e cocaína e outros, privilégios e ilegalidades?
Guerra é guerra, vale tudo na disputa pelos pontos de poder. Se um tiroteio é de balas, o outro é de números e nomes; mas sempre sobram balas perdidas. Mas, quando o cerco aperta, os dois bandos acertam um armistício: o verdadeiro inimigo é a Policia. Ou, no caso do Senado, a opinião pública.
Porque eles não temem a polícia. Nem a justiça. Eles só tem medo de perder eleição.(N.Mota)
CONGONHAS
Sô Leandro
À noite, na casa do Sô Leandro, tinha eu as primeiras aulas e noções de música – na rua da Serraria, Cel. Fabriciano. Adorava escutar e seguir a banda do Sô Leandro, talvez por eu ser neto do Sô Pedro Araujo, tocador de tuba. Vovô Pedro formava um conjunto perfeito com a tuba: os dois parrudos e do mesmo tamanho!
No Seminário, em Congonhas, quando entrei para o primeiro ano - fiz antes o admissão - pedi para entrar nas aulas de piano ou harmônio e não consegui. Em capas de cadernos desenhei um teclado; colocava-o em cima da carteira e tocava, ou melhor, dedilhava minhas supostas músicas. Padre Lima, que me vetara para aprender piano ou harmônio, vendo aquele piano em cima de minha carteira, compadeceu-se de mim, encaixou-me numa aula de harmônio, tendo como meu primeiro professor o Padre Penido. Dom Lara e o Padre Henrique posteriormente foram também meus professores.
Tomava parte no coro e na Schola Cantorum, uma turma dos doze melhores cantores especializada em canto gregoriano – Pe Anselmo e Pe Borges os regentes.
Na banda de música, a furiosa, tocava saxofone, em mi bemol – aquele reto - mas gostava de experimentar todos os seus instrumentos ou regê-la de quando em vez.
Em casa tenho um piano que foi do Seminário, que os Padres Redentoristas deram para a Celma, minha irmã, e ela passou para mim. Esse piano, francês de 1932, tem cepo de madeira, um som suave e doce – tipo do que Beethoven aperfeiçoou – pode ser desmontado em segundos – pena que desafina no tempo de chuva – a madeira incha e as cordas bambeiam.
Qui bene cantat, bis ora!
Quando tinha uns sete anos, Padre Deolindo chamou-me para ser coroinha e ensinou-me as respostas da missa - tudo em latim.
Eu papagaiava meu latinorum, sem mesmo entender que havia o latim ou outro idioma. Graças a Deus que o Concílio Vaticano Segundo (1962-1965) substituiu o latim pelos idiomas locais!
Indo para o Seminário de Congonhas, nos sermões ouvia duas frases constantes e marcantes: uma era esta de Santo Agostinho (354-430 aD), pois logo fui ser cantor no coro orfeônico: Qui bene cantat, bis ora - Quem canta bem reza duas vezes.
Na leitura do latim, a consoante final de uma palavra se liga à vogal inicial, se a houver, da palavra seguinte. Ouvia a frase de Santo Agostinho... e aquele bisora (bis ora) não me saía da cabeça. Como o Padre não traduzia, quase todos, eu não, entendiam - ficava eu grilado e procurando saber o que tinha a ver cantar com besouros! Pelo menos se fosse grilo!...
A outra era a frase de Santo Afonso Maria de Ligório, fundador da Congregação Redentorista - um dos sábios Doutores da Igreja, cujos livros já tiveram mais de um milhão de edições: Quem reza se salva, quem não reza se condena.
Numa das visitas que mamãe me fez, levou-me um belo livro, Meditações, escrito por Santo Afonso. Nesse livro, o inferno é descrito e pintado com cores tão vivas, dignas do Dante, que eu até tremia e me arrepiava quando lia algumas dessas meditações – com meus pecadinhos juvenis, chegava a sentir um pouco o calor do fogo do inferno.
O latinorum da missa!
O Concílio Vaticano Segundo (1962-1965) substituiu o latim pelos idiomas locais na liturgia - acabando com o latinorum das missas e das liturgias da Igreja. Aliás, obrigou-se o Padre a celebrar a missa em sua língua pátria. Hoje, o Papa Bento XVI determinou que é permitido rezar missa em latim – eu gostaria de assistir a uma dessas!
E não era só a missa em latim, com o Padre dando as costas para o público, que o fiel deveria suportar: havia também o latim do batizado, da extrema unção ou da encomendação fúnebre, da crisma e de tudo mais da igreja.
Para a gente comungar, deveria ser em jejum absoluto – já viu que missa à noite não havia, só até ao meio-dia! E não se podia tocar na hóstia e muito menos tomar o vinho, como hoje acontece muitas vezes.
E ainda diziam pra gente que as rezas em latim, só de ouvi-las, valiam mais que as rezadas em português! Dá pra entender?... Nem a ordem e muito menos o latinorum!
No Seminário eu falava para os padres que preferia rezar em português.
Benedito Franco
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