PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR
Escolhidos por Jesus
Jesus, ao escolher seus discípulos, o faz de modo sério. Nós fazemos uma pesquisa sobre quem queremos escolher, tiramos informações, fazemos testes e colocamos tempo de prova. Jesus tem outro jeito de fazer a escolha dos seus. Em Lucas 16,12-16 podemos ler: “Jesus subiu a montanha para rezar e passou a noite em oração. Quando amanheceu o dia, chamou a si seus discípulos e deles escolheu 12, aos quais deu o nome de apóstolos...”. Passou a noite em oração. Jesus dá grande valor a essa escolha. Quer saber a opinião do Pai. Tem-se a impressão de que Ele confirma a eterna escolha que o Pai fez dEle, para dar-se as condições para escolher os outros que vão continuar sua presença e missão. Ser discípulo, seguidor de Jesus, é ser fruto de uma escolha de Deus, não só uma opção pessoa em nível puramente humano. Ser discípulo, mais que uma missão, é a participação no afeto que Jesus tem por seu Pai, o que O sustenta em sua missão. Ser discípulo é ser centrado no coração orante de Jesus nas longas horas de encontro com o Pai. Por isso a vida dos discípulos só se entende em seu relacionamento com Jesus que ama seu Pai. Ser escolhido é ter recebido o dom de converter-se e responder ao olhar de Jesus como ocorre com Mateus. É ouvir a palavra ‘vêm e vê’, como em André. Dos discípulos Jesus tira 12. Eles não são privilegiados nem podem dispor da comunidade. Enquanto discípulo, também eles são chamados a seguir Jesus e a uniformar-se em tudo e para tudo a sua Palavra.
Enviados à multidão
Os discípulos de Jesus são enviados e missionários por natureza. É da identidade do discípulo levar aos outros a Palavra de Jesus. É chamado e enviado. O discípulo foi chamado ao monte com Jesus, mas deve descer com Ele à planície onde está a multidão e colocar-se a seu serviço. É no meio do povo que vive o discípulo e faz outros discípulos. Ser discípulo de Jesus significa encontrar Jesus, nutrir-se de Sua palavra, viver em comunhão com Ele e, ao mesmo tempo, estar no meio do povo como lugar de esperança, de salvação e libertação. Jesus faz assim porque seu Pai sempre fez assim , pois desceu porque viu o sofrimento do povo. O mundo e a Igreja gostam de tronos e altares altos, longe do povo. Jesus ama também a planície onde está junto do povo. Assim deve ser o discípulo.
Com olhar misericordioso
Como identidade do discípulo, seguidor de Jesus, está também a misericórdia. Poder-se-ia dizer: amar com os olhos fechados. Se alguém lhe toma o manto, dê-lhe também a túnica (Lc 6,29). Não só suportar, mas adiantar-se na misericórdia. A parábola do bom samaritano é a expressão da vida de Jesus e deve ser a vida do discípulo. O modelo é exato: “Sede misericordiosos como é misericordioso o Pai que está nos Céus”. Quando se fala de amor de Deus para com a humanidade, não se pode buscar a lógica nem medir. Jesus foi tido como louco pela própria família (Mc 3,21). Deus ama porque é amor e não porque deve amar. A misericórdia deve ser a rainha da Igreja. Um dia, numa reunião dos agentes de pastoral, eu disse que precisamos ter misericórdia com o povo. Uma freira, formada em ciências sociais, disse: “Não podemos fazer um plano pastoral baseado na misericórdia”. Estava a meu lado um sacerdote bem velhinho. Ele disse com seu sotaque: “Vochê tem rajão”. Podemos perguntar em que Jesus baseava seu plano de atividade.
Art.nº429 - Setembro/2005
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