PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR
Jesus, na última ceia, lavou os pés dos discípulos. Quando chegou a Pedro, este lhe disse: “Senhor, Tu jamais me lavarás os pés”! Jesus lhe diz: “Se eu não lavar teus pés, não terás parte comigo” (Jo 13,8). Deixar-se lavar os pés pode significar também aceitar ser amado e servido. Normalmente falamos de amar, de doar-se, de servir. Mas é necessário ter a humildade de retribuir o gesto do amor, amando quem nos ama. Essa retribuição é o multiplicar o amor. É o reconhecimento de que Cristo está nos amando. Vejamos a serenidade de Jesus ao deixar-se tocar e amar pela pecadora. “Seus numerosos pecados lhe serão perdoados porque ela demonstrou muito amor” (Lc 7,47). Quando a irmã de Lázaro unge Jesus com um perfume de nardo puríssimo, Judas reclama do desperdício. Jesus lhe diz: “Deixai-a ... onde o evangelho for pregado, em todo o mundo, também o que ela fez será contado em sua memória” (Mt 26,13). O gesto de amor tem raízes na eternidade e jamais será esquecido por Deus, pois é a ele que foi feito. O mal poderá ser esquecido, o amor, jamais. Não se trata só de corresponder a um gesto de um amigo, mas de acolher o amor de Deus que ele encerra e manifesta. Acolher não como um ato simplesmente humano, mas divino. “Deus nos amou e nos deu seu Filho” (Jo 3,16). “Todos os que acolheram esse gesto de Deus recebem graça sobre graça” (Jo 1,16). Ser amado por Deus é o dom fundamental que podemos acolher. Esse amor de Deus vem a nós pelas pessoas. Elas são o canal que Deus usa para nos amar. Nós, se recusarmos o amor que nos é oferecido, não teremos parte no amor.
Multiplicar o amor
O amor é vivo e eficaz, tem uma energia transformadora que nada pode resistir. É uma onda que atinge todas as margens do lago da existência. Sua força aumenta e se avoluma. Assim é o amor que recebemos. Passa adiante e torna-se uma torrente. Temos visto no mundo, como o mal cresce. Mas, o amor quando é acolhido cresce muito mais. Amar não só em retribuição por sermos amados. Jesus diz que “aqueles que amam só os que os amam, que proveito tiram disso?” (Mt 5,46). Mas amar os que nos amam e passar o amor adiante é acreditar que o amor é divino. Esse é o segredo da construção de um mundo novo. Quando fazemos o bem a alguém, a esperança que temos é que a pessoa levará adiante esse bem. Essa é a razão que nos leva a acreditar no valor do amor a todas as pessoas. O gesto humilde de servir e acolher quem nos serve e ama é a realização do Reino de Jesus.
Cultura do amor
Muitos modos de compreender o mundo e a vida tornam-se uma cultura que acaba por entranhar-se na vida das pessoas e passa a ser uma verdade. Assim podemos ver a questão da violência, da corrupção, dos muitos modos de imoralidade. “Todo o mundo faz assim!” O grande projeto de Jesus é criar a cultura do amor. Essa tem uma força transformadora. Por exemplo: algumas pastorais da Igreja, como a pastoral da criança, que é fruto do amor tornaram-se uma realidade e algo normal em quase todas as paróquias. É o amor que transforma. O mesmo se diga das outras pastorais. As pastorais tornaram-se um modo de ser de nossas comunidades. O amor vence tudo. O amor jamais passará (1Cor 13,8)
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Art.nº437 - Setembro/2005
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