Alguns dias atrás fui ao Mineirão para ver o Ronaldo. Como vi os maiores jogadores, como o Pelé, Garrincha, Didi, Nilton Santos, Reinaldo e Castilho, faltava o Ronaldo. Decepcionei-me com o Mineirão: sujeira por todo lado, banheiros de botequins de última categoria. Sentei-me em frente às cabines de rádios, no rumo da linha que divide o campo, no meio da torcida do Cruzeiro – sou atleticano...
É terrível como a torcida grita palavrões – os normais, os impublicáveis e os impensáveis – desrespeitam as inúmeras senhoras e senhoritas, não falando numa imensa quantidade de crianças. Acho que a torcida detesta até mesmo seus jogadores! Como são xingados!
Realmente, quando o Ronaldo pega a bola é um deus-nos-acuda para o time adversário – é como jogar uma pedra numa caixa de marimbondos! Enfim, no campo havia Ronaldo e mais 21... Valeu, mas não recomendo alguém a ir ao estádio.
- Pico do Itabirito
Naquele dia de São Marcos, 25 de abril, uma surpresa: um passeio ao Pico do Itabirito - 1.586 metros de altitude e a 20 km da cidade de Itabirito, MG. Adorado pelos povos primitivos da região, pela pompa tornou-se o Monte Sagrado. Inspirava a presença de deuses, fazendo a idolatria de indígenas que se reuniam em torno da enorme pedra, constituída de pura hematita (Do Gr. haîma = sangue + Do Tupi ita = pedra) Pedra de Sangue. O Pico é tombado pelo Patrimônio Natural Estadual, mas, para visitá-lo, é necessário autorização da MBR. Apesar do tombamento, está sendo desmontado por essa mineradora, nem sempre com espírito de conservação da natureza ou espírito nacionalista - e os itabiritenses deixam!... Vai acontecer o que aconteceu com os itabiritanos: perderam o Pico Cauê - a Vale do Rio Doce o desmontou!
Um dia os itabiritenses só verão o Pico do Itabirito nas antigas fotografias, no brasão da cidade ou em sua bandeira! Acordem!
Quando quiserem ver horrendos crimes ambientais, passem pela estrada de Mariana a Catas Altas, ou de Congonhas a Belo Vale – nossa imprensa se cala! A Vale deixa as serras e vales valendo nada!... e ainda se diz cada vez mais verde e amarela!
A viagem
Estudávamos num colégio interno, dos Padres Redentoristas, em Congonhas.
As mochilas preparadas e os caminhões, com tábuas atravessadas nas carrocerias, serviam de bancos, esperando-nos. Os chauffeurs, o Sô Geraldo e o Barbosa, bons profissionais, apesar dos caminhões de marcha seca e dura e da estrada de terra, cascalhada com pedra de minério de ferro. Não havia ônibus.
Entramos na antiga estrada de terra vermelha, rumo ao Pires, e daí seguimos pela BR 040, com promessa de ser asfaltada em breve. O Viaduto das Almas pronto - à época, uma das Sete Maravilhas do mundo, pelo menos para nós - conhecíamos apenas pontes de madeira. Mais ou menos na hoje entrada para Moeda, seguimos à direita até o pé do Pico do Itabirito.
Viagem agradável, apesar dos trancos e solavancos dos caminhões - ou trancos e barrancos, como dizíamos - estávamos acostumados. Cantávamos em coro e conseguíamos até cantar músicas executadas pelo nosso coro, a duas, três ou mesmo a quatro vozes – “Luar do sertão”, “Va, pensiero...”, “Tantum ergo” e outras muitas. Coro ótimo - fui organista durante algum tempo, chegando a regê-lo e à pequena banda de música do colégio.
Nunca fui um grande músico - um músico razoável que gostava de experimentar todos os instrumentos da bandinha - a furiosa! - e adorava o órgão - nem era órgão e, sim, um harmônio - mas, era chamado de organista. O harmônio é um pequeno órgão, cujo fole é tocado com os próprios pés do organista - os órgãos de hoje são eletrônicos.
Chegando ao monte, gigante de minério de ferro, despontando num planalto, talvez da altura do Pão de Açúcar, montávamos acampamento a seus pés. É lindo contemplá-lo de perto, debaixo de suas barbas - dá mesmo a sensação de sua grandeza e da grandeza de Quem o fez.
Os colegas cozinheiros permaneciam no sopé para preparar a comida - iam prontos: o arroz, o feijão, tomate inteiro, picado na hora, farofa e carne em forma de almôndega. Levávamos os talheres, pratos e canecas de alumínio - ainda não existiam os de plástico.
Cada um tinha seu cantil com água.
Fôlego!
Começava a subida, pela parte traseira, em fila indiana, e o chefe à frente.
Sempre apressado e afoito para essas coisas, procurava ir à frente, inclusive conversando com o chefe - assim chamado o colega mais velho que puxava a fila - mais experiente e, assim, andando, observando e tomando conhecimento de coisas novas. Normalmente, é bom aproveitar a oportunidade e descobrir que mais e mais todos nós temos coisas a aprender.
Cada vez mais íngreme o caminho, despontando um horizonte de cinema. Num certo trecho, a trilha bifurcava. O chefe por uma, alguns poucos colegas e eu por outra. Resultado: saímos bem à frente do chefe e seus seguidores. Jovens e afoitos, com a satisfação de estarmos à frente de todos, resolvemos apressar os passos, morro a cima - para não nos perdermos era só olhar para o alto e seguirmos; aliás, não tinha como se perder, só subir e subir, chegava-se ao cimo do monte.
Encimando o Pico do Itabirito, duas pontas, cá de baixo parecem pequenas - são morros altos. Num raio de 50 km, ou mais, vê-se puro minério de ferro. Passando pela BR 040, Rio-Brasília, observam-se as pontas e o minério da região.
Chegando ao alto, antes de todos, parti para uma das pontas, a maior das duas. Uma vista maravilhosa, dando a impressão de perceber até a curvatura da terra. Em baixo, a fila indiana, com mais de 150 colegas e, no final, talvez ainda no meio do caminho, o Padre Diretor - Padre Marcos Gabiroba.
Dei um assobio; não sou muito bom nisso, mas saiu às mil maravilhas. Com o eco da serra, o Padre Diretor escutou - pude perceber, olhou para o alto.
Apesar de longe, alguém deve ter falado para ele que era eu. Determinou, ordem imperativa mesmo, e o pessoal foi gritando morro a cima:
- Benedito, fique de joelhos aí, com os braços abertos, até que eu chegue!
Gente, como meus joelhos doeram!...
Benedito Franco
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