(JANDAIA)
A ÉTICA E A FUNDAMENTAÇÃO DOS VALORES.
Diferente da ética kantiana, a ética dos valores não busca o valor no dever ser mas no ser. Tudo o que existe tem valor. Logo, no dever também se encontra um valor. As ações humanas têm sentido porque se fundamentam em um valor. O sujeito valorizará as coisas que apresentam valor para ele e renegará aquelas destituídas de valor. O valor pode ser visto de forma epistemológica e também ontológica. Epistemologicamente, as coisas valem mais ou menos dependendo do conhecimento. A consciência cria os valores conforme sua conveniência. Ontologicamente, o sujeito não cria os valores, mas sim procura extraí-los das coisas. O valor já existe nas coisas e não na imaginação do sujeito.
No tratado dos valores, podem ser observados o valor real e o valor ideal. Para a filosofia, o ser real corresponde a tudo aquilo que ocupa lugar no tempo e no espaço. Sendo assim, o ser real é objeto do conhecimento sensível. Podem ser atribuídas como conhecimento sensível todas as decisões concebidas por um sujeito humano: os atos da vontade, as sensações, os juízos de valores, a responsabilidade, a consciência de seus atos bons e atos culposos e tantas outras atitudes da consciência. O ser ideal é aquele intuído, criado pela racionalidade, experimentado pela sensibilidade, aquele que transcende o ser real. Ideal é o ser que está no plano da idealidade objetiva e não só como algo subjetivo. Para melhor compreensão desta questão, em seguida iremos apresentar os valores dentro de uma hierarquia e provavelmente haverá maior esclarecimento do que seja ser real e ser ideal. Para facilitar a compreensão, apresentaremos a escala de valores de Max Scheler: “Um valor é tanto mais alto: a) quanto mais duradouro é; b) quanto menos participa da extensão e da divisibilidade; c) quanto mais profunda é a satisfação ligada à intuição do mesmo; d) quanto menos fundamentado se acha por outros valores; e) quanto menos relativa seja sua percepção sentimental à posição de seu depositário” (NALINI, 1999. p. 59). É na duração do valor que está a sua permanência. As coisas valem mais se não podem ser divididas e possuem consistência em si mesmas. Se o objeto tem valor em si mesmo, logicamente vale mais. Se não tem valor em si mesmo, o valor deve ser buscado em outro. Se o valor for apreciado por um número maior de indivíduos, é sinal de que possui um alto valor. O valor é algo que garante a satisfação ao sujeito. A satisfação indica o prazer. Quanto mais agrada e satisfaz o objeto, maior será o seu vínculo de agradabilidade. Os valores podem ser vistos como relativos e como absolutos. Relativos são os valores temporários. Exemplo: os valores materiais, os científicos, os artísticos etc. Absolutos são os valores perenes. Exemplo: os valores morais, a espiritualidade e outros.
Tomando a escala de valores apresentada por Max Scheler, podem ser apreciados, segundo ele, os seguintes valores: a) os agradáveis que se relacionam com a vida e são experimentados por viventes. Estes são chamados de valores relativos. b) os puros que são considerados valores absolutos e constituem os valores morais. Para Scheler, a hierarquia dos valores pode ser vista da seguinte forma: “valores úteis (adequado, inadequado, conveniente, inconveniente); valores vitais (forte, fraco); valores lógicos (verdade, falsidade); valores estéticos (belo, feio, sublime, ridículo); valores religiosos (santo, profano); valores éticos (justo, injusto, misericordioso, desapiedado)”(NADER, 2004. p. 51; NALINI, 1999. p. 59). Certamente, esta escala de valores para Scheler obedece a preferência do sujeito, de acordo com suas definições para os valores absolutos ou relativos. Para um religioso, o maior valor será o religioso; para um utilitarista, a tendência será o valor útil e assim por diante. Os valores chegam para nossos espíritos como um leque de variadas opções. Ordenamos os valores de acordo com nossa ordem de preferência. É vivendo que o homem valora as coisas. De acordo com os seus planos ele cria os meios que garantem sua existência e procura afastar-se do mal e aproximar-se do bem. Ao buscar o valor, o homem encontra o permanente, o positivamente valioso e que atende às reais necessidades do ser racional. Ao buscar o desenvolvimento, a moral analisa os fatos novos e adota outros valores que sejam adequados à realidade alcançada. O comportamento ético somente será possível se houver a liberdade como algo permanente e indissociável do ser racional. Os valores são indissociáveis do Direito Natural e não resistirão às controvérsias humanas, se no ambiente onde estes se apresentam não houver o cultivo dos princípios fundamentais do Direito: a igualdade, a legitimidade, a liberdade, o bem e a verdade.
O conhecimento dos valores constitui a largueza do sentido do valor. É tarefa dos dirigentes sociais desenvolverem a sensibilidade e entendimento de seus dirigidos para que estes conheçam o que é relevante eticamente. Quando estudamos as possibilidades em aguçar a sensibilidade e a racionalidade, este é o momento de despertar nos participantes a aproximação destes para a objetividade dos valores. Os valores surgem no momento em que a consciência estimativa do sujeito testemunha a existência destes valores. Ao estimar o que é valoroso, o juízo moral apresenta ao sujeito os chamados “sentimentos de responsabilidade e a consciência de culpa” (NALINI, 1999. p. 6). Os valores situam-se na esfera ética real. Eles existem em mim porque eu os criei em mim, utilizando as potencialidades de minha intuição, meus sentidos e racionalidade. O homem é o administrador dos valores que estão em si. A realização dos valores no sujeito exige que ele desenvolva o dever para seus atos. Já estudamos em Kant que o valor ético depende da construção da vontade. A vontade é guiada pela razão. É fundada no imperativo categórico do “tu deves”. Para Max Scheler e Nicolai Hartmann, o pensamento de Kant aparece invertido. Para eles, o dever exige que existam os valores. Os valores não se fundamentam no dever, mas é o dever que tem origem nos valores. Especificamente, Hartmann apresenta o dever ser através dos seguintes princípios: o homem está em busca de um valor e firma o ideal para seu viver (dever ser) neste valor real. A busca do que é valioso atualiza no homem o dever ser. O chamado dever ser representa a honestidade intelectual e afasta do homem valores (ou anti-valores) que não devem ser realizados. O dever é um fim. Na busca deste fim, o agente exercita o seu ser e movimenta sua intuição e vontade.
Não é tão simples experimentar o dever como um fim. Esta tarefa exige três momentos decisivos para o sujeito, afirma Hartmann: a) o sujeito se projeta para o futuro em busca de realização; b) ao buscar os fins, a consciência humana elege os meios necessários conforme sua decisão valorativa; c) o fim atingido é o efeito. Os meios são as causas. A junção dos meios com o fim resulta na realização individual. Os momentos decisivos de que Hartmann nos adverte somente serão possíveis se houver liberdade moral. A verdadeira liberdade moral somente será possível se a decisão individual puder contar com a existência de leis. Havendo a liberdade moral, haverá o crescimento da ética.
A ÉTICA E A FUNDAMENTAÇÃO DOS VALORES.
Diferente da ética kantiana, a ética dos valores não busca o valor no dever ser mas no ser. Tudo o que existe tem valor. Logo, no dever também se encontra um valor. As ações humanas têm sentido porque se fundamentam em um valor. O sujeito valorizará as coisas que apresentam valor para ele e renegará aquelas destituídas de valor. O valor pode ser visto de forma epistemológica e também ontológica. Epistemologicamente, as coisas valem mais ou menos dependendo do conhecimento. A consciência cria os valores conforme sua conveniência. Ontologicamente, o sujeito não cria os valores, mas sim procura extraí-los das coisas. O valor já existe nas coisas e não na imaginação do sujeito.
No tratado dos valores, podem ser observados o valor real e o valor ideal. Para a filosofia, o ser real corresponde a tudo aquilo que ocupa lugar no tempo e no espaço. Sendo assim, o ser real é objeto do conhecimento sensível. Podem ser atribuídas como conhecimento sensível todas as decisões concebidas por um sujeito humano: os atos da vontade, as sensações, os juízos de valores, a responsabilidade, a consciência de seus atos bons e atos culposos e tantas outras atitudes da consciência. O ser ideal é aquele intuído, criado pela racionalidade, experimentado pela sensibilidade, aquele que transcende o ser real. Ideal é o ser que está no plano da idealidade objetiva e não só como algo subjetivo. Para melhor compreensão desta questão, em seguida iremos apresentar os valores dentro de uma hierarquia e provavelmente haverá maior esclarecimento do que seja ser real e ser ideal. Para facilitar a compreensão, apresentaremos a escala de valores de Max Scheler: “Um valor é tanto mais alto: a) quanto mais duradouro é; b) quanto menos participa da extensão e da divisibilidade; c) quanto mais profunda é a satisfação ligada à intuição do mesmo; d) quanto menos fundamentado se acha por outros valores; e) quanto menos relativa seja sua percepção sentimental à posição de seu depositário” (NALINI, 1999. p. 59). É na duração do valor que está a sua permanência. As coisas valem mais se não podem ser divididas e possuem consistência em si mesmas. Se o objeto tem valor em si mesmo, logicamente vale mais. Se não tem valor em si mesmo, o valor deve ser buscado em outro. Se o valor for apreciado por um número maior de indivíduos, é sinal de que possui um alto valor. O valor é algo que garante a satisfação ao sujeito. A satisfação indica o prazer. Quanto mais agrada e satisfaz o objeto, maior será o seu vínculo de agradabilidade. Os valores podem ser vistos como relativos e como absolutos. Relativos são os valores temporários. Exemplo: os valores materiais, os científicos, os artísticos etc. Absolutos são os valores perenes. Exemplo: os valores morais, a espiritualidade e outros.
Tomando a escala de valores apresentada por Max Scheler, podem ser apreciados, segundo ele, os seguintes valores: a) os agradáveis que se relacionam com a vida e são experimentados por viventes. Estes são chamados de valores relativos. b) os puros que são considerados valores absolutos e constituem os valores morais. Para Scheler, a hierarquia dos valores pode ser vista da seguinte forma: “valores úteis (adequado, inadequado, conveniente, inconveniente); valores vitais (forte, fraco); valores lógicos (verdade, falsidade); valores estéticos (belo, feio, sublime, ridículo); valores religiosos (santo, profano); valores éticos (justo, injusto, misericordioso, desapiedado)”(NADER, 2004. p. 51; NALINI, 1999. p. 59). Certamente, esta escala de valores para Scheler obedece a preferência do sujeito, de acordo com suas definições para os valores absolutos ou relativos. Para um religioso, o maior valor será o religioso; para um utilitarista, a tendência será o valor útil e assim por diante. Os valores chegam para nossos espíritos como um leque de variadas opções. Ordenamos os valores de acordo com nossa ordem de preferência. É vivendo que o homem valora as coisas. De acordo com os seus planos ele cria os meios que garantem sua existência e procura afastar-se do mal e aproximar-se do bem. Ao buscar o valor, o homem encontra o permanente, o positivamente valioso e que atende às reais necessidades do ser racional. Ao buscar o desenvolvimento, a moral analisa os fatos novos e adota outros valores que sejam adequados à realidade alcançada. O comportamento ético somente será possível se houver a liberdade como algo permanente e indissociável do ser racional. Os valores são indissociáveis do Direito Natural e não resistirão às controvérsias humanas, se no ambiente onde estes se apresentam não houver o cultivo dos princípios fundamentais do Direito: a igualdade, a legitimidade, a liberdade, o bem e a verdade.
O conhecimento dos valores constitui a largueza do sentido do valor. É tarefa dos dirigentes sociais desenvolverem a sensibilidade e entendimento de seus dirigidos para que estes conheçam o que é relevante eticamente. Quando estudamos as possibilidades em aguçar a sensibilidade e a racionalidade, este é o momento de despertar nos participantes a aproximação destes para a objetividade dos valores. Os valores surgem no momento em que a consciência estimativa do sujeito testemunha a existência destes valores. Ao estimar o que é valoroso, o juízo moral apresenta ao sujeito os chamados “sentimentos de responsabilidade e a consciência de culpa” (NALINI, 1999. p. 6). Os valores situam-se na esfera ética real. Eles existem em mim porque eu os criei em mim, utilizando as potencialidades de minha intuição, meus sentidos e racionalidade. O homem é o administrador dos valores que estão em si. A realização dos valores no sujeito exige que ele desenvolva o dever para seus atos. Já estudamos em Kant que o valor ético depende da construção da vontade. A vontade é guiada pela razão. É fundada no imperativo categórico do “tu deves”. Para Max Scheler e Nicolai Hartmann, o pensamento de Kant aparece invertido. Para eles, o dever exige que existam os valores. Os valores não se fundamentam no dever, mas é o dever que tem origem nos valores. Especificamente, Hartmann apresenta o dever ser através dos seguintes princípios: o homem está em busca de um valor e firma o ideal para seu viver (dever ser) neste valor real. A busca do que é valioso atualiza no homem o dever ser. O chamado dever ser representa a honestidade intelectual e afasta do homem valores (ou anti-valores) que não devem ser realizados. O dever é um fim. Na busca deste fim, o agente exercita o seu ser e movimenta sua intuição e vontade.
Não é tão simples experimentar o dever como um fim. Esta tarefa exige três momentos decisivos para o sujeito, afirma Hartmann: a) o sujeito se projeta para o futuro em busca de realização; b) ao buscar os fins, a consciência humana elege os meios necessários conforme sua decisão valorativa; c) o fim atingido é o efeito. Os meios são as causas. A junção dos meios com o fim resulta na realização individual. Os momentos decisivos de que Hartmann nos adverte somente serão possíveis se houver liberdade moral. A verdadeira liberdade moral somente será possível se a decisão individual puder contar com a existência de leis. Havendo a liberdade moral, haverá o crescimento da ética.
REFERÊNCIAS.
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando Introdução à Filosofia. 2 ed. São Paulo: Moderna, 1995.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômacos. Brasília: EdUNB, 1992.
BENTHAN, Jeremy. Uma introdução aos princípios da moral e da legislação. In: Pensadores. 2 ed. Trad. de João Baraúna. São Paulo: Abril Cultural, 1979.
BÍBLIA DE JERUSALÉM. 1990.
CAVALCANTI, Afonso de Sousa. A política no confronto entre os pensamentos de Thomas Hobbes e John Locke: por uma ética política. 2 e. Mandaguari: Arte Final Gráfica e Editora, 2001. 120 p.
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 9 e. São Paulo: Ática, 1997.
KANT, Emmanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. São Paulo: Abril Cultural, 1974.
LOPES, Maurício Antonio Ribeiro. Ética e administração pública. São Paulo: RT, 1993.
MARTINS, Ives Gandra da Silva. Ser cidadão. Folha de São Paulo de 26/01/1997
MÁYNEZ, Eduardo García. Ética de bens. Ética formal. Ética valorativa. 18 ed. México: Porrua, 1970.
MILL, John Stuart. Utilitarismo. Londres: Everyman’s Library, 1936.
NALINI, José Renato. Ética Geral e profissional. 2 e. São Paulo: Editora Revista dos tribunais, 1999.
REALE, Giovanni e ANTISESERI, Dario. História da Filosofia. V. I, II e III. 2 ed. São Paulo: Paulus, 1991.
REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga, v. 1, São Paulo: Loyola, 1993.
REALE, Miguel. Filosofia do Direito. 19 ed. Saraiva: São Paulo, 1999.
WOITYLA, Karol. Max Scheler e a ética cristã. Curitiba: Editora Universitária Champagnat, 1993.
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