Frederico Haikal/Hoje em Dia
Tesouro encoberto pela água ressurge graças à estiagem
Torre central volta a se destacar na paisagem da Serra de Ouro Branco
OURO PRETO – Pode-se dizer que a longa estiagem dos últimos meses trouxe ao menos uma boa notícia aos mineiros. As ruínas de um templo católico, submerso por 38 anos após a construção de uma barragem, vieram à tona no distrito de Miguel Burnier, a 40 quilômetros do Centro de Ouro Preto. A torre principal e toda a estrutura do que um dia foi a casa de campo do Seminário Redentorista de Congonhas, construída em 1950, voltaram a compor a paisagem e a fazer, mais uma vez, parte da história de Minas.
A represa artificial, chamada lago Soledade, foi planejada pela antiga Açominas, adquirida posteriormente pela Gerdau. Com a temporada de seca, a água baixou mais de dez metros, expondo, além da torre, restos do telhado e parte da rudimentar alvenaria, feita de tijolos de adobe. Janelas e alguns pilares também podem ser contemplados. Próximo à margem, é possível notar encanamentos do que deveria ser um dos banheiros.
Morador de Ouro Branco, também na região Central, o historiador Jesu Joptemar Damacena tem reunido farto material sobre o templo religioso. As primeiras informações dariam conta de que a construção tem dois andares, com vários quartos de hospedagem. As acomodações eram utilizadas por seminaristas em férias ou por aqueles que participavam de cerimônias católicas em Miguel Burnier.
Campo
Segundo ele, é provável que outras construções também tenham sido tomadas pela água da represa. “Há relatos de alguns historiadores locais de que lá existiam dois campos de futebol, uma piscina, outra capela e, nos fundos da casa de campo, passava um ribeirão”, diz. Na época, o córrego seria conhecido como Garganta ou Funil.
O acesso ao local é difícil e restrito. É preciso andar cerca de 500 metros por uma trilha sinuosa, com poeira e mato alto. A torre teria aparecido no início deste mês.
A surpresa deixou moradores da região bastante eufóricos. Por alguns dias, o espaço se tornou a principal atração turística do distrito. Porém, quem ainda não viu dificilmente poderá admirar a descoberta.
Regras de acesso
Em nota, a Gerdau informou que o lago foi construído para utilização na produção industrial da usina de Ouro Branco. A água é reciclada em quase 100%. “Por questões de segurança industrial, a empresa reitera que a área não pode estar aberta a visitações. Somente deve ser acessada por pessoas autorizadas, com equipamentos de segurança e treinadas”, diz a nota.
O distrito de Miguel Burnier está na divisa das cidades de Ouro Preto, Ouro Branco e Congonhas. O lago Soledade fica aos pés da Serra de Ouro Branco, marco do início da cadeia do Espinhaço, região tomada pela extração de minério de ferro.
Lenda sobre fantasma de padre
Alguns moradores, principalmente de Ouro Branco, contam casos pitorescos sobre o local.
Um deles se refere ao espírito de um padre. Dizem que a alma penada ronda a região, após a meia-noite, trajando vestes pretas e assustando as pessoas.
O padre teria sido contrário à construção da barragem e resistido às autoridades da época, permanecendo no mosteiro.