Evangelho: João
18,1 – 19,42
JOSÉ ANTONIO PAGOLA
DIANTE DE JESUS
CRUCIFICADO
Seguindo
uma antiquíssima tradição romana, na Sexta-feira Santa não se celebra a
Eucaristia, mas uma solene liturgia que tem como centro a Paixão e Morte do
Senhor.
Sempre
me impressionou, dentro dessa celebração, a liturgia sóbria e profunda da
adoração da Cruz, de inspiração provavelmente oriental.
Em
primeiro lugar, o descobrimento progressivo do Crucificado e o repetido convite
à adoração. Depois, a procissão de todos os fiéis até a Cruz, enquanto se canta
um admirável hino: “Crux fidelis”. Finalmente, o beijo emocionado de cada
crente no Cristo morto.
Não é
um momento de tristeza. Para aqueles que creem, é momento de profundo
recolhimento onde se mesclam, de maneira difícil de expressar, o agradecimento, a adoração, o arrependimento.
Esse
grande teólogo e grande crente que foi Karl
Rahner nos desvelou sua alma orante neste precioso livro que leva o título
de “Orações de vida”. Talvez sua
oração possa nos ajudar, também, a aproximar-nos do Deus crucificado, nessa tarde
da Sexta-feira Santa:
«Aonde
poderia eu me refugiar com minha debilidade, com minha preguiça, com minhas
ambiguidades e inseguranças... senão em Ti, Deus dos pecadores comuns,
cotidianos, covardes, correntes?
Olha-me,
Senhor, vê minha miséria. Para quem poderia eu fugir senão a Ti?
Como
poderia suportar-me a mim mesmo se não soubesse que Tu me suportas, se não
tivesse a experiência de que Tu és bom comigo?
Meu
pecado não é grandioso, é tão cotidiano, tão comum, tão corrente que,
inclusive, pode passar inadvertido... Porém que nojo suscita minha miséria,
minha apatia, a horrível mediocridade de minha boa consciência.
Somente
Tu podes suportar tal coração.
Somente
Tu tens, ainda, para comigo um amor paciente.
Somente
Tu és maior que meu pobre coração.
Deus
santo, Deus justo, Deus que sois a Verdade, a Fidelidade, a Sinceridade, a
Justiça, a Bondade... tem compaixão de mim... Sou um pecador, porém tenho um
desejo humilde de tua misericórdia gratuita.
Tu não
te cansas em tua paciência para comigo. Tu vens em minha ajuda. Tu me dás a
força para começar sempre de novo, de esperar contra toda esperança, de crer na
vitória, em tua vitória em mim em todas as derrotas, que são as minhas.»
Este
ano, talvez o nosso beijo no Crucificado possa ser um pouco mais sincero e
profundo!
Tradução
do espanhol por Telmo José Amaral de
Figueiredo.
Fonte: MUSICALITURGICA.COM – Homilías de José A. Pagola
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