5º Domingo da Quaresma - Ano A - HOMILIA
Fonte: MUSICALITURGICA.COM – Homilías de José A. Pagola
Evangelho: João 11,1-45 (texto mais breve: Jo 11,3-7.17.20-27.33b-45)
Naquele tempo, 3 as irmãs de Lázaro mandaram dizer a Jesus: “Senhor, aquele que amas está doente”.
4 Ouvindo isto, Jesus disse: “Esta doença não leva à morte; ela serve para a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela”.
5 Jesus era muito amigo de Marta, de sua irmã Maria e de Lázaro. 6 Quando ouviu que este estava doente, Jesus ficou ainda dois dias no lugar onde se encontrava. 7 Então, disse aos discípulos: “Vamos de novo à Judeia”.
17 Quando Jesus chegou, encontrou Lázaro sepultado havia quatro dias. 20 Quando Marta soube que Jesus tinha chegado, foi ao encontro dele. Maria ficou sentada em casa. 21 Então Marta disse a Jesus: “Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido. 22 Mas mesmo assim, eu sei que o que pedires a Deus, ele te concederá”. 23Respondeu-lhe Jesus: “Teu irmão ressuscitará”. 24 Disse Marta: “Eu sei que ele ressuscitará na ressurreição, no último dia”. 25Então Jesus disse: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá. 26 E todo aquele que vive e crê em mim, não morrerá jamais. Crês isto?” 27 Respondeu ela: “Sim, Senhor, eu creio firmemente que tu és o Messias, o Filho de Deus, que devia vir ao mundo”.
33b Jesus ficou profundamente comovido 34 e perguntou: “Onde o colocastes?”
Responderam: “Vem ver, Senhor”. 35 E Jesus chorou. 36 Então os judeus disseram: “Vede como ele o amava!” 37 Alguns deles, porém, diziam: “Este, que abriu os olhos ao cego, não podia também ter feito com que Lázaro não morresse?” 38De novo, Jesus ficou interiormente comovido. Chegou ao túmulo. Era uma caverna, fechada com uma pedra. 39Disse Jesus: “Tirai a pedra!”
Marta, a irmã do morto, interveio: “Senhor, já cheira mal. Está morto há quatro dias”. 40 Jesus lhe respondeu: “Não te disse que, se creres, verás a glória de Deus?” 41Tiraram então a pedra. Jesus levantou os olhos para o alto e disse: “Pai, eu te dou graças porque me ouviste. 42Eu sei que sempre me escutas. Mas digo isto por causa do povo que me rodeia, para que creia que tu me enviaste”. 43Tendo dito isso, exclamou com voz forte: “Lázaro, vem para fora!”
44 O morto saiu, atado de mãos e pés com os lençóis mortuários e o rosto coberto com um pano. Então Jesus lhes disse: “Desatai-o e deixai-o caminhar!”
45 Então, muitos dos judeus que tinham ido à casa de Maria e viram o que Jesus fizera, creram nele.
JOSÉ ANTONIO PAGOLA
"Ressurreição de Lázaro" - afresco de Giotto, pintado entre 1304-06 (Capela Scrovegni - Pádua, Itália) |
NOSSOS MORTOS VIVEM
O adeus definitivo a um ser muito querido nos faz cair, inevitavelmente, na dor e na impotência. É como se a vida inteira ficasse destruída. Não há palavras nem argumentos que nos possam consolar. Em que se pode esperar?
O relato de João não tem somente como objetivo narrar a ressurreição de Lázaro, mas, sobretudo, despertar a fé, não para que acreditemos na ressurreição como um fato distante que ocorrerá no fim do mundo, mas para que “vejamos” desde agora que Deus está infundindo vida aos que nos sepultamos.
Jesus chega “soluçando” até o sepulcro de seu amigo Lázaro. O evangelista diz que “está coberto com uma laje”. Essa laje nos bloqueia. Não sabemos nada de nossos amigos mortos. Uma laje separa o mundo dos vivos e dos mortos. Somente nos resta esperar o dia final para ver se sucede algo.
Esta é a fé judaica de Marta: “Sei que meu irmão ressuscitará na ressurreição do último dia”. A Jesus isso não basta. “Tirai a laje”. Vamos ver o que ocorre com aquele que haveis sepultado.
Marta pede a Jesus que seja realista. O morto começou a decompor-se e “cheira mal”. Jesus lhe responde: “Se crês, verás a glória de Deus”. Se a fé desperta em Marta, ela poderá “ver” que Deus está dando vida a seu irmão.
“Retiram a laje” e Jesus “levanta os olhos para o alto”, convidando a todos para levantar os olhos a Deus, antes de penetrar com fé no mistério da morte. Parou de soluçar. “Dá graças” ao Pai porque “sempre o escuta”. O que deseja é que aqueles que o rodeiam “creiam” que ele é o Enviado pelo Pai para introduzir no mundo uma nova esperança.
Em seguida «grita com voz forte: “Lázaro, vem para fora!”». Quer que saia para mostrar a todos que está vivo.
A cena e impactante. Lázaro tem “os pés e as mãos atados com tiras de linho” e “e o rosto envolvido num sudário”. Traz os sinais e ataduras da morte. No entanto, “o morto sai”, por si mesmo. Está vivo!
Esta é a fé daqueles que acreditam em Jesus: aqueles que nós sepultamos e abandonamos na morte vivem. Deus não os abandonou. Afastemos a laje com fé. Nossos mortos estão vivos!
UM PROFETA QUE CHORA
Jesus jamais ocultou seu carinho para os três irmãos que vivem em Betânia. Seguramente, são eles que acolhem Jesus em sua casa sempre que sobe a Jerusalém. Um dia, Jesus recebe um recado: nosso irmão Lázaro, “teu amigo”, está doente. Em pouco tempo, Jesus se encaminha para a pequena aldeia.
Quando se apresenta, Lázaro já havia morrido. Ao vê-lo chegar, Maria, a irmã mais jovem, se põe a chorar. Ninguém a pode consolar. Ao ver a sua amiga chorando e, também, os judeus que a acompanhavam, Jesus não consegue se conter. Ele, também, “se põe a chorar” junto com eles. As pessoas comentam: “Vede como ele o amava!”.
Jesus não chora, somente, pela morte de um amigo muito querido. Sua alma se despedaça ao sentir a impotência de todos diante da morte. Todos trazemos, no mais íntimo de nosso ser, um insaciável desejo de viver. Por que temos de morrer? Por que a vida não é mais feliz, mais longa, mais segura, mais vida?
O homem de hoje, como o de todas as épocas, traz cravada em seu coração a pergunta mais inquietante e mais difícil de responder: O que será de todos e de cada um de nós? É inútil buscar nos enganarmos. O que podemos fazer? Revoltarmo-nos? Deprimirmo-nos?
Sem dúvida, a reação mais generalizada é esquecermos e “continuar tocando adiante”. Porém, o ser humano não é chamado a viver sua vida e viver-se a si mesmo com lucidez e responsabilidade? Somente ao nosso fim temos de aproximar-nos de forma inconsciente e irresponsável, sem tomar nenhuma atitude?
Diante do mistério último de nosso destino não é possível apelar a dogmas científicos nem religiosos. Eles não nos podem guiar além desta vida. Mais honrada parece ser a atitude do escultor Eduardo Chillida o qual, em certa ocasião, escutei-o dizer: “Da morte, a razão me diz que é definitiva. Da razão, a razão me diz que é limitada”.
Os cristãos não sabem da outra vida mais que as outras pessoas. Nós, também, temos de nos aproximar com humildade do fato obscuro de nossa morte. Porém, o fazemos com uma confiança radical na Bondade do Mistério de Deus que vislumbramos em Jesus. Esse Jesus ao qual, sem o termos visto, amamos e, sem vê-lo ainda, lhe damos nossa confiança.
Esta confiança não pode ser entendida a partir de fora. Somente pode ser vivida por quem respondeu, com fé simples, às palavras de Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida. Crês isto?
Recentemente, Hans Küng, o teólogo católico mais crítico do século vinte, próximo já ao seu final, disse que para ele morrer é “descansar no mistério da misericórdia de Deus”.
Tradução do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.
Fonte: MUSICALITURGICA.COM – Homilías de José A. Pagola
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