Andrea Riccardi*
A simpatia das pessoas
para com o Papa não se atenua após um ano. Francisco
guia os cristãos à redescoberta do Evangelho (domingo passado pediu a todos
para lê-lo). Deseja que se saia dos espaços habituais, das igrejas, dos lugares
comuns, para comunicar a fé, encontrar as pessoas, sobretudo, os pobres. Fala a
todos: bispos, padres, comunidades cristãs, leigos, fiéis em dificuldade,
religiosos, irmãs... Ninguém é excluído, mesmo se as histórias e
responsabilidades sejam diversas.
A proposta é “sair” com
fé, como disse na Evangelii gaudium, seu verdadeiro programa. Acho
entusiasmante participar desta “primavera”. No entanto, existem resistências
dentro da Igreja. Por quê? É contraditório que cristãos não se alegrem com esta
estação feliz. Sobretudo, é estranho que
alguns, depois de haver tanto falado da autoridade do Papa, não prestem atenção
a Francisco.
Alguns ignoram o Papa. Há resistências de quem não deseja mudar,
não quer viver de modo comprometido ou, simplesmente, trabalhar mais. Parecem
aqueles do filho mais velho da parábola do pai misericordioso [cf. Lc 15,11-32]:
por que tanta atenção ao filho pródigo? Por que abrir tanto às pessoas?
Mas há resistências mais
estruturadas. Desvaloriza-se o discurso do Papa, demasiado simples, ele é contraposto
àquele de Bento XVI, mais elevado e douto (desse modo, se vai contra o profundo
sentimento do Papa emérito). Para uma visão ideológica do cristianismo, a
Igreja não deve crescer, mas se bloquear em um modelo ou numa fórmula. Talvez,
não se dá conta dos graves desafios, em várias partes do mundo, direcionados ao
cristianismo.
As muitas resistências são um sinal de que o Papa está
mudando a Igreja.
O historiador sabe, porém, que nos anos 1900 um Papa jamais teve tantas
resistências como Francisco. Houve a forte crítica pós-conciliar a Paulo VI.
Mas, então, havia uma contestação geral em relação a todos. Critica-se
Bergoglio porque descuidaria dos valores éticos. Ele insiste que sua
preocupação é comunicar, sobretudo, o coração do Evangelho. A atitude do Papa,
não propensa ao clericalismo, abriria caminho à crítica (indisciplinada) dos
fiéis em relação aos bispos e aos padres.
Na realidade, as pessoas
acolhem o exemplo do Papa como estímulo para todos. Não é positivo criar um
movimento de interesse pela Igreja e pela fé? A verdade é que o Papa, com suas
intervenções, abriu o coração, revelou pensamentos, preocupações e prioridades.
Não se comportou de modo político com a Igreja. A sua sensibilidade é pastoral. Pede para compartilhá-la numa
renovada missão. Uma proposta franca e evangélica coloca todos diante de suas
próprias responsabilidades. Desse modo, nascem as resistências. Mas, acima de
tudo, um vasto povo de Deus colocou-se em movimento: em direção a uma nova escuta
do Evangelho e às pessoas. Como não
ficar contente com isso?
Tradução do italiano por
Telmo José Amaral de Figueiredo.
* Andrea Riccardi
é um historiador e acadêmico italiano. Graduado em História
Contemporânea pela Universidade de Estudos de Roma III, é notável
estudioso da Igreja na Idade Moderna e Contemporânea, bem como fundador
da Comunidade de Santo Egídio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por comentar. Sua participação é muito importante para nós. Deixe seu e-mail para podermos lhe contatar.