8º Domingo do Tempo Comum - Ano A - HOMILIA
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 24 “Ninguém pode servir a dois senhores; pois, ou odiará um e amará
o outro, ou será fiel a um e desprezará o outro. Vós não podeis servir a Deus e
ao dinheiro.
25 Por isso eu vos digo:
não vos preocupeis com a vossa vida, com o que havereis de comer ou beber; nem
com o vosso corpo, com o que havereis de vestir. Afinal, a vida não vale mais
do que o alimento, e o corpo, mais do que a roupa?
26 Olhai os pássaros dos céus:
eles não semeiam, não colhem nem ajuntam em armazéns. No entanto, vosso Pai que
está nos céus os alimenta. Vós não valeis mais do que os pássaros?
27 Quem de vós pode
prolongar a duração da própria vida, só pelo fato de se preocupar com isso?
28 E por que ficais
preocupados com a roupa? Olhai como crescem os lírios do campo: eles não
trabalham nem fiam.
29 Porém, eu vos digo: nem
o rei Salomão, em toda a sua glória, jamais se vestiu como um deles.
30 Ora, se Deus veste assim
a erva do campo, que hoje existe e amanhã é queimada no forno, não fará ele
muito mais por vós, gente de pouca fé?
31 Portanto, não vos
preocupeis, dizendo: ‘O que vamos comer? O que vamos beber? Como vamos nos
vestir?
32 Os pagãos é que procuram
essas coisas. Vosso Pai, que está nos céus, sabe que precisais de tudo isso.
33 Pelo contrário, buscai
em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos
serão dadas por acréscimo.
34 Portanto, não vos
preocupeis com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã terá suas preocupações!
Para cada dia bastam seus próprios problemas”.
JOSÉ ANTONIO PAGOLA
NÃO À IDOLATRIA DO DINHEIROO dinheiro, convertido em ídolo absoluto, é para Jesus o maior inimigo desse mundo mais digno, justo e solidário que deseja Deus. Faz já vinte séculos que o Profeta da Galileia denunciou, de maneira contundente, que o culto ao Dinheiro será sempre o maior obstáculo que encontrará a Humanidade para progredir rumo a uma convivência mais humana.
A lógica de Jesus é impressionante: "Não podeis servir a Deus e ao Dinheiro". Deus não pode reinar no mundo e ser Pai de todos, sem reclamar justiça para os que são excluídos de uma vida digna. Por isso, não podem trabalhar por esse mundo mais humano desejado por Deus os que, dominados pela ânsia de acumular riqueza, promovem uma economia que exclui os mais fracos e os abandona na fome e na miséria.
É surpreendente o que está acontecendo com o Papa Francisco. Enquanto os meios de comunicação e as redes sociais que circulam pela internet nos informam, com todo tipo de detalhes, os menores gestos de sua personalidade admirável, oculta-se de modo vergonhoso seu grito mais urgente à toda Humanidade: "Não a uma economia da exclusão e da iniquidade. Essa economia mata".
Entretanto, Francisco não necessita de grandes argumentações nem profundas análises para expor seu pensamento. Sabe resumir sua indignação em palavras claras e expressivas que poderiam abrir o informativo de qualquer telejornal diário, ou ser o título da imprensa de qualquer país. Somente alguns exemplos.
"Não pode ser que não seja notícia que morra de frio um ancião pelas ruas e que seja a queda de dois pontos na bolsa [de valores]. Isso é exclusão. Não se pode tolerar que se jogue comida fora quando há pessoas que passam fome. Isso é iniquidade".
Vivemos "na ditadura de uma economia sem rosto e sem um objetivo verdadeiramente humano". Como consequência, "enquanto os ganhos de uns poucos crescem exponencialmente, os da maioria ficam cada vez mais distantes do bem-estar dessa minoria feliz".
"A cultura do bem-estar nos anestesia, e perdemos a calma se o mercado oferece algo que, ainda, não compramos, enquanto que todas essas vidas truncadas por falta de possibilidades nos parecem um espetáculo que, de nenhum modo, nos altera".
Como ele mesmo disse: "esta mensagem não é marxismo, mas Evangelho puro". Uma mensagem que deve ter eco permanente em nossas comunidades cristãs. O contrário poderia ser sinal do que disse o Papa: "Estamos nos tornando incapazes de nos compadecermos dos clamores dos outros, já não choramos diante do drama dos demais".
UMA "NOVA RELIGIÃO"
O consumismo penetra em nós de maneira sutil. Ninguém escolhe esta maneira de viver depois de um processo de reflexão. Vamos nos submergindo nela, vítimas de uma sedução quase inconsciente. O engenho da publicidade e a atração das modas vão captando, suavemente, nossa vontade. Ao final, parece-nos impossível viver de outra maneira.
Não há que pensar muito para saber como agir. O projeto de vida para a maioria é muito simples: trabalhar para ganhar dinheiro que necessitamos para poder desfrutar de uns períodos de tempo (fim de semana, férias) nos quais se gasta o dinheiro anteriormente ganho e se recuperam as forças para voltar ao trabalho.
O consumismo converteu-se numa "nova religião" do homem moderno. A meta absoluta consiste em possuir e desfrutar (doutrina dogmática). Por isso é necessário trabalhar e ganhar dinheiro (ética e méritos). Os praticantes retornam, fielmente, à sua compra semanal (preceito de final de semana). Vive-se com intensa devoção as grandes festas (Natal, Reis, férias, bodas, dia a mãe, dia do pai...).
Não é fácil libertar-se da escravidão do consumismo. Como dizia Erich Fromm, "o homem pode ser um escravo sem correntes". O consumismo não fez senão deslocar as correntes do exterior para o interior do ser humano. Por dentro, estamos acorrentados a uma infinidade de caprichos e falsas ilusões. Estas correntes interiores são mais fortes que aquelas de fora. Como libertar-nos dessa escravidão se vivemos acreditando ser livres?
Nossa vida é insensata. A obesidade e a anorexia que se dão em não poucas pessoas são uma imagem gráfica da letargia e da perda de vitalidade de muitos espíritos. Temos de tudo e carecemos de paz e alegria interior. Queremos viver com sucesso, porém somos cúmplices da miséria e da fome de muitos.
Mergulhados na sociedade do bem-estar, preocupamo-nos em selecionar o restaurante onde iremos comer, a qualidade do vinho que vamos tomar ou a marca de nossa roupa. Jesus tinha sua maneira de ver as coisas. É importante pensar em "o que vamos comer", "o que vamos beber" ou "com que vamos nos vestir". Porém não vivei obcecados por tudo isso: "Sobretudo, buscai o reino de Deus e a sua justiça; o demais vos será dado em acréscimo".
Tradução do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.
Fonte: MUSICALITURGICA.COM - Homilías de José A. Pagola
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