CONGREGATIO SS. REDEMPTORIS
Superior Generalis
Roma,
5 de outubro de 2015
Memória do Bem Aventurado Francisco Xavier Seelos
CSsR
Beatificação dos Redentoristas Mártires de Cuenca,
Espanha
Queridos Confrades, Irmãs, Leigos Missionários e Amigos:
“Alegrai-vos à medida que
participais dos sofrimentos de Cristo, a fim de que também na revelação de sua
glória possais ter uma alegria transbordante... Por isso, também aqueles que
sofrem segundo a vontade divina confiem suas vidas ao Criador fiel, fazendo o
bem.” ( 1Pedro 4, 13,19).
No domingo, dia 13 de outubro de 2013, a beatificação dos 522 mártires da
Guerra Civil da Espanha (1936-1939) será oficializada em Tarragona, Espanha.
Entre os que serão beatificados estão os seis Redentoristas, Mártires de Cuenca:
Padres Javier Gorosterratzu Jaunarena, Ciriaco Olarte Pérez de Mendiguren,
Miguel Goñi Áriz, Julián Pozo Ruiz de Samaniego, Pedro Romero Espejo e o Irmão
Victoriano Calvo Lozano. A beatificação é um evento histórico, não apenas para a
Província de Madrid e a Igreja na Espanha, mas também para toda a nossa
Congregação.
É importante lembrar o contexto em que estes mártires deram suas vidas.
Foram muitas as vítimas da Guerra Civil Espanhola. Aproximadamente 270.000
pessoas morreram, incluindo soldados e civis. Muitos morreram por ações de
guerra, mas muitos outros morreram também por represália, por doenças e pela
fome. Aproximadamente 6.850 morreram como resultado direto da perseguição
religiosa. Desses, 13 eram bispos e mais de 6.000 eram sacerdotes e religiosos.
Entre eles, quase 1.000 já foram beatificados ou canonizados. Outros 2.000 casos
estão em processo. Como se aproxima o encerramento do Ano da Fé, a beatificação
destes 522 mártires celebra o testemunho do martírio como um ato de confiança em
nosso fiel Criador, como também de participação nos sofrimentos de Cristo. Sem
diminuir a importância do testemunho coletivo de todos estes mártires, a família
Redentorista recorda de modo particular os Mártires Redentoristas de Cuenca. E
lembramos que outros quatorze casos de Mártires Redentoristas estão ainda em
processo.
Informações sobre estes confrades já estão disponíveis em várias línguas.
O website da Província Redentorista de Madrid (www.redentoristas.org) oferece pequenas biografias,
fotos e outras informações. Outras publicações e informações estarão disponíveis
num futuro breve (ver também HTTP://testigosdelaredencion.blogspot.com.es)
Nesta breve carta, não é possível falar em detalhes sobre cada um destes
confrades. Eu encorajo vocês a conhecerem mais sobre eles nas matérias que
estarão disponíveis. Suas histórias são inspiradoras e desafiadoras para nós
hoje. Nesta carta gostaria de dizer algumas palavras sobre o significado destes
martírios para todos nós, que vivemos o carisma
redentorista.
O testemunho dos mártires tem sido sempre muito importante e
significativo para a Igreja. Os primeiros discípulos de Cristo consideravam o
martírio como seguimento radical dos passos de Jesus, e como partilha dos seus
sofrimentos, conforme São Pedro expressa na citação da sua I Carta. O testemunho
dos mártires vai além do gesto de enfrentar uma morte violenta. Manifesta a
razão pela qual eles estavam dispostos a dar suas vidas como testemunhas de
Jesus Cristo e a anunciar a Copiosa Redenção a todos. O martírio é uma
proclamação da Boa Nova e os mártires tornam-se testemunhas do Evangelho, e
continuam “fazendo o bem” em favor
dos irmãos e irmãs.
Nos primeiros 200 anos da Congregação do Santíssimo Redentor nenhum
Missionário Redentorista foi assassinado e reconhecido pela Igreja como mártir.
Santo Afonso tinha sonhado com os Missionários Redentoristas pregando a Boa Nova
em lugares distantes e abraçando o martírio na fidelidade ao Evangelho. No entanto, antes de 1936, nenhum
Redentorista tinha sido martirizado pela fé. Não creio que Afonso chegasse a
pensar alguma vez que os primeiros membros da sua Congregação a sofrerem o
martírio teria sido na Espanha. É notável que desde 2001, a Igreja já reconheceu
onze mártires Redentoristas que deram suas vidas por Cristo e por seu povo, todos no século XX e todos
na Europa – na Espanha, na Ucrânia e na Eslováquia.
No final de julho de 1936, quando aumentaram os sinais de perseguição em
Cuenca, um dos nossos mártires, Pe. Julián Pozo, começou a intuir que o martírio
era uma possibilidade real. Ele disse: “Nós, os Redentoristas, não temos
mártires; vocês querem ver que seremos nós os primeiros mártires?” Isto
tornou-se uma realidade. Nenhum dos seis confrades buscou o martírio. Vários
tiveram claramente medo desta possibilidade. Todos eles deram suas vidas em
testemunho da redenção. A morte deles também nos lembra que hoje muitas pessoas
continuam a morrer como vítimas da violência, do preconceito, da guerra e da
pobreza. Suas vidas e suas mortes violentas nos convocam a construir a cultura
do encontro e do diálogo, vislumbrada pelo Papa Francisco para superar estes
males que continuam a afligir a sociedade humana.
Em muitos aspectos, esses seis primeiros confrades espanhóis que serão
beatificados eram Missionários Redentoristas comuns. Pe. Javier Gorosterratzu
era um historiador que deveria estar em Roma fazendo pesquisas nos Arquivos do
Vaticano. Pe. Ciriaco Olarte tinha sido missionário no México. Ele retornou à
Espanha por causa da revolução e da perseguição religiosa naquele país. Pe.
Miguel Goñi e Pe. Julián Pozo sofriam problemas de saúde e por isso eram
limitados em sua atividade pastoral e missionária. Ambos eram muito apreciados
pela pregação missionária e pelo aconselhamento espiritual. Ir. Victoriano Calvo
era uma pessoa calma e profunda, um homem de oração e de serviço àqueles que
passavam necessidade. Pe. Pedro Romero, julgado pelo seu superior como não
qualificado ao ministério extraordinário, demonstrou extraordinária coragem e a
fidelidade ao continuar seu ministério em Cuenca, muitas vezes sem teto e
morando nas ruas durante o período de perseguição. Ele morreu na prisão em
consequência de suas feridas e sofrimentos, dois anos após ter sido forçado a
deixar o convento redentorista.
Para cinco desses seis confrades, o martírio veio rápido. Contudo,
parece-me que a entrega final de suas vidas nas mãos de Deus foi o resultado de
um longo processo. A fidelidade deles a Deus no momento do martírio foi moldada
pela decisão diária de dizer ‘sim’ a Jesus Cristo, tal como viviam sua vocação
missionária redentorista. Em seu ministério da pregação e da confissão, da
oração e do serviço aos outros, do ensino e da direção espiritual, eles viveram
esta vocação missionária com fidelidade. Apesar de sofrerem doenças crônicas
sérias, eles souberam acolher as pessoas com afeto e com um sorriso. Mesmo na experiência de fracasso de
algumas iniciativas apostólicas, eles não se desesperaram nem desistiram, mas
continuaram pregando o Evangelho.
Através de sua profissão religiosa e de sua fidelidade, diariamente eles
deram suas vidas como missionários, antes mesmo de darem suas vidas como
mártires. “Por essa profissão, todos os
Redentoristas são, verdadeiramente missionários, quer se dediquem às várias
funções do ministério apostólico, quer estejam impedidos de trabalhar, quer
estejam ocupados em quaisquer serviços à Congregação e aos confrades, quer sejam
idosos, enfermos e incapacitados para atividades extremas, quer, principalmente,
suportem dores ou enfrentem a morte pela salvação do mundo.” (Const.
55).
Em 2003, o tema escolhido pelo XXIII Capítulo Geral afirmou que “Dar a vida pela Copiosa Redenção” é o
coração da vocação do Missionário Redentorista. Os mártires de Cuenca viveram
esta vocação e deram suas vidas como testemunhas da redenção. Eles testemunharam
ainda a verdade de que o chamado ao martírio pode vir a qualquer discípulo num
tempo inesperado e no lugar menos previsto. Bem poucos Missionários
Redentoristas são chamados a dar a vida como esses mártires fizeram. Somente um
pequeno número de discípulos cristãos derramará seu sangue através de uma morte
violenta, em testemunho de sua fé em Jesus Cristo. No entanto, todos nós somos
chamados a dar nossas vidas pela Copiosa Redenção através da proclamação do
Evangelho e do serviço às nossas irmãs e irmãos. “Inspirados e fortalecidos pelo Espírito
Santo, empenham-se os congregados para chegar à total doação de si...”.
(Const. 56).
Durante este Ano de Promoção da Vocação Missionária Redentorista, que a
vida e o martírio dos nossos confrades nos movam a renovar e a aprofundar nossa
própria participação no Carisma Redentorista. Confrades, Irmãs, Leigos e
Religiosos – nós somos Missionários – chamados a ser Testemunhas e Missionários da Redenção.
Somos chamados a dar nossas vidas, com generosidade e disponibilidade, em união
com nossos irmãos os mártires de Cuenca.
Embora nem todos nós possamos estar fisicamente presentes em Tarragona no
dia 13 de outubro para celebração da Beatificação, eu peço a cada Missionário
Redentorista, Irmã e Leigo Colaborador que se unam em comunhão espiritual a esta
celebração. Por favor, recordem este importante evento em todas as nossas
Igrejas e Capelas, em cada Missa e oração comunitária. Peço a cada comunidade
que dedique algum momento do dia 13 de outubro para unir-se em oração e comunhão
com os nossos novos irmãos beatificados. Onde é possível, peço-lhes que realizem
isto com o Povo de Deus e que partilhem com ele esta Boa Nova.
“Na verdade, na verdade vos digo: se o grão de trigo, caindo na terra,
não morrer, ficará só. Mas se morrer, dará muitos frutos.” (Jo 12, 24). Que as orações e a
intercessão dos Beatos Mártires Redentoristas de Cuenca sejam fonte de
inspiração e de bênçãos para nós neste Ano da Vocação Missionária Redentorista.
Que seu exemplo e sua doação atraiam outros a partilhar com eles o compromisso
de seguir “Jesus Cristo, Redentor,
através da pregação da Palavra de Deus aos pobres” (Const 1). E que Santo
Afonso e nossa Mãe do Perpétuo Socorro nos acompanhem no anúncio do Evangelho de
modo sempre novo e a dar nossa vida pela Copiosa Redenção.
Seu irmão no Santíssimo Redentor,
Michael Brehl, C.Ss.R.
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