18º Domingo do Tempo Comum - Ano C - HOMILIA
Evangelho: Lucas 12,13-21
Naquele tempo, 12,13 disse a Jesus alguém do meio do povo: “Mestre, dize a meu irmão que reparta comigo a herança”.
14 Jesus respondeu-lhe: “Meu amigo, quem me constituiu juiz ou árbitro entre vós?”
15 E disse então ao povo: “Guardai-vos escrupulosamente de toda a avareza, porque a vida de um homem, ainda que ele esteja na abundância, não depende de suas riquezas”.
16 E propôs-lhe esta parábola: “Havia um homem rico cujos campos produziam muito”.
17 E ele refletia consigo: ‘Que farei? Porque não tenho onde recolher a minha colheita’.
18 Disse então ele: ‘Farei o seguinte: derrubarei os meus celeiros e construirei maiores; neles recolherei toda a minha colheita e os meus bens.
19 E direi à minha alma: ó minha alma, tens muitos bens em depósito para muitíssimos anos; descansa, come, bebe e regala-te’.
20 Deus, porém, lhe disse: ‘Insensato! Nesta noite ainda exigirão de ti a tua alma. E as coisas, que ajuntaste, de quem serão?’
21 Assim acontece ao homem que entesoura para si mesmo e não é rico para Deus”.
Palavra da Salvação.
JOSÉ ANTONIO PAGOLA
CONTRA A INSENSATEZ
Cada vez sabemos mais sobre a situação social e econômica que Jesus conheceu na Galileia dos anos trinta. Enquanto nas cidades de Séforis e Tiberíades crescia a riqueza, nas aldeias aumentava a fome e a miséria. Os camponeses ficavam sem terra e os latifundiários construíam silos e celeiros cada vez maiores.
No pequeno relato conservado por Lucas, Jesus revela o que pensa daquela situação tão contrária ao projeto desejado por Deus de um mundo mais humano para todos. Não narra esta parábola para denunciar os abusos e ultrajes cometidos pelos latifundiários, mas para desmascarar a loucura, a insensatez em que vivem instalados.
Um rico fazendeiro se vê surpreendido por uma grande colheita. Não sabe como administrar tanta abundância. "O que farei?". Seu monólogo nos revela a lógica sem sentido dos poderosos que somente vivem para acumular riqueza e bem-estar, excluindo de seu horizonte os necessitados.
O rico da parábola planeja sua vida e toma decisões. Destruirá os velhos celeiros e construirá outros maiores. Armazenará ali toda a sua colheita. Pode acumular bens para muitos anos. Daqui em diante, só viverá para desfrutar: "descanse, coma, beba e leva uma boa vida". De forma inesperada, Deus interrompe seus projetos: "Insensato! Nesta mesma noite, te exigirão a tua vida. Aquilo que acumulaste, de quem será?".
Este homem reduz a sua existência a desfrutar da abundância de seus bens. No centro de sua vida está, somente, ele e seu bem-estar. Deus está ausente. Os diaristas que trabalham suas terras não existem. As famílias das aldeias que lutam contra a fome não contam. O juízo de Deus é inequívoco: esta vida é só loucura e insensatez.
Atualmente, praticamente em todo o mundo está aumentando, de modo alarmante, a desigualdade. Este é o fato mais sombrio e desumano: "os ricos, sobretudo os mais ricos, vão se tornando ainda mais ricos, enquanto os pobres, sobretudo os mais pobres, vão se transformando em mais pobres, ainda" (Zygmunt Bauman).
Este fato não é normal. É, simplesmente, a última consequência da insensatez mais grave que os seres humanos estão cometendo: substituir a cooperação amiga, a solidariedade e a busca do bem comum da Humanidade pela competição, a rivalidade e a acumulação de bens nas mãos dos mais poderosos do Planeta.
A partir da Igreja de Jesus, presente em toda a Terra, deveria se escutar o clamor de seus seguidores contra tanta loucura e a reação contra o modelo que dirige, hoje, a história humana.
LUCIDEZ DE JESUS
Uma das características mais chamativas na pregação de Jesus, é a lucidez com a qual soube desmascarar o poder alienante e desumanizador que se encerra nas riquezas.
A visão de Jesus não é a de um moralista que se preocupa de saber como adquirimos nossos bens e como os usamos. O risco de quem vive desfrutando de suas riquezas é esquecer sua condição de filho de um Deus Pai e irmão de todos.
Daí o seu grito de alerta: "Não podeis servir a Deus e ao dinheiro". Não podemos ser fiéis a um Deus Pai que busca justiça, solidariedade e fraternidade para todos e, ao mesmo tempo, vivermos voltados para nossos bens e riquezas.
O dinheiro pode dar poder, fama, prestígio, segurança, bem-estar... porém, na medida em que escraviza a pessoa, a fecha para Deus Pai, lhe faz esquecer sua condição de irmão e a leva a romper a solidariedade com os outros. Deus não pode reinar na vida de quem está dominado pelo dinheiro.
A raiz profunda está em que as riquezas despertam em nós o desejo insaciável de ter sempre mais. E, então, cresce na pessoa a necessidade de acumular, capitalizar e possuir sempre mais e mais. Jesus considera como uma verdadeira loucura a vida daqueles latifundiários da Palestina, obcecados por armazenar suas colheitas em celeiros cada vez maiores. É uma loucura dedicar as melhores energias e esforços em adquirir e acumular riquezas.
Quando, finalmente, Deus se aproxima para recolher sua vida, torna-se claro que ele a desperdiçou. Sua vida carece de conteúdo e valor. "Tolo ...". "Assim é aquele que acumula tesouros para si mesmo e não é rico para com Deus" (versículos 20 e 21).
Um dia, o pensamento cristão descobrirá, com uma lucidez que hoje não temos, a profunda contradição que há entre o espírito que anima o capitalismo e aquele que anima o projeto de vida desejado por Jesus. Esta contradição não se resolve nem com a profissão de fé daqueles que vivem com o espírito capitalista nem com toda a beneficência que possam fazer com os seus lucros.
Tradução do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.
Fonte: MUSICALITURGICA.COM - Homilías de José A. Pagola - Terça-feira, 30 de julho de 2013 - 12h55 - Internet: http://www.musicaliturgica.com/0000009a2106d5d04.php
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