2. Perfil
Pe.Ulysses
50 anos como
Redentorista
Ao celebrar o Jubileu de Ouro de minha dedicação
ao Cristo Redentor, meu primeiro sentimento é dizer que continuo contente de ser
Redentorista. Foram 50 anos de caminhada e não me recordo de ter tido um segundo
sequer de arrependimento por ter escolhido essa vocação e essa família
missionária. Vivo a alegria de ser Redentorista, até mesmo nos momentos de
tristeza.
No dia 2 de fevereiro de 1963, quando fiz a
profissão na Basílica Velha, o papa ainda era João XXIII e apenas havia
terminado a 1ª sessão do Concílio Vaticano II. Ainda não tínhamos consciência
da importância daquele acontecimento, mas já se respirava uma nova esperança em
toda a Igreja e o horizonte que se abria diante de nós, jovens professos, era imenso
e cheio de desafios. E se havia algo que os anos de Seminário Santo Afonso
haviam gravado em nós, desde meninos, era o gosto e a disposição para a
aventura.
Fiz a minha primeira profissão com a vontade
clara de ser missionário itinerante. Já tinha consciência suficiente de que não
desejaria ser salesiano ou jesuíta, exatamente por não querer ser professor ou
administrar colégios acessíveis apenas às elites. Lembro-me bem que, juntamente
com meus colegas de curso, sonhava em ser missionário na Prelazia de Rubiataba,
em Goiás, ou na Amazônia, ou até mesmo na África. Hoje, ao fazer as contas desses
50 anos, constato que por mais de 30 anos a santa obediência exigiu que eu
fosse professor, formador, provincial, conselheiro geral e, agora, secretário
geral. Sobraram alguns anos em que pude atuar diretamente em paróquias, no
Santuário Nacional e nas Missões Populares.
Para muita gente, creio que eu parecia quase sempre como se
fosse uma figura importante, um “pezzo grosso”, como dizem os italianos. Tanto
assim que, após o último mandato de provincial, quando fui transferido para o Jardim Sinhá, na periferia de São Paulo, alguém
comentou que era um castigo. Pelo contrário, mesmo que jamais me tenha sentido desiludido,
nunca me senti confortável nesses encargos. Parecia estar traindo meus sonhos de
menino e de jovem redentorista. O que sempre me consola é a nossa Constituição
2 que nos garante que formamos um só corpo missionário. Tenho, porém, a
impressão de estar vivendo e trabalhando na cochia, isto é, atrás ou debaixo do
palco, trabalhando para que os verdadeiros atores da nossa Congregação possam
desenvolver bem a sua missão diante do mundo.
Por isso, às vezes descubro dentro de mim um sentimento de
inveja, porque tenho certeza de que os verdadeiros atores do nosso carisma
missionário são aqueles confrades que vivem e trabalham no meio do povo, sempre
bem próximos, no diálogo direto com as pessoas, principalmente com os pobres e abandonados.
São eles os autênticos figurões ou “pezzi grossi” da nossa Congregação.
Contudo, interiormente eu me sinto feliz de ser simplesmente
um acessório ou ajudante desses confrades, espalhados por todo o mundo.
Ao longo desses 50 anos foram milhares os confrades que
conheci e conheço, que nunca se preocuparam em ser superiores ou ocupar qualquer
encargo aparentemente importante. Meus próprios colegas de curso tiveram mais
sorte do que eu. São simplesmente missionários redentoristas e não existe
título maior do que esse.
Repito que sou feliz como redentorista. E espero que o
Cristo Redentor esteja contente comigo. Minha fidelidade vive atrelada à misericórdia
do Pai, a quem pedi e continuo pedindo perdão, bem mais do que setenta vezes
sete. A obediência tantas vezes exigiu-me sacrificar tantos sonhos
missionários, e nem sempre consegui abraçar com gosto os encargos que me
confiavam. Era como se estivesse economizando energias para gastar
em alguma missão mais tarde. A pobreza tem me exigido bem
pouco, pelo contrário possibilitou-me uma vida sem tantas preocupações
materiais. A Congregação jamais deixou faltar tudo o que é necessário para uma
vida digna. Contudo, quando medito sobre a vida dos santos, vejo que quase
todos eles viveram próximos e solidários com os pobres. E isso me tem faltado,
com exceção dos poucos anos em que pude atuar na pastoral direta. Não há dúvida
de que o lugar social onde se vive limita a proximidade e o compromisso com os pobres.
E sem a solidariedade com os pobres, o nosso voto de pobreza será sempre manco.
Quanto à castidade, que parecia o único voto contra o qual cometíamos pecados a
toda hora, sinto que para além das fragilidades naturais, ele é o voto que nos
compromete com uma atitude constante de atenção e de respeito, de afeto e de
ternura para com todas as pessoas, a começar dos próprios confrades. É o voto
que torna a vida em comunidade uma experiência de amor e o trabalho pastoral
uma relação de pessoas, em que as mais pequenas e frágeis são as mais cuidadas.
Por tudo isso, estou longe de tê-los cumprido cem por cento. Ainda bem que o
Senhor nos deixou o sacramento do perdão e, ao longo desses 50 anos, muitas
vezes tive que pedir a absolvição de algum confrade para continuar percorrendo
o mesmo caminho. Já não tenho segurança sobre o meu tempo de validade. Sei que
o prazo já está bem pra cá do horizonte. O que eu gostaria de pedir ao Senhor é
que continue tendo paciência comigo e faça com que minha vida continue sendo
adubada, como o pé de figo do Evangelho, até que possa produzir mais frutos.
Que Ele complete a obra começada há tantos anos. E me faça
viver com gosto e com alegria cada segundo do tempo que ainda me conceder.
Não gostaria de ter que cantar logo o “Nunc dimittis”,
prefiro entoar ainda por muito tempo o “Magnificat”. Tenho certeza de que a
Nossa Senhora Aparecida, sob cujo manto fiz meus primeiros votos, continuará a
ser o meu Perpétuo Socorro, e intercederá por mim para que a copiosa Redenção
se realize plenamente em vida.
Nota: A seguir a mensagem enviada aos Jubilares de 2013 pelo grupo de Ex-seminaristas que estava em Retiro Espiritual na Pedrinha, gentilmente publicada pelo Pe. Ulysses no Informativo da Província.
Pe. José Ulysses da Silva, C.Ss.R.
Roma – Itália
Fonte: Informativo da Província de SP
Fonte: Informativo da Província de SP




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