Ficha 36 – A Repercussão do Concílio Vaticano II no Brasil
Esta
Ficha tem por objeto de estudo refletir sobre a recepção e a
repercussão do Concílio Vaticano II no Brasil. O organismo que
viabilizou isto foi a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil –
CNBB[1] que fora criada em 1952, antes mesmo do Concílio, com a missão
de fomentar a comunhão e o diálogo entre os bispos, para maior unidade
no processo de evangelização. As orientações das Constituições
Conciliares Lumen Gentium e Gaudium et Spes,
contribuíram para atualizar e solidificar os propósitos das primeiras
Conferências Latino-Americanas, e dar novos passos na organização
pastoral e da evangelização da Igreja no Brasil, provocando uma
participação ativa de bispos; presbíteros; religiosos(as); agentes de
pastoral; e mulheres e homens de fé. Todos os envolvidos nesta recente
história foram não só abertos e receptivos às novas ideias e
transformações trazidas pelo Concílio mas, também, operadores ativos
deste processo histórico, garantindo, assim, a presença da Igreja na
sociedade brasileira.
O Plano de Emergência (PE), criado em
1962, foi de fundamental importância para a recepção do Concílio no
Brasil por ter quatro propostas desafiadoras, sobre aspectos da vida da
Igreja, considerados fundamentais, como: a renovação da Paróquia, do
Ministério Presbiteral, da Escola Católica, e a promoção da ação da
Igreja no campo socioeconômico. Também foi fundamental, a experiência
das Campanhas da Fraternidade- (CF) [2], desde 1964, as quais,
progressivamente, foram assumindo a Doutrina Social da Igreja,
contribuindo para o surgimento e o fortalecimento das Pastorais Sociais.
Na sequencia, em 1965, a CNBB propôs o
Plano Pastoral de Conjunto (PPC), com o objetivo de implementar as
decisões do Concílio e promover o seu espírito renovador do Concílio, em
todo o país. O Plano enfatizava a evangelização como missão principal
da Igreja, reconhecendo o papel dos leigos e dando importância
específica à solidariedade a todos, particularmente aos pobres. O PPC
previsto para 1966-1970, e depois prorrogado até 1975, definiu
orientações expressas em seis Objetivos Específicos ou Linhas de
Trabalho: 1. Promover a plena unidade visível, através da promoção da
comunhão e participação na Igreja Católica (Constituição Dogmática LG, Decretos AA, PC e CD); 2. Promover a Ação Missionária (Decretos AG e PC); 3. Promover a Ação Catequética, o aprofundamento doutrinal e a reflexão teológica (Constituição Dogmática DV e Decreto CD); 4. Promover a Ação Litúrgica (Constituição SC e Decreto CD); 5. Promover a Ação Ecumênica (Decreto UR);
e 6. Promover a melhor inserção do povo de Deus como fermento na
construção de um mundo segundo os desígnios de Deus (Constituição
Pastoral GS).
Em 1968, as orientações da Conferência
de Medellín contribuíram para que se efetivasse uma prática pastoral
mais ligada à promoção social, que viabilizou o PPC, através do método
‘ver, julgar e agir’, com base na realidade social, para orientar a ação
da Igreja. O PPC investiu na formação, treinamento e reciclagem de
bispos, sacerdotes, religiosos (as) e leigos (as), e responsáveis pelos
cursos de preparação dos sacramentos, envolvidos diretamente nas
atividades da Igreja. Medellín influenciou também uma das resoluções
mais importantes deste Plano que propôs um novo modo de ser Igreja,
facilitando a plena participação de todos os batizados na base da
sociedade e da Igreja, com a implantação das Comunidades Eclesiais de
Base (CEB’s), no território paroquial, alimentando o sonho de uma Igreja
mais próxima dos meios populares e suas significativas representações,
como os Movimentos Sociais, Sindicatos e Partidos Políticos.
Como a experiência do PPC mostrou-se
idealista para uma Igreja presente num país com diversas realidades
sociais e eclesiais que revelavam grandes diferenças organizacionais e
pastorais, tornou-se inviável um plano comum. Desta forma, para manter o
princípio de colegialidade e da unidade pastoral entre os bispos, a
Assembleia da CNBB substituiu o Plano de Pastoral de Conjunto, por um
conjunto de orientações, chamadas de Diretrizes, com o objetivo de
assegurar a unidade pastoral nas Dioceses. A estrutura básica das seis
linhas de trabalhos foram mantidas e adotadas nas “Diretrizes Gerais da
Ação Pastoral da Igreja no Brasil (DGAP)”, que, a partir de 1975,
ofereceram luzes para o agir eclesial.
A ação profética desencadeada em
Medellín (1968) e as reflexões críticas de Puebla (1979), sobre a
situação sócio-política, econômica e cultural do Continente
Latino-Americano, incluindo a Opção Preferencial pelos Pobres e pelos
Jovens reforçaram as opções pastorais da CNBB. Na luta em favor da
reforma agrária, dos direitos à terra foi criada a Comissão Pastoral da
Terra (CPT); em favor da cultura e autonomia das populações indígenas,
criou-se o Conselho Indigenista Missionário (CIMI); e em favor da
educação pública e gratuita para todos, com direitos mais amplos aos
trabalhadores, mulheres, jovens, crianças e idosos, criou-se a Comissão
Brasileira de Justiça e Paz e os Centros de Defesa dos Direitos Humanos.
No âmbito eclesial, o destaque foi para a renovação da Catequese,
através da publicação do Documento Catequese Renovada, em 1983, que
desencadeou a criação dos subsídios de estudo, a reflexão para as
Semanas Nacionais de Catequese e os vários Encontros Nacionais de
Catequese em prol de uma evangelização permanente nas Dioceses,
paróquias e comunidades.
A partir de 1995, as DGAP passaram a ser
chamadas “Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil –
DGAE”, as quais, partindo da inculturação, deram nova ênfase e
destaque para a Evangelização, isto é: viver a mesma fé do Evangelho em
culturas diferentes, missão de todos os batizados, através do serviço,
diálogo, anúncio e testemunho de comunhão, em nossas terras e para além
fronteiras, tal como sugeria a Conferência de Santo Domingo (1992), que
valorizou a evangelização inculturada e o protagonismo dos leigos nesta
missão.
No século XXI, a CNBB lançou as
Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil – 1999-2002,
propondo que toda a ação pastoral da Igreja esteja sempre atenta a três
eixos: a promoção humana, a renovação da comunidade e a presença da
Igreja na sociedade.
Em 2004, foi lançado o Projeto Nacional
de Evangelização (2004-2007): “Queremos ver Jesus: Caminho, Verdade e
Vida” (Jo 14,6). Partindo desta experiência do encontro com Cristo é
que a Conferência de Aparecida (2007) propõe uma retomada da força
evangelizadora de todas as vocações eclesiais, nomeando-as de discípulos
missionários, que irão revitalizar a vida de fé no continente, para que
a evangelização exerça uma ação transformadora sobre o mundo desde
dentro da Igreja. Atualmente as “Diretrizes Gerais da Ação
Evangelizadora da Igreja no Brasil (2011-2015)” são um convite para que
todos os batizados, como discípulos missionários, assumam o mandato de
Jesus Cristo: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa-Nova a toda
criatura!” (Mc 16,15).
É inegável que desde o Plano de
Emergência até as DGAE vigentes a Igreja presente no Brasil construiu um
projeto eclesial moldado nas orientações do Vaticano II. A maciça
maioria das comunidades eclesiais de base, paróquias, comunidades novas
e/ou movimentos vivencia uma realidade eclesial embasada em uma
articulação pastoral orgânica que respeita os princípios de comunhão e
de participação do Povo de Deus (LG e GS). Isto não significa dizer que
não há dificuldades de ordens diversas, até porque a Igreja é, também;
uma instituição humana, mas na diversidade de funções e na comunhão da
mesma fé em Jesus Cristo; o Senhor da História, o povo de Deus vai
concretizando o Reino de Deus.
Notas
[1] No dia 14 de outubro de 1952,
no Rio de Janeiro, ocorreu a fundação da CNBB como ação conjunta de
vários bispos, tendo Dom Hélder Câmara como o grande articulador.
Contou com a presença do Núncio Apostólico, de dois Cardeais e cerca de
vinte Bispos. [...].O Cardeal Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota
como escolhido como Presidente e Dom Helder Câmara como
Secretário-Geral. A expressão máxima da CNBB acontece anualmente em uma
assembleia realizada sempre depois da Páscoa, que expressa o pensamento
do episcopado brasileiro, considerado um dos maiores colegiados do
mundo.
[2] A Campanha da Fraternidade, criada
em 1964, única no mundo, tem conscientizado os leigos sobre seu papel na
edificação da Igreja e foi se transformando num momento forte de alerta
sobre problemas sociais, políticos e econômicos que afligem toda a
população, sobretudo aos mais pobres. Desde a Campanha de 1995: “A
Fraternidade e os Excluídos” tem sido realizado o “Grito dos Excluídos”
que perdura até os dias de hoje, comemorado, sempre, no dia da
independência do Brasil – 7 de setembro.
Referências Eletrônicas
BEOZZO, J. O. A recepção do Vaticano II na Igreja do Brasil.
BRIGHENTI, Agenor. O Documento de Medellín: Uma Ousadia que continua fazendo caminho.
COMBLIN, J. O Vaticano II, 50 anos depois.
GODOY, Pe. Manoel. Posições e respostas da Igreja no Brasil diante dos desafios populacionais e de pobreza.

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