33ª Ficha: Decreto Apostolicam Actuositatem (AA)
SOBRE O APOSTOLADO DOS LEIGOS
O Decreto Apostolicam Actuositatem
(AA), sobre o Apostolado dos Leigos, foi promulgado pelo Papa Paulo VI,
a 18 de novembro de 1965. Este texto vincula-se a outros do Concílio
Vaticano II, principalmente com a Lumen Gentium (LG) na consideração dos batizados como Povo de Deus, e com a Ad Gentes (AG)
que trata da missão dos seguidores de Cristo. Embora o termo ‘leigo’
[1] designasse aquele que não é ordenado ou consagrado, criou-se o
entendimento de que era aquele que nada sabia sobre religião, e que,
portanto, deveria se submeter aos ditames do clero, o que acentuava as
diferenças de forma negativa. O Concílio, no entanto,quis dar uma
significação afirmativa ao conceito, resgatando o papel fundamental do
leigo como membro do Povo de Deus e protagonista da Evangelização e da
promoção humana, na condição de “participante do múnus sacerdotal,
profético e régio de Cristo”. Como afirmaram os bispos em Puebla: “São
homens e mulheres da Igreja no coração do mundo e homens e mulheres do
mundo no coração da Igreja” (DP 786).
No primeiro capítulo, o documento
considera que, no Corpo Místico de Cristo, nenhum membro tem papel
passivo e, para isso, a Igreja deve unir o trabalho de “cada um com sua
atividade própria, para que o corpo cresça e construa a si próprio no
amor” (conf. Ef 4,16). No Novo Testamento, vários leigos e leigas são
citados como exemplos de destaque na missão evangelizadora, como: Maria
Madalena, Nicodemos, Áquila e Priscila; e muitos valorosos leigos e
leigas têm seus feitos registrados na tradição da Igreja, como
testemunhas da fé, dentre eles: Apolônio, Sebastião, Perpétua e
Felicidade. Aliás, no sentido que hoje se dá ao termo, Jesus e os
apóstolos também eram leigos, lembrando que Pedro foi, oficialmente, o
primeiro leigo a assumir a direção da Igreja nascente, um dos mais
importantes serviços.
Quando explica os objetivos, no segundo
capítulo, o Decreto lembra que, devido às suas condições de vida, os
cristãos leigos representam uma vocação especial para exercerem, como
fermento, o seu apostolado de fé, esperança e caridade no meio do mundo.
Dessa forma, sua atuação contribuirá para que o espírito do Evangelho
faça parte de todas as dimensões da vida. A consciência cristã do leigo o
levará a apoiar e criar causas justas em benefício do bem comum, sejam
estas de ação social, caritativa, cultural e/ou de promoção humana.
São muitos os campos de apostolado e
planos dessa atuação, conforme está no terceiro capítulo, a começar pela
família, estendendo-se para as comunidades e o meio social. O texto
ressalta, também, a necessidade de reconhecimento da grande participação
e contribuição das mulheres, que é bastante significativa nos vários
trabalhos pastorais. Em nosso país, a riqueza dos ministérios leigos se
sobressai nas comunidades, nas mais diversas pastorais e, em alguns
casos, são eles que mantêm viva a comunidade. Este engajamento na vida
da Igreja e na pastoral implica, porém, em formação permanente através
de estudos bíblicos e dos Documentos da Igreja, iniciação teológica para
leigos, Escola Catequética e de Fé e Política, formação com lideranças,
retiros espirituais, entre outros, tendo como destaque o estar a
serviço de Deus nas ações, atitudes e decisões.
No quarto capítulo, o Decreto chama os
leigos para ampliarem seu trabalho além da Paróquia ou Diocese, chegando
aos campos interparoquial, interdiocesano e além-fronteiras, abrindo-se
também ao trabalho ecumênico. Trata do apostolado exercido em condições
e circunstâncias especiais, como por exemplo, nas regiões em que a
liberdade da Igreja é restrita.
Nas transformações vividas no período
entre as duas guerras mundiais, o Movimento Leigo representou
significativa contribuição para trazer à Igreja a problemática do mundo
moderno, através da Ação Católica [2] e, depois do Concílio, este ideal
fomentou a organização das pastorais sociais e das comunidades de base,
nos países da América Latina e Caribe, despertando os leigos para
desempenharam um papel ativo na Igreja e na sociedade.
No capítulo final, o texto ressalta a
necessidade dos leigos se conscientizarem da importância da formação,
que não pode consistir unicamente na instrução teórica, mas de aprender
de modo gradual e prudentemente, a ver, julgar e agir todas as coisas à
luz da fé.
Para destacar a importância da
consagração do leigo no mundo, em 1987, realizou-se o Sínodo sobre o
Laicato e, no ano de 1988, o Papa João Paulo II publicou a Exortação Christifideles Laici
cujo Documento é referencia para a organização de qualquer apostolado
laico, e tem servido de inspiração para a implantação de Conselho de
Leigos nas várias Dioceses. Desde o Concílio Vaticano II, a América
Latina tem se mostrado um verdadeiro “canteiro de obras” do laicato, o
que se pode constatar pelos resultados dos diversos documentos do CELAM,
desde Medellin (1968) até Aparecida (2007). Como marcas desta comunhão,
ao longo dos últimos 50 anos; destaca-se, no caso brasileiro, os
diversos Documentos Sociais da CNBB. Nesse contexto, lembramos as
Campanhas da Fraternidade, as Semanas Sociais e, mais recentemente, a
fundação Dom Hélder Câmara e as diversas Escolas Diocesanas de Formação
Política e Teológica. A pastoral Social e Política que se desenvolveu
nesse contexto, desde os anos 60 em nosso Continente, foi profundamente
marcada pelo Espírito Conciliar e, em suas grandes linhas, tornou-se
como fermento na massa, força catalisadora das transformações necessárias.
No Brasil, como consequência da
valorização do leigo na Igreja, foi criado em 1975 o Conselho Nacional
de Leigos e Leigas Católicos do Brasil – CNL, sucedido em maio de 1997
pelo Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB)
– órgão de representação do laicato junto à CNBB – que trabalha em
comunhão com a Comissão Episcopal do Laicato (organismo responsável pela
organização pastoral dos leigos nos Setores CEB’s e Leigos).
Destaca-se o esforço do CNLB na organização e formação dos leigos, com
inúmeros cursos e eventos por todo o Brasil, através de suas Regionais,
além de farto material elaborado por seus membros e
assessores,estimulando a participação do laicato nos vários organismos
sociais, de forma a efetivar a presença cristã na sociedade. Resulta
desta atuação o grande número de leigos envolvidos em organizações
populares, ONGs, sindicatos, partidos políticos etc. Sem fazer muita
propaganda dão testemunho de inserção na massa ocupando lugares na
sociedade em nome da fé e da certeza de que, como membros do Povo de
Deus, são presença eclesial no mundo e, desta forma, cumprem o mandato
de Jesus.
Merece destaque, a publicação pela CNBB, do Doc 62 – Missão e Ministérios dos Cristãos Leigos e Leigas,
em 1999, que trata da missão, dos ministérios leigos e da
espiritualidade no apostolado. A formação, como condição essencial para
um apostado eficiente e eficaz, é também lembrada no Documento de
Aparecida, nos capítulos que tratam da Catequese Permanente dos
discípulos missionários (VI. 6.3.3. e 6.4.).
Sobre a Vocação e Missão dos leigos na
Igreja e no mundo, o Papa João Paulo II exorta: “todos os fiéis, de
qualquer estado ou ordem, são chamados à plenitude da vida cristã e à
perfeição da caridade; são convidados e têm por obrigação tender à
santidade e à perfeição do próprio estado”. A ação dos leigos passa a
ter importância e ser considerada na Pastoral Vocacional, e confirmada
no Catecismo da Igreja Católica: “os fiéis leigos estão na linha mais
avançada da vida da Igreja: graças a eles a Igreja é o princípio vital
da sociedade humana” (CIC 898).
Vale a pena lembrar aos que pretendem
engajar-se no seguimento a Jesus que: “Aquele que dentre vós quiser ser
grande, seja o vosso servidor” (Mc 10,43). Este desafio tem marcado as
relações entre clérigos e leigos desde o Concílio Vaticano II e reclama
urgente solução para que a Igreja, como verdadeiro Povo de Deus, possa
cumprir sua missão salvífica e missionária. Que o leigo, atento à sua
vocação própria, possa estar sempre pronto a cumprir sua missão, e
quanto maior for a abertura desse caminho, outros tantos batizados
também poderão trilhá-lo em busca de sua vocação na Igreja e no mundo.
Notas
[1] O vocábulo ‘leigo’ vem de laós-laikós que, em grego, significa povo e membro do povo.
[2] A Ação Católica é o nome dado ao
conjunto de movimentos leigos, suscitados a partir de 1930, visando
ampliar a influência da Igreja Católica na sociedade e o fortalecimento
da fé, com base na Doutrina Social da Igreja. No Brasil a Ação Católica
compreendeu: a Juventude Agrícola Católica (JAC), a Juventude Estudantil
Católica (JEC), a Juventude Independente Católica (JIC), a Juventude
Operária Católica (JOC) e a Juventude Universitária Católica (JUC).
Referências Eletrônicas
Azevedo,Laudelino Augusto dos Santos, O Laicato Nos 50 Anos Do Concílio Ecumênico Vaticano II
Bingemer, Maria Clara Lucchetti, Da Teologia do Laicato à Teologia do Batismo
João Paulo II, Exortação Christifideles Laici
Klaus da Silva Raupp, Contexto Geral Anterior ao Documento
_______________, A Virada Eclesiológica e os Leigos na Lumen Gentium
Kloppenburg, Boaventura, O Protagonismo dos Fiéis Leigos
Para Refletir:
1) Você considera que a Igreja está aberta ou preparada para o protagonismo do leigo?
2) Nas Comunidades que você conhece, os leigos têm sido motivados a viver esse protagonismo de fé?
3) Você conhecia o Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB) e suas atividades? O que isto desperta em você?

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