23ª Ficha: Gravissimum Educationis(GE)
Sobre a Educação Cristã
A Declaração Gravissimum Educationis (GE),
proclamada pelo Papa Paulo VI, em 28/11/1965, trata da educação cristã e
sua importância na vida da pessoa, entendida como uma educação integral
na perspectiva do Evangelho, promotora de humanização e defensora da
presença cristã no mundo da educação. Esta declaração deve ser
compreendida na perspectiva da Constituição Pastoral Gaudium et Spes,
que se refere à ação e presença pastoral da Igreja no mundo. A GE
considera atentamente a importância da educação na vida do homem e a
influência cada vez maior que desempenha no progresso social de nosso
tempo, e ressalta que a Educação constitui um patrimônio cultural e
social a que todos têm direito, pois possibilita a superação das graves
diferenças sociais. Além disso, reconhece que o homem, a partir da
educação, torna-se mais consciente de sua dignidade e de seus deveres e,
consequentemente, anseia cada vez mais participar dos aspectos da vida
econômica, social e política da sociedade em que vive.
A Igreja, educadora por vocação, sempre
acreditou que todos têm direito à formação integral, por isso acolheu
com muita esperança o artigo XXVI da Declaração dos Direitos Humanos que
afirma que “toda pessoa tem direito à instrução, ao menos no nível
fundamental; que esta instrução seja gratuita e orientada para
desenvolver a personalidade humana, fortalecer o respeito pela liberdade
e pelos direitos humanos fundamentais”, preparando a pessoa para fazer
parte na vida social, aberta ao diálogo com os outros e pronta a
trabalhar pelo bem comum. O Concílio acrescenta pedindo que nunca seja
privado às crianças e adolescentes o direito de conhecer e cultivar os
valores morais, assim como conhecer e amar a Deus com maior perfeição.
O dever de educar começa pela família, a
primeira célula social, também chamada pelos cristãos de Igreja
doméstica. Ela é a primeira escola e é responsável por criar um ambiente
favorável à completa educação pessoal, cristã e social dos filhos que
veem no exemplo dos pais e dos irmãos um modelo de vida a ser seguido
(Cf.‘A Dignidade do Matrimônio e da Família e a Promoção da Cultura’).
Considerando-se que toda educação é
transformadora, a Igreja promove a educação cristã aos batizados,
introduzindo-os gradualmente no conhecimento do mistério da salvação.
Além dos vários momentos da catequese permanente, a Igreja mantém sua
prática secular de ensinar através de escolas católicas que, em tempos
passados, se justificava por dois motivos complementares: primeiro,
porque não havia escolas públicas suficientes, especialmente para os
pobres; segundo porque a Igreja entendia que devia formar os cristãos
num ambiente católico, protegendo-os do mundo. Na GE a Igreja reafirma
seu direito de, livremente, fundar e dirigir escolas de qualquer espécie
e grau, e atualiza seu propósito: oferecer uma formação humanista
fundamentada nos valores do Evangelho que contribua para a liberdade de
consciência e o progresso da própria cultura; um espaço específico para a
formação acadêmica dos cristãos que desejam ser presença evangelizadora
no mundo e, por fim, garantir aos pobres o acesso à educação. Passados
quase 50 anos, este propósito continua um grande desafio, pois a falta
de escolas de qualidade na rede pública contribuiu para que o mercado
educacional crescesse e, em função disso, muitas escolas Católicas se
tornaram apenas mais uma escola particular. A GE lembra que a
participação da Igreja no mundo da Educação deve ser uma presença
profética contra os apelos do capital, e que promova o encontro das
pessoas com os valores do Reino de Deus. Num segundo plano, porém, não
menos importante, o Concílio lembra que as escolas Católicas,
principalmente as Universidades, são responsáveis pela formação do
pensamento católico e dos agentes de pastoral, dentre estes o clero.
A sociedade também tem a função de
formar seus cidadãos, defender os direitos dos pais, proporcionar
formação aos professores e fundar escolas e instituições, na medida em
que o bem comum o exigir. Ela faz isto através da Escola, que deve
promover o cultivo das faculdades intelectuais ao mesmo tempo em que
trabalha o sentido dos valores, introduz o aluno ao patrimônio cultural
das gerações anteriores e o prepara para a vida profissional, tudo
passando pelo convívio social, pela amizade e pelo reconhecimento das
diferenças pessoais. Assim, o documento salienta, ainda, a beleza da
vocação, a grande responsabilidade e a solidez da formação dos que
educam nas escolas, dando continuidade ao trabalho iniciado pela
família. Na perspectiva dos outros documentos do Concílio, a GE declara
que o ministério dos professores é um autêntico apostolado e um
verdadeiro serviço prestado à sociedade. Na mesma linha, lembra aos
cristãos a necessidade de colaborarem nas atividades da escola, na
formação de associações de pais e no acompanhamento da educação moral
que deve ser ministrada, bem como zelar pela liberdade religiosa diante
do pluralismo da atual sociedade.
Concluindo, o Concílio exorta os jovens a
estarem abertos à educação e confessa sua gratidão aos que se dedicam
evangelicamente a ser educadores, e espera que todos se esforcem sempre
para levar o espírito de Cristo às atividades pedagógicas e ao estudo
das ciências, promovendo a renovação interna da Igreja e sendo uma
presença cristã no mundo de hoje.
No período pós-Concílio são abertos, na
América Latina, novos rumos para a educação, e surgem novos documentos,
como na Conferência de Medellin (1968), que propõe, o que os bispos
chamaram de Educação Libertadora, “uma educação mais
conforme com o desenvolvimento integral da pessoa, aquela que converte o
educando em sujeito do próprio desenvolvimento”. Na Conferência de
Puebla (1979) é ressaltada a Educação Evangelizadora,
afirmando que “a educação é parte integrante da missão evangelizadora da
Igreja”. O documento de Puebla completa o de Medellin, considerando
que, pela educação, a pessoa não só é sujeito do próprio
desenvolvimento, mas está a serviço do desenvolvimento da comunidade. Na
Conferência de São Domingos (1992), valoriza-se o mestre cristão como
“sujeito eclesial que evangeliza, catequiza e educa cristãmente”. E, na
Conferência de Aparecida (2008) a escola católica, através de uma
pastoral da educação participativa, é chamada a uma profunda renovação
que resgate a identidade católica (DA 337). Quanto ao papel da educação
na própria Igreja, enfatiza-se a renovação das Paróquias como rede de
Comunidades; e a Iniciação Cristã e a Catequese Permanente como caminhos
para a formação dos discípulos missionários (DA 286, 295, 304-6),
estimulando inclusive, a utilização do espaço virtual como apto e eficaz
para formar e educar, conforme indicou a mensagem para o 36º Dia Mundial das Comunicações Sociais
(2002): “Para a Igreja, o novo mundo do espaço cibernético é uma
exortação à grande aventura da utilização de seu potencial para
proclamar a mensagem evangélica”.
No Brasil, a CNBB publicou o Documento 47 Educação, Igreja e Sociedade
(1992), que é o orientador da ação pastoral da Igreja no Brasil no
campo da educação, segundo o método do ver, julgar e agir. A Pastoral da
Educação, que faz parte do Setor Educação,
responsável pela animação desta pastoral nas dioceses, procura
“desenvolver e harmonizar todas as potencialidades humanas, colocando-as
a serviço do bem comum e do desenvolvimento integral de todos:
cidadania no sentido amplo”. Desde 1995, o Setor Ensino Religioso se estruturou como específico para cuidar do projeto de Ensino Religioso.
Comprometer-se com a educação é
aproximar-se do maior de todos os educadores da humanidade, Jesus
Cristo, que disse: “Ide por todo o mundo e ensinai a todas as criaturas,
para que tenham vida e vida em abundância” (Mc 16,15; Jo 10,10).
Para refletir
1. Qual a importância da Educação Cristã?
2. Como você considera que tem acontecido a ligação entre família, Igreja e sociedade?
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