21ª Ficha: A Dignidade do Matrimônio e da Família, e a Promoção da Cultura (4ª GS)
Constituição Pastoral GAUDIUM ET SPES (GS)
Sobre a Igreja no mundo de hoje
Esta 21ª Ficha aborda sobre as reflexões
pastorais e orientações que a Igreja quis manifestar sobre algumas
realidades e/ou ’problemas mais urgentes’ que afetam profundamente a
humanidade, especificamente “A promoção da dignidade do matrimônio e da
família” e “A reta promoção da cultura”, citados nos capítulos I e II da
2ª parte da GS. Estas reflexões pastorais e orientações da Igreja se
concluirão na próxima Ficha, em que serão abordadas as questões
relativas à vida socioeconômica e política, à comunidade internacional e
à paz universal, sobre as quais devem resplandecer os princípios e as
luzes de Cristo para iluminar os homens na busca de soluções.
A Dignidade do Matrimônio e da Família
Toda pessoa humana nasce de uma família
humana, aquela pensada pelo Criador a partir da união do homem e da
mulher, colaboradores de Deus na obra da criação; e toda família deve
ser construída sobre a comunhão e o amor, tal qual a Santíssima
Trindade, sendo considerada a primeira manifestação da comunidade
humana, cuja expressão do amor maior se manifesta na geração de uma nova
vida. Com Cristo, a família alcança nova dimensão no Sacramento do
Matrimônio, marcado pela entrega, renúncia e doação que Cristo dedicou à
humanidade. Neste sentido, Cristo é o esposo, cuja esposa é a Igreja.
Cristo, aquele que ama, redime e cuida da Igreja, torna-se modelo de
relação matrimonial.
Para a Igreja, o matrimônio e a família
são instituições fundamentais para a preservação da vida e para a
constituição e a manutenção da sociedade, por isso se compromete na
defesa contra a poligamia, o divórcio, o amor livre, o egoísmo, o
hedonismo e o controle de natalidade. E afirma, ainda, que as condições
econômicas, sociais e políticas também causam diversas perturbações na
família e na sociedade. Ela entende a família como uma escola de
humanização que orienta os filhos para seremcapazes de seguir com
responsabilidade a sua vocação, por isso, exorta toda a sociedade e
especialmente os cristãos a promoverem a dignidade do matrimônio e da
família, a fim de garantir que a sociedade possa se perpetuar segundo os
valores da vida.
Em 1973, o Papa Paulo VI criou o Comitê
para a Família e, em 1981, o Papa João Paulo II instituiu o Pontifício
Conselho para a Família, responsável pela promoção deste apostolado e
pela divulgação do magistério eclesial, que organizou o primeiro
Encontro Mundial das Famílias [1] em Milão, na Itália, no Ano
Internacional das Famílias (1994), lançando, desde a sua criação, vários
documentos sobre a família, sendo o primeiro deles a Exortação
Apostólica Familiaris Consortio “sobre a função da família
cristã no mundo de hoje” (1981) que, na sua quarta parte, indica
orientações para a intensificação da Pastoral Familiar. Ela destaca o
cuidado com as mais variadas situações que atingem as famílias, o que
se caracteriza como um grande desafio à Igreja, que são: os matrimônios
mistos, as uniões civis, as segundas uniões, os divorciados e os sem
família. Esta preocupação com a dura realidade de muitas famílias
contribuiu para a solidificação da Pastoral Familiar e dos vários
movimentos familiares, que já existiam na maioria das dioceses. Em 1983,
a Santa Sé publicou a Carta dos Direitos da Família, como um grande apelo às autoridades e à sociedade civil para protegerem e garantirem os direitos da família.
Todas as Conferências Episcopais
Latino-Americanas (CELAM) valorizaram a família e incentivaram a
promoção da Pastoral Familiar. Especialmente, a Conferência de Aparecida
tratou dos desafios que se apresentam à família, como a desvalorização
das tradições culturais; o surgimento das “ideologias de gênero e a
subjetividade individual” que enfraquecem os vínculos comunitários; o
exacerbado apego aos bens materiais; e o desrespeito à dignidade humana,
no que se refere à falta de condições básicas como trabalho, moradia,
educação, saúde e transporte.
No Brasil, a Comissão Nacional da
Pastoral Familiaré responsável pela coordenação e animação da Pastoral
Familiar nas dioceses, e em algumas delas já existe o Acolhimento aos
casais de segunda união.
A Promoção da Cultura
A GS é o
primeiro documento eclesial que faz uma reflexão pastoral sobre a
importância da cultura na vida dos mais variados povos. Os bispos
afirmam que as ‘culturas’representam o patrimônio das comunidades
humanas, nas quais, no processo de integração, vão se ligando umas às
outras através da comunicação e das relações comerciais, propiciando a
divulgação e o progresso das mesmas. Na edificação de um mundo mais
fraterno e humano, a Igreja, ao destacar a importância da cultura na
vocação integral do homem, indica que o conhecimento pode e deve ajudar a
humanidade a elevar as concepções mais sublimes da verdade, do bem e da
beleza. A cultura contribui para que o ser humano construa uma
sociedade fundamentada na verdade, na justiça e na responsabilidade.
Quanto às ciências, elas contribuem
muito para o crescimento da cultura nos vários países e no mundo. Dentre
os valores positivos, se pode citar o gosto pelasinvestigações, a
necessidade de mútua colaboração entre os pesquisadores, o sentimento da
solidariedade internacional em vista da promoção da dignidade humana,
especialmente dos mais necessitados. Por outro lado, a especialização e o
progresso da técnica e da ciência acabam não penetrando até às causas
últimas das coisas e levam o homem a julgar que se basta a si mesmo,
deixando de lado a procura pela transcendência.
A Igreja lembra que entre a mensagem da
salvação e a cultura humana existem muitos laços, pois Deus falou
segundo a cultura própria de cada época, e ela mesma emprega os recursos
das diversas culturas para fazer chegar a todas as gentes a mensagem de
Cristo, e se esforça para entrar em comunicação com as diversas formas
de cultura, promovendo um enriquecimento mútuo. Para ela a cultura deve
orientar-se para a perfeição integral da pessoa humana, para o bem da
comunidade e de toda a sociedade.
Entendendo que a cultura exige respeito,
liberdade e autonomia para se desenvolver, a Igreja exorta as
autoridades públicas a favorecerem e colaborarem para o desenvolvimento
cultural. De forma surpreendente, a Igreja apregoa que todos têm o
direito à cultura e ao pleno desenvolvimento conforme as qualidades e
tradições próprias de cada um, independentemente de raça, sexo, nação,
religião ou situação social. Na perspectiva de outros documentos do
Vaticano II, a Igreja manifesta que a cultura é um bem inestimável e que
ela é fundamental para promoção da fraternidade e da dignidade humana.
O Concílio exorta a necessidade de uma
estreita união entre os homens, buscando a compreensão do modo de
pensar e sentir expresso por cada cultura, conciliando os novos
conhecimentos das ciências e das doutrinas, a fim de que a prática
religiosa e a retidão moral acompanhem neles o conhecimento científico e
o progresso técnico, e sejam capazes de apreciar e interpretar todas as
coisas com autêntico sentido cristão. De modo bastante pertinente, o
Papa João Paulo II lembrou que: “a ciência pode purificar a religião do
erro e da superstição, e a religião pode purificar a ciência das falsas
verdades absolutas”.
Em 1982, o Papa João Paulo II criou o
Pontifício Conselho para a Cultura que emana orientações sobre a ação
da Igreja no campo da Cultura, sendo a principal delas ‘‘Para uma Pastoral da Cultura’ (1999).
No Brasil, a Comissão Episcopal para
Educação e Cultura, da CNBB, é a responsável pela organização e animação
pastoral da cultura nos três setores, os quais ela está subdividida:
Universidade, Educação e Ensino Religioso.
Nota
[1] O Encontro Mundial
das Famílias é realizado a cada três anos. O Brasil o acolheu, em 1997,
no Rio de Janeiro. Em 2012, ele será realizado novamente em Milão,
Itália.
Para refletir:
1) Qual a importância da família cristã na sociedade moderna?
2) Na sua opinião, em quais aspectos a dignidade do matrimônio e da família devem ser defendidos e/ou promovidos?
3) Você concorda que o acesso à Cultura é um direito humano, tal qual expressa a GS?
4) Porque na GS a Igreja considera que Ciência e a Cultura são importantes no desenvolvimento social?
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