18ª Ficha: Uma Igreja atenta às alegrias, angústias e esperanças da humanidade
Constituição Pastoral GAUDIUM ET SPES
Sobre a Igreja no mundo de hoje
Com esta 18ª Ficha, iniciamos o estudo da Constituição Pastoral “Gaudium et Spes” (GS), sobre a Igreja no mundo de hoje. Ela, juntamente com as Constituições Sacrosanctum Concilium (SC), Lumen Gentium (LG) e Dei Verbum (DV) formam
o que podemos chamar de “Corpo Constitucional” do Concílio Vaticano II,
a partir do qual emanaram todos os demais Documentos Conciliares.
Promulgada pelo Papa Paulo VI, no dia 07 de Dezembro de 1965, esta Constituição se abre pelas palavras latinas Gaudium et Spes que se traduzem por Alegrias e Esperanças, e que lhe dão o título, de acordo com a tradição eclesiástica [1].
Trata-se de um longo documento, que abrange 93 artigos, dividido de acordo com o seguinte plano: Proêmio: Solidariedade
da Igreja com a Família Humana Universal, que é destinatária das
palavras do Concílio, e para quem a Igreja se põe a serviço; Introdução: A Condição do Homem no Mundo de Hoje; I Parte:
“A Igreja e a Vocação do Homem”, dividida em quatro capítulos: Cap. I: A
Dignidade da Pessoa Humana, Cap. II: A Comunidade Humana, Cap. III:
Sentido da Atividade Humana no Mundo, Cap. IV: Função da Igreja no Mundo
de Hoje; e, II Parte: ”Alguns Problemas mais
Urgentes”, dividida em outros quatro capítulos: Cap. I: A Promoção da
Dignidade do Matrimônio e da Família, Cap. II: A Reta Promoção da
Cultura, Cap. III: Vida Econômico-social, Cap. IV: A Vida da Comunidade
Política [2].
Em nosso estudo, o Documento será
dividido em cinco Fichas: GS-01 – Uma Igreja atenta às alegrias,
angústias e esperanças da humanidade; GS-02 – A pessoa e a Comunidade
Humana segundo a Igreja; GS-03 – A vocação do homem e a função da Igreja
no mundo contemporâneo; GS-04 – A dignidade do Matrimônio e da Família,
e a promoção da Cultura; e GS-5 – Desenvolvimento econômico, político e
social: o novo nome da Paz.
A GS é denominada Constituição Pastoral,
porque seu conteúdo, a partir do Proêmio, demonstra a clara intenção de
apresentar uma nova autocompreensão da vocação da Igreja como serviço
(diaconia) ao mundo e à humanidade e, embora na sua primeira parte trate
de questões doutrinárias, na segunda, vai tratar de vários aspectos da
vida de hoje e da sociedade humana, enfatizando os problemas mais
urgentes que atingem a humanidade, portanto, questões pastorais (Nota 1
da GS). Ela revela a tendência inovadora de grande parte dos Bispos
conciliares que desejavam uma renovação pastoral na Igreja, com a clara
intenção de torná-la mais próxima do mundo moderno, fazendo brotar e
alimentar a esperança da humanidade num mundo melhor. Nesta perspectiva,
é muito significativa a visita que o Papa Paulo VI fez à Sede da ONU,
em 4 de outubro de 1965, quando, em seu discurso aos representantes dos
vários países, quase antecipou aquilo que seria a linha mestra da GS e
da futura Encíclica Populorum Progressio, ao dizer que: ‘esta Organização (ONU) representa o caminho obrigatório da civilização moderna e da paz mundial’.
De fundamental importância para o aggiornamento preconizado
pelo Papa João XXIII, e assumido por Paulo VI, a GS e a LG trouxeram
uma nova visão da Igreja para o mundo e do mundo para a Igreja. Na sua
abertura ao diálogo com toda a humanidade, a Igreja ‘Povo de Deus’ se
faz presente na história humana buscando a reformulação das estruturas
pecaminosas que são as causas da injustiça, da opressão e da exclusão
social. Não sem razão, o Padre Alfredo J. Gonçalves se refere à GS como a
“Carta Magna da Pastoral Social” [3], pois ela foi a base para o
surgimento das chamadas pastorais sociais, implantadas nos últimos
cinquenta anos, cuja ação se dá em função da consciência de que a Igreja
somente será sinal do Reino, na história humana, se anunciar, com suas
práticas e consequências, o Evangelho de Cristo a todos (GS43).
Na Mensagem de Natal de 1965,
o Papa Paulo VI citando à GS, lembra que ”As páginas dessa
constituição levam de novo a Igreja ao meio da vida contemporânea, não
para dominar a sociedade, nem para dificultar o autônomo e honesto
desenvolvimento de suas atividades, mas para iluminá-la,
sustentá-la e consolá-la” , no destino transcendente de salvação
e de felicidade ”aberto aos homens por esse Cristo cujo
humilde e glorioso nascimento celebramos”. Embora publicada há quase
50 anos, ela continua trazendo elementos preciosos para entender as
transformações às quais passa a sociedade moderna.
No Proêmio, o Concílio Vaticano II,
colocando-se em completa solidariedade com a humanidade, dirige a sua
palavra a todos os homens, e deseja expor-lhes o seu modo de conceber a
presença e atividade da Igreja no mundo de hoje (GS2). Demonstra
a sua solidariedade, respeito e amor para com a família humana,
estabelecendo com ela um diálogo iluminado à luz do Evangelho,
fornecendo os recursos que a própria Igreja recebe de seu Fundador, na
perspectiva de salvação da pessoa humana e renovação da sociedade. E,
embora a humanidade seja destinatária de suas palavras e de sua
mensagem, a Igreja se dirige, principalmente, à sua parcela mais
sofrida, a exemplo de Cristo (GS3).
Na Introdução, a GS delineia alguns
problemas que afetam a humanidade, e a própria condição do homem e da
mulher no mundo atual (GS4); as profundas mudanças ocorridas nos últimos
tempos no campo social, psicológico, moral e religioso, bem como os
avanços da ciência e da técnica (GS5); as mudanças sociais (GS6); as
mudanças Psicológicas, Morais e Religiosas (GS7); e, sobretudo, os
desequilíbrios pessoais familiares e sociais do mundo moderno (GS8).
Elabora ainda uma síntese das aspirações mais universais da humanidade,
convencida de que o gênero humano pode e deve dominar mais intensamente
as coisas criadas para estabelecer uma ordem política, social e
econômica que sirva para o bem de toda humanidade, sem esquecer que as
nações em desenvolvimento, e aquelas que obtiveram sua independência em
tempos recentes, desejam participar dos bens universais no campo
político e econômico, aspirando ao seu livre desempenho no plano
mundial.
Observa, todavia, o aumento cada vez
maior da dependência econômica das nações mais pobres em relação às mais
ricas e de progresso mais rápido – os oprimidos e famintos interpelam
os povos mais ricos; que as mulheres, onde ainda não conseguiram,
reivindicam a igualdade de direito e de fato com os homens; que os
trabalhadores almejam não apenas ganhar o necessário para sobreviver,
mas desenvolver, pelo trabalho, as próprias qualidades e personalidades,
e também, participar na organização da vida econômica, social, política
e cultural. Surge, pela primeira vez na história humana o convencimento
de todos os povos de que os bens da cultura podem e devem estender-se a
todos. Sob todas estas reivindicações lateja uma aspiração mais
profunda e universal: as pessoas e os grupos desejam uma vida plena e
livre, digna do homem, colocando ao seu próprio serviço tudo quanto o
mundo moderno lhes pode oferecer com tanta abundância. Além disso, as
nações se esforçam cada vez mais para edificar uma comunidade universal.
Diante do mundo moderno que se apresenta
simultaneamente poderoso e débil, capaz de realizar o melhor e o pior,
ao homem se abre o caminho da liberdade ou escravidão, do progresso ou
do regresso, da fraternidade ou do ódio. Em face deste conflito entre a
busca de um mundo melhor por uma parte da humanidade e ambição
desenfreada de outra parte, os homens de boa vontade se interrogam sobre
sua vocação (GS9).
Finalizando a Introdução, a GS firma a
convicção de que, somente à luz da opção evangélica de vida, a
humanidade encontrará a chave para a solução dos problemas que a afetam,
pois os desequilíbrios que atormentam o mundo moderno estão vinculados
ao desequilíbrio mais fundamental radicado no coração do ser humano,
expondo que:
A Igreja, por
sua parte, acredita que Jesus Cristo, morto e ressuscitado por todos,
oferece aos homens, pelo seu Espírito, a luz e a força para poderem
corresponder à sua altíssima vocação; nem foi dado aos homens sob o céu
outro nome, no qual devam ser salvos. Acredita também que a chave, o
centro e o fim de toda a história humana se encontram no seu Senhor e
mestre. E afirma, além disso, que, subjacentes a todas as
transformações, há muitas coisas que não mudam, cujo último fundamento é
Cristo, o mesmo ontem, hoje, e para sempre. Quer, portanto, o Concílio,
à luz de Cristo, imagem de Deus invisível e primogênito de toda a
criação, dirigir-se a todos, para iluminar o mistério do homem e
cooperar na solução das principais questões do nosso tempo (GS10).
Obs.: As citações textuais foram retiradas do texto da GS postado no site do Vaticano
Notas
[1] Todos os documentos pontifícios assumem como título as primeiras palavras de sua introdução.
[1] Todos os documentos pontifícios assumem como título as primeiras palavras de sua introdução.
[2] Dependendo da edição ou da editora, podem ocorrer pequenas mudanças nos títulos, sem alterar, no entanto, seu sentido.
Para refletir:
1. Sabendo que a GS tem a clara intenção de exprimir as relações da Igreja com o mundo e a humanidade, você acha que esta preocupação do Concílio é procedente, por quê?
2. De que forma você julga que a Igreja pode colaborar com a humanidade no sentido de auxiliar na resolução dos problemas que a afligem?
3. Qual a importância das pastorais sociais na vida da Igreja e na sociedade?
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