28ª Ficha: Decreto Ad Gentes (AG)
Sobre a Atividade Missionária da Igreja
A Ficha 28 apresenta o Decreto Ad Gentes
(AG), que trata da atividade missionária da Igreja, publicado pelo Papa
Paulo VI, em 7 de dezembro de 1965. A Constituição LG, promulgada em
novembro do ano anterior, destacou a teologia da missão, ou seja, a
missão eclesial à luz da atividade de Jesus ou como definido no
parágrafo 17, “A índole missionária da Igreja”, e este Decreto AG visa
efetivar esta índole, apontando para as reflexões ‘pastorais’ da
atividade missionária.
Sob a perspectiva do conjunto dos documentos conciliares – Constituições (LG, GS, DV e SC – com destaque para a Lumen Gentium
que trata da missão universal da Igreja); Declarações (NA e DH) e
Decretos (UR, AA) – que propiciaram amplas reflexões sobre a Missão da
Igreja, às portas da passagem para o segundo milênio, este Decreto AG,
se visto separadamente dos outros, pode parecer restritivo à missão ad gentes,
ou seja, voltada apenas aos povos estrangeiros, e contrário ao espírito
do Concílio. Porém, visto como parte integrante do conjunto, percebe-se
que ele faz a ligação entre as reflexões teológicas e pastorais
relacionadas àmissão em geral.Sem abandonar ou diminuir a necessária e
tradicional missão ad gentes, de ir ao encontro dos povos
estrangeiros, este documento, embasado nos textos conciliares, acima
citados, enfatiza que não são somente os povos distantes ou isolados
geograficamente que precisam ser evangelizados, mas que toda a Igreja
precisa passar por uma metanóia (conversão), por um profundo processo de revisão eclesial para ser uma presença efetiva no mundo.
O AG inicia seu texto mostrando que “a
Igreja, enviada por Deus a todas as nações para ser ‘sacramento
universal de salvação’, por exigência da própria catolicidade, obedece
ao mandato do seu Fundador, procurando incansavelmente anunciar o
Evangelho a todos os homens, delineando os princípios da atividade
missionária.”
Os três primeiros capítulos tratam dos
Princípios Doutrinais, da Obra Missionária e das Igrejas Particulares. O
primeiro lembra que a natureza missionária da Igreja tem sua origem na
missão do Filho e na missão do Espírito Santo, por desígnio de Deus Pai,
proveniente da caridade divina. A obra missionária iniciada pelo Filho
se completa com a ação do Espírito Santo presente na Igreja e no mundo, o
novo Povo de Deus que busca cumprir o mandato de Jesus: “Ide, pois,
fazei discípulos de todas as nações, batizando-as em nome do Pai, do
Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a cumprir tudo quanto vos
prescrevi” (Mt. 28, 19-20).
Com relação ao capítulo, “A Obra
Missionária”, o documento considera que ainda há muitas pessoas que não
conhecem o Cristo, ou, se conhecem, é de forma limitada, e a Igreja
entende que é sua missão anunciá-lo através da Ação Pastoral que pode
ser entendida de três modos:
1- Na Igreja que se faz presente pela
ação de todos os batizados que se esforçam para dar testemunho da fé,
através da vivência diária dos valores evangélicos e da prática das
obras de caridade, principalmente no campo social, cumprindo sua missão
no mundo;
2- Na Igreja que se manifesta, pela ação
da comunidade eclesial, com o compromisso de anunciar o Evangelho
àqueles que desejam ser introduzidos nos mistérios da fé, através do
processo de catecumenato[1];
3- E por fim, na Igreja que se realiza
através daqueles que vão a territórios que ainda não conhecem o
Evangelho ou o conhecem insuficientemente. Uma Igreja atenta à situação
de miséria que atinge muitos povosque, seguindo o exemplo de Jesus, que
percorria povoados e cidades atendendo a todos,também precisa ir de
encontro aos pobres e necessitados e sofrer com eles, para lhes
comunicar a Palavra e a Vida. Esta ação evangelizadora visa a criação de
novas comunidades e de novas Igrejas Particulares (Dioceses),
especialmente, em territórios de missão.
O Documento, ao abordar “As Igrejas
Particulares”, lembra que a criação das novas Dioceses deve estar em
função do serviço pastoral do Povo de Deus, principalmente dos mais
pobres. Deve ser Igreja para todos, construída com a colaboração
ministerial dos bispos, presbíteros, religiosos, leigos e leigas,
incentivando o trabalho e criando novas formas de atividade
missionária[2], buscando meios de atualizar-se para melhor servir e
fortalecer as Igrejas nascentes, que devem ser fundadas em torno da
Palavra e da Eucaristia que alimentam e orientam os cristãos chamados a
serem, também, missionários.
O Documento trata também,
especificamente da prática da missão, de como ela é e pode ser
organizada, e ainda sobre a cooperação de todo o Povo de Deus para que
esse trabalho se efetive. Quanto ao capítulo IV, “Os Missionários”,
destaca que todos devem ter formação doutrinária e espiritual adequada e
que, especialmente os que vão para outras regiões, precisam estar
vinculados a um organismo responsável pela Missão. Insiste que as
Conferências Episcopais devem promover a formação bíblica, teológica,
espiritual e pastoral dos fiéis missionários, sejam eles presbíteros,
religiosos ou leigos. O capítulo V, “A organização da atividade
missionária”, dedica-se à organização da estrutura necessária para a
realização da Missão a nível internacional (Pontifícios Conselho para a
Evangelização), nacional (Secretarias das Conferências Episcopais) e
local (Secretariado Diocesano e/ou Coordenação de Pastoral) [3]. O
capítulo VI, que destaca sobre “A cooperação”, retoma e enfatiza que a
responsabilidade da Missão é de toda a Igreja: leigos, presbíteros,
religiosos e bispos.
Depois do Concílio, surgiram novas luzes
sobre missão, evangelização, progresso humano e diálogo. O tema da
missão foi retomado na Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi (1975) do Papa Paulo VI, na Exortação Apostólica Pós-Sinodal Christifideles laici (1988) e atualizado na Encíclica Redemptoris Missio,
ambas do Papa João Paulo II (1990), que distinguiu a atividade
pastoral e os novos passos da Evangelização às nações, acrescentando os
âmbitos territoriais, os fenômenos sociais novos e as áreas culturais a
que chamou de aerópagos modernos. Na América latina, as Conferências de
Medellín (1968) e Puebla (1979) assinalam a inculturação, a inclusão
social, a opção pelos pobres e o mundo cultural diversificado, como
tópicos a serem considerados na missão. A Conferência de Aparecida
resgatou a ideia que toda a Igreja é missionária, o que reestruturou a
ação da Igreja como ‘ação Evangelizadora’, especialmente em seu sexto
capitulo que trata dos ‘Discípulos Missionários’.
Diante de um mundo que se fecha à
proposta do Reino de Deus, a mensagem final do Documento de Aparecida
chama os cristãos a serem discípulos-missionários, exigindo uma adesão
clara por Jesus e ao seu Evangelho; uma coerência entre fé e vida; e
pela necessidade dos cristãos de serem um sinal de contradição diante de
tudo o que desfigura a crença nos valores que dignificam o ser humano
(DA, 2008). Registre-se ainda o Documento 88 da CNBB, ‘O Brasil na
Missão Continental’ (2008), que salienta a sintonia e a comunhão com as
Igrejas particulares da AL e do Caribe empenhadas na Missão Continental
proposta pela Conferência de Aparecida. À Igreja, em atitude de diálogo,
cabe anunciar e reanunciar a pessoa e a mensagem de seu Mestre, indo ao
encontro dos grupos humanos ou categorias sociais que merecem atenção
especial e lhes dar prioridade no trabalho de evangelização,
testemunhando uma Igreja samaritana que conclama a comunhão de todos os
seres humanos para a busca da cultura da vida, a caminho do Reino
definitivo[3]. Destaca-se também que o trabalho da CNBB é ligado ao
CELAM (Conselho Episcopal Latino Americano) na Missão “Ad Gentes”, que
coordena toda a ação missionária na AL e no Caribe.
Quando se comemora os 50 anos do
Concílio Vaticano II e os 40 anos do COMINA (Conselho Missionário
Nacional) – organismo cuja finalidade é a animação, a formação, a
organização e a cooperação missionária além-fronteiras das igrejas
locais – na preparação ao 3º Congresso Missionário Nacional em 2012,
grupos de trabalho associados à instituição observam o quanto ainda será
preciso trabalhar para se chegar às propostas do Concílio e para tornar
os cristãos verdadeiramente discípulos-missionários nos lugares onde
estão. Ao mesmo tempo,a Comissão para a Ação Missionária enfatiza que a
Missão além-fronteiras continua sendo um desafio, pois a Igreja, mesmo
com dificuldades para realizar a sua ação, por falta de recursos e
agentes, também deve repartir a sua pobreza e enviar missionários ‘ad
gentes’, isto é para regiões onde não há quase nenhum. ‘Uma Igreja local
não pode esperar atingir a plena maturidade eclesial e, só então,
começar a preocupar-se com a Missão para além de seu território. A
maturidade eclesial é consequência, e não apenas condição, de abertura
missionária’ [4]. A missão é necessária! Ir ao encontro do outro também,
razão de ser do nosso Batismo. Afinal, é para isso que Ele nos envia.
Notas
[1] Caminho formativo, conhecido como Iniciação à Vida Cristã, que tem origem no início do Cristianismo.
[2] Quanto à ação dos Institutos preparadores para as Missões, assinalem-se: Pontifício Instituto das Missões Exteriores
(PIME), com sede na Itália e grande atuação em vários países. No
Brasil, realiza trabalhos junto as dioceses menos favorecidas; Centro Cultural Missionário
(CCM), vinculado à CNBB, responsável pela formação para missionários; o
Conselho Missionário Nacional (COMINA) com o objetivo de realizar uma
releitura do AG e fortalecer a articulação entre os Institutos
Missionários no Brasil; a Comissão Episcopal para a Ação Missionária,
(CNBB) realiza tarefas de animação, formação, organização e cooperação
em todos os níveis da Igreja e promove a ajuda intereclesial, isto é, a
tarefa de suscitar ações missionárias no interior do país, socorrendo
Dioceses, humana e economicamente pobres e também em missões
além-fronteiras. Geralmente, a Comissão Missionária Diocesana recebe o
nome de COMIDI e a Comissão Missionária Paroquial recebe o nome de
COMIPA.
[3] Doc 88 da CNBB: “Projeto Nacional De Evangelização: O Brasil Na Missão Continental”
[4] Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2003-2006, nº 138.
Conheça a explicação sobre a ‘Capelinha Missionária’, que ilustra esta publicação, assistindo o vídeo “Catequese sobre Capelinha Missionária” no Youtube.
Para refletir:
- O que significa para você ser missionário?
- Na sua comunidade, quais são as necessidades maiores de atuação como missionários?
- Você já pensou em que poderia atuar e se desenvolver como discípulo/missionário?

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