Ficha 2: O Evento “Concílio Vaticano II”

Ficha 2 -História: O EVENTO CONCÍLIO VATICANO II
Em 25 de Janeiro de 1959, o beato
papa João XXIII (1886-1963) surpreendeu o mundo e toda a Igreja com o
anúncio e a convocação do vigésimo primeiro Concílio Ecumênico,
conhecido como Vaticano II, porque acreditava-se que seu pontificado
seria breve, de transição. Mas, ao contrário do que se pensava, ele
convocou o Concílio porque teve a lucidez do momento histórico em que
atravessavam a Igreja e o mundo. Ele desejou realizar um Concílio para
que a Igreja se atualizasse e instaurasse um diálogo pleno de esperança
com a toda humanidade. Prova isso, a expressão “homens de boa vontade”
que ele, constantemente, usou para demonstrar sua abertura para com
todos que acreditavam na construção de um mundo melhor.
Desde o momento em que o Papa manifestou
a um grupo de cardeais a ideia de realizar um Concílio, pode-se dizer
ele começou a ser preparado, embora tenha sido convocado somente em 25
de dezembro de 1961 e iniciado em outubro do ano seguinte. Neste
período, foram criadas várias comissões com a finalidade de sugerir
temas a serem discutidos.
O evento Concílio Vaticano II teve
início em 11 de outubro de 1962 e conclusão em 08 de dezembro de 1965, e
foi realizado através de quatro sessões que aconteceram sempre entre os
meses de setembro a dezembro desses anos. O beato papa João XXIII
participou apenas da primeira sessão, pois morreu em 3 de junho de
1963. Paulo VI tornou-se papa em 21 de junho de 1963 e convocou, para
setembro do mesmo ano, a segunda sessão, participando também das sessões
seguintes e da conclusão do Concílio que definiu 16 documentos, sendo eles, quatro Constituições, nove Decretos e três Declarações.
As Quatro Constituições são: Lumen Gentium (LG) (21-11-1964) – sobre a natureza da Igreja e sua missão universal. Dei Verbum (DV) (18-11-1965) – sobre a Revelação Divina e de sua transmissão. Gaudium et Spes (GS) (07-12-1965) – sobre a Igreja no mundo de hoje. E Sacrosanctum Concilium (SC) (04-12-1963) – sobre a Liturgia e os Sacramentos.
Os Nove Decretos são: Unitatis Redintegratio (UR) (12-11-1964) – sobre o ecumenismo. Orientalium Ecclesiarum (OE) (21-11-1964) – sobre as Igrejas Orientais Católicas. AdGentes (AG) (07-12-1965) – sobre a atividade missionária da Igreja. Christus Dominus (CD) (28-10-1965) – sobre o ministério pastoral dos bispos na Igreja. Presbyterorum Ordinis (PO) (07-12-1965) – sobre o ministério e a função dos sacerdotes. Perfecta e Caritatis (PC) (28-11-1965) – sobre a atualização dos religiosos e Institutos de Vida Consagrada. OptatamTotius (OT) (28-11-1965) – sobre a formação presbiteral. Apostolicam Actuositatem (AA) (18-11-1965) – sobre os leigos. E Inter Mirifica (IM) (04-12-1963) sobre os meios de comunicação social.
As Três Declarações são: Gravissimum Educationis (GE) (28-11-1965) – sobre a educação cristã. Dignitatis Humanae (DH) (07-12-1965) – sobre a liberdade religiosa e sobre os direitos da pessoa humana. Nostra Aetate (NE) (28-10-1965) – sobre as relações da Igreja com as religiões não cristãs.
O Concílio teve como linhas mestras a atualização (Aggiornamento), o diálogo (comunhão
– corresponsabilidade, participação) e a renovação (diaconia, serviço)
como um novo modo de ser presença no mundo. Ele buscou promover o
diálogo e a unidade de todos os cristãos, e a paz no mundo, além da
valorização dos leigos. O seu ponto referencial foi Jesus Cristo,
Profeta, Sacerdote e Pastor, que serviu como modelo de ação pastoral e
evangelizadora da Igreja no mundo. Por desejo expresso do beato papa
João XXIII foram convidadas as Igrejas separadas de Roma: Anglicana,
Igrejas Alemãs, Escocesas e Orientais, das quais muitas responderam
positivamente. Além disso, ele contou com a presença de alguns cristãos
leigos como observadores e, sem sombra de dúvidas, foi o primeiro
Concílio a receber tão numerosa participação de Igrejas e seus
representantes, além dos leigos.
Sem mudar as verdades da fé, o Concílio
promoveu uma renovação da Igreja. Convidou os fiéis a olharem para o
cristianismo a partir da sua origem, e a deixarem de lado práticas menos
importantes adquiridas ao longo de uma caminhada de vinte séculos. O
Concílio resgatou a centralidade cristológica da fé, especialmente na
Liturgia, para que o sentido pascal se tornasse mais evidente, e
incentivou que as celebrações fossem mais voltadas para a realidade do
povo, mais participativa e comunitária. Porém, o mais importante foi a
noção de Igreja apresentada como Povo de Deus, isto é, a Igreja formada
pelo conjunto dos batizados e não somente pelo clero. Recupera-se o
sentido do ministério eclesial como serviço à comunidade que deve ser
exercido através do diálogo e da valorização de todos os seus membros.
Idealizou-se uma Igreja menos jurídica e
menos moralista, para ser mais profética e mais centrada na Bíblia que
passou a ser mais lida, mais estudada, mais conhecida, destacando-se
como fonte da pregação e da vivência cristã. Além disso, valorizou-se o
sentido do serviço e da corresponsabilidade.
O Concílio Vaticano II foi sem dúvida,
para a Igreja Católica, o maior acontecimento do século XX, inaugurando
um novo período de sua milenar História. Ele emergiu como o divisor de
águas, fundamental para a Igreja, originando um processo de abertura,
renovação e participação que foi determinante para as dioceses do mundo
todo. Especialmente, na América Latina o episcopado conseguiu, ao longo
desses cinquenta anos, criar um magistério próprio, manifestado nas
quatro últimas Conferências do Episcopado Latino Americano (CELAM),
sendo elas: Conferência de Medellín (1968), Conferência de Puebla (1978), Conferência de Santo Domingo (1992) e Conferência de Aparecida (2007). Como
consequência do Vaticano II, a Igreja da América Latina ganhou uma
fisionomia própria a partir da Conferência de Medellín, que buscou
interpretar o Concílio para a Igreja da América Latina, dando um salto
qualitativo pela explícita opção pelos pobres e lançando sementes de uma
Igreja mais popular, como as Comunidades Eclesiais de Base (CEB’s).
As CEB’s revelam uma Igreja mais
comunitária, mais embasada na Bíblia, através dos círculos Bíblicos que
multiplicam a experiência de pequenas células no interior da Igreja.
Muitos destes grupos passam a se dedicar às Pastorais Sociais, aos
movimentos de luta e às reivindicações populares. Com tudo isso, a
Igreja da América Latina definiu uma identidade eclesial que é fruto da
concepção de Igreja como Povo de Deus.
A interpretação libertadora do Concílio
Vaticano II fez história na América Latina em termos de Teologia, de
estruturas de Igreja e de práticas pastorais. Surgiu, neste momento, uma
Teologia Latino-Americana que recebeu o nome Teologia da Libertação
porque desejou dialogar com outras instituições e pensadores do campo
social e político que, igualmente, desejavam contribuir para a
libertação de todas as injustiças, e propunha que o pobre assumisse o
ser sujeito da história para mudar a sociedade.
Diz-se que o Vaticano II abriu as portas
da Igreja para o mundo e permitiu que o Espírito Santo renovasse todo o
seu interior pelo diálogo e pelo acolhimento do mundo moderno. Um
Espírito de renovação e de acolhimento, que continua a soprar ao seu
Povo, como uma brisa por toda a Igreja, dentro e fora de suas portas,
marcando a vida e a vocação missionária de toda a Santa Igreja, formada
de homens Santos e Pecadores, mas que busca incansavelmente, a
Santidade e o Reino de Deus.
Assim, os documentos que compõem o
Vaticano II nos falam do Espírito Santo que é livre e sopra onde quer,
razão máxima da importância desse evento histórico do século XX, que
continua a fazer história no século XXI. Nesses cinquenta anos de suas
propostas e disposições, ainda se busca a concretização e o justo
entendimento em toda a Igreja, pois o Espírito Santo não para de soprar
até que toda a Obra do Pai da Misericórdia seja completada. Daí a suma
importância do estudo e entendimento dos Documentos do Vaticano II por
todo o Povo de Deus.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CECHINATO, L. Os 20 Séculos de Caminhada da Igreja. Petrópolis, Vozes, 1996.
COMPENDIO DO VATICANO II Constituições, Decretos, Declarações. Rio de Janeiro: Vozes, ed. 4ª 1968.
LORSCHEIDER A., LIBÂNIO J. B., COMBLIN J., VIGIL J. M., BEOZZO J. O. Vaticano II 40 Anos Depois. São Paulo: Paulus, 2005.
MATOS, H. C. J. Caminhando pela História da Igreja. Belo Horizonte: O Lutador, V. III 1996.
________, ANTONIAZZI A. Cristianismo 2000 Anos de Caminhada. São Paulo: Paulinas, ed. 3ª, 1996.
Referências Eletrônicas.
Para refletir:
- O que foi o Concílio Vaticano II e qual seu significado para a Igreja em nossos dias?
- Como a Igreja é chamada a dialogar com o mundo de hoje?
- Como anunciar e viver o Evangelho para no mundo de hoje?
- O Vaticano II marcou e continua a marcar a vida eclesial?
- Como a Igreja pode ser presença divina e salvífica num mundo de mudança constante?
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