Fr. Fagner Dalbem Mapa, C.Ss.R.
Fráter Redentorista da Província do Rio e escritor do blog www.sabordafe.com
Experiência missionária na Amazônia 25/07/2012
O intuito era ir para Manaus para realizar o 31º encontro dos
junioristas redentoristas do Brasil, porém, acabou sendo muito mais do
que isso. Tudo começa no avião que saiu de Belo Horizonte às 9:30 do
sábado, dia 07/07/12, rumo a Manaus – AM. Depois de um pouco mais de
duas horas, a paisagem que passava pela janela me chamou a atenção. A
partir daquele momento até o aeroporto, vi somente um grande tapete
verde, ou seria um mar esverdeado que sumia no horizonte? Tal grandeza é
impossível de sentir olhando para um mapa do Brasil. Foi mais de uma
hora sobrevoando tal imensidão esverdeada. Os rios são como as veias de
um corpo que vai irrigando e dando vida a toda aquela vegetação. Alguns
eram mais estreitos, outros bem largos. Uns mais claros, com uma cor de
barro, outros eram mais escuros, quase pretos. Porém, há um rio
especial, ele tem as duas cores que são separadas por uma linha
imaginária exatamente no meio. Era o encontro entre o Rio Negro e o Rio
Solimões, que se mantém separados por causa da diferença da densidade,
velocidade e temperatura. Quando pousamos, tive que atrasar o relógio em
uma hora, de 14:30 passei para 13:30. Ao sair do avião, deparei-me com o
que seria o meu maior obstáculo: o calor.
Dois confrades da Vice-Província de Manaus foram me buscar no
aeroporto. Fomos direto para a casa do vice-provincial. Casa simples e
acolhedora, foi muito boa à convivência ali. No domingo, participamos da
ordenação diaconal de dois confrades de Manaus: o Francisco e o Jander.
Depois da confraternização, fomos para a casa de retiros da
Vice-Província. Ali, foram dois dias de reflexão, com a assessoria de
Dom Marcos Piatek, bispo de Coari. O tema foi: “Missão além-fronteiras”.
O Pe. Edson, CSsR, nosso coordenador na missão, conversou conosco sobre
a Paróquia Nossa senhora do Rosário, de Foz de Canumã. Essa paróquia
pertence à prelazia de Borba. Nessa reunião, constituímos as equipes de
trabalho que iriam se dividir pelas redondezas. Fui designado para
compor a equipe com o Pe. José, Fr. João Paulo, Fr. José e o Ir. Marcos,
iríamos trabalhar na Vila Abacaxis e comunidades. Pe. Edson nos alertou
que deveríamos levar apenas o suficiente, pois a viagem seria longa e
desconfortável. Isso porque iríamos fazer o trajeto pinga-pinga. Se
fizéssemos todo o trajeto somente de barco, seria quase um dia e meio.
Depois de tudo acertado, fomos preparar nossas mochilas e dormir.
Levantamos às quatro horas e um ônibus veio buscar-nos às cinco.
Chegamos ao porto de Manaus (Ceasa), às 05:40 e partimos às 6 horas.
Fomos até o porto Careiro, navegando sobre o encontro do Rio Negro com o
Rio Solimões. Depois, pegamos um ônibus até o porto que fica às margens
do rio Paraná. Navegamos até Altazes, depois, outro ônibus até o porto
Rosarinho, navegamos pelo rio madeira até Nova Olinda, tomamos novamente
outro ônibus e fomos até Fontinelli. Continuamos pelo Rio Madeira no
barco Santa Maria, o barco da paróquia. Chegamos ao porto de Foz do
Canumã às 11:30. O povo, juntamente com o pároco padre Ramiro, nos
esperava no porto. Quando nos avistaram ao longe, soltaram foguetes,
balançavam bandeirinhas, batiam em tambores, cantavam e erguiam faixas.
Foi muito emocionante. Tivemos uma recepção na Igreja matriz e depois
almoçamos na casa do pároco. À uma da tarde, voltamos para o Santa Maria
e ao longo do rio Urariá, éramos distribuídos nas comunidades. Às
14:48, um grupo foi deixado na comunidade Nova Aparecida e às 16 horas,
chegamos à comunidade do Abacaxis, onde minha equipe e eu desembarcamos;
os outros continuaram a viagem.
Fomos muito bem acolhidos pela família do seu Sebastião, dona Maria e
os filhos: Mayara, Lucas, Laysa e Yana. Uma família maravilhosa.
Celebramos com a comunidade às 19:30, jantamos e, muito cansados,
armamos nossas redes para descansar um pouco. Era a minha primeira
experiência de passar a noite em uma rede. Fui informado que se deve
dormir atravessado para não acordar com dor na coluna. Graças a Deus,
dormi muito bem e acordei revigorado para o terço da penitência as 05:00
da manhã. A caminhada terminou de frente para o rio, onde assistimos o
nascer do sol, e a brincadeira de uns botos cor de rosa. Realmente, a
vista era muito linda. Às oito horas, o Luan da comunidade de Barra
Mansa, veio nos buscar. Voltamos novamente para o rio, mas agora
navegando com a chamada “Rabeta”: uma canoa com um pequeno motor. Fomos
até a comunidade Santa Rita, onde visitamos cinco famílias. Apaixonei-me
pelo povo e pelo lugar, me dava vontade de largar tudo e morar ali. Foi
chegando a hora de irmos e me doía ter que despedir-me, fui acolhido com
tanta afetividade, tanto amor...
Depois do almoço, voltamos para a Rabeta rumo à comunidade Barra Mansa.
No caminho, veio uma ventania muito forte, estava chegando um temporal.
Algumas ondas se formaram no rio e por isso nossa Rabeta balançava
muito, a água entrava em nosso barco, parecia que iríamos virar, mas
chegamos com segurança.
Foram15 famílias visitadas. À noite, celebramos em uma capela
improvisada. Mais tarde, quando finalmente pude deitar em minha rede,
comecei a pensar sobre como é bom deixar-me sensibilizar e abrir o
coração para os sentimentos e a partilha de vida, porém, essa abertura
poderia deixar um vazio ao chegar a hora da partida. Era como se eu já
vivesse a saudade estando ainda ali com eles.
No outro dia, logo cedo, voltamos à comunidade do Abacaxis. Andei
sozinho pela comunidade, pois não tinha ninguém para me acompanhar nas
visitas. Parei onde três homens conversavam e ali batemos um papo. Dois
deles eram padeiros e um, o cozinheiro. Os três moravam juntos e viviam
da venda do pão. Convidaram-me para almoçar e eu resolvi ficar. Foi
muito agradável. À tarde, fiquei com a família onde estávamos
hospedados. Queria criar um vínculo maior, e também porque eu estava bem
cansado, o calor era bem intenso. Acabei me encantando profundamente
pela aquela família.
No sábado, às cinco horas, fomos rezar o terço, e às nove horas,
fizemos uma missãozinha com as crianças. Eram mais de cinquenta crianças
bem animadas. Aquelas crianças são muito autônomas e livres. A
principal brincadeira é nadar no rio que é bem fundo. No rio, elas
pescam, nadam, brincam com o boto cor de rosa, tomam banho, ajudam suas
mães a lavar roupas e panelas. A vida acontece no ritmo do rio.
No domingo pela manhã, acordei com um grande peso no coração, era o dia
da partida. A tristeza invadia, sufocava-me por dentro, principalmente
quando meu olhar se encontrava com o das crianças. Durante a missa,
entregava a Deus aquela minha dor. Quando terminou, o povo e
principalmente as crianças nos cercavam, aproveitando cada momento antes
de nossa partida. Estava combinado que deveríamos esperar na beira do
rio por volta das 9:30, aonde o Santa Maria iria nos pegar. Mas ele
atrasou e ali fomos ficando. Realmente, eu queria que o barco viesse
logo, estava sofrendo muito, o povo parecia que estava mais afetuoso
porque estavam mobilizados com a nossa partida. De vez em quando, via
alguém chorar, e se fosse uma criança então... meu coração parecia que
iria se rasgar. Meu Deus que dor terrível!
O Santa Maria chegou as 11:30, fomos nos despedindo, e eu não sei como
consegui entrar naquele barco. Fiquei na frente dando adeus e quando ele
virou corri para traz e fiquei acenando até sumirem de vista. Foi um
dos momentos mais difíceis da minha vida.
Já no barco, preparamos um almoço: um pouco de arroz frio, carne
enlatada e farinha. Tive que comer na tampa da panela por causa da falta
de pratos e usava apenas uma faca para levar a comida até a boca. Às
16:30, chegamos em Foz do Canumã. Fomos alojados em um galpão onde
esticamos nossas redes. Às 19:30, celebramos a missa de encerramento da
missão. No final, comemos um delicioso churrasco preparado pela
comunidade, com carne de veado, paca e frango.
Entramos novamente no Santa Maria, às cinco da manhã da segunda feira, e
fizemos todo aquele trajeto do “pinga-pinga” de volta para Manaus.
Chegamos ao porto do Ceasa às dez e meia. À noite, fizemos uma reunião
de revisão.
Na terça-feira, participamos da novena de nossa senhora do Perpétuo
Socorro, ajudamos nas pregações e nas bênçãos durante todo o dia. Há
novenas de hora em hora e a igreja fica cheia em todos os horários.
Foi uma grande experiência. Não dá para contar tudo aqui. Com certeza,
aqueles dias ficarão gravados para sempre em meu coração e espero colher
muitos frutos no futuro. Agora penso na Amazônia, não com a mente, mas
com o coração. Amazônia não significa mais a floresta, o rio e os
bichos, mas primeiramente, ela significa o povo que conheci. A Amazônia
pra mim, a partir de agora, são aquelas pessoas, aquelas crianças, o
povo ribeirinho




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