031 - O Rei da
casa
Quando papai tomava café, nós os meninos, migalhávamos
seu pão, seu bolo ou biscoito. Comia a casca do pão e nos dava o miolo - era o
que gostávamos. Mamãe dava-lhe tudo na mão, inclusive toda a nata do leite
fervido durante o dia – ficava eu de olho naquela nata nadando em sua xícara –
gosto de nata até hoje. Em alguns domingos, ele tomava um copo de vinho e
pingava um pouco em nossas canecas d’água – reprovado pela mamãe, mas ele fazia
todas as nossas vontades! As gotas de vinho davam aquela cor rósea muito clara
na água, mas ele afirmava que nosso vinho estava mais escuro que o dele. Quando
negávamos, ele dizia:- È porque vocês estão no sol e a luz do sol atrapalha
suas vistas!
Pela manhã, durante o café, aparecia um gato ou gata
dos vizinhos e papai molhava pedaços de pão no leite e os jogava debaixo da
mesa. Os gatos só apareciam durante as refeições de papai. Entravam furtivos e
desapareciam mais dissimulados ainda.
Para mamãe, papai era o rei da casa – todas as honras e
festas da casa eram para ele. Sentava ele na cabeceira da mesa e era servido
pela mamãe. Cinqüenta anos passados, reclamou sempre comer longe de tudo e não
poder se servir como gostaria... Mamãe colocou-o no meio da mesa...
... E ele merecia!...
Na época de nós irmãos jovens, brincávamos muito com mamãe chamando-a de
mandona, a chefe da casa, apitava mais lá em casa que papai. Houve um cantor
que gravou u’a música sobre isso e um dos irmãos comprou esse disco pra mexer
com mamãe.
- Vocês conhecem pouco o Zé Franco. Como é muito educado, ele nunca briga.
Quando quero fazer algo que não é de se agrado, ele não briga, não diz não.
Diz, por exemplo:- Se fizer assim, ou assado, poderia ficar mais de acordo ou
melhor. No final, eu brigando e ele sem achar ruim, acaba ganhando a parada.
001 - O ovo!
Papai gostava de brincar conosco. Às vezes nos
colocava dentro da vitrine da loja, fechava o vidro e, do lado de fora, fazia
caretas. Com as mesmas caretas, outras vezes nos sentava no alto de uma das
prateleiras.
Em
casa, rodeado de meninos e meninas – doze irmãos - pegou um ovo e nos disse:
- Vou jogar esse ovo neste portal e ele não vai quebrar!
Nós negando sua afirmativa, e ele sustentando:
- Ele não vai quebrar!
- Quebra! Gritávamos
nós os meninos.
- Não quebra!
- Quebra! Berrávamos
todos.
Num gesto de quem se esforçava demais, como um atleta
arremessando um disco, joga o ovo no portal.
Nós boquiabertos e ele:
- Viram?... Falei que o portal não quebrava...
Mamãe, vendo o portal todo sujo e o ovo quebrado, deu
uma senhora bronca!... E bota bronca nisso!...
Papai ria, que ria!
Benedito Franco
Ave Maria!
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