022 – Costumes
- A
Quando menino...
- Usavam-se bacias e cuias. Lavava-se o rosto em bacias
esmaltadas – as de louça ou porcelana eram mais para enfeite de copas e salas
ou para visitas importantes; e eu com nojo daquele negócio de jogar água no
rosto cheio de sabão e depois jogar de novo – a água ficava cada vez mais suja;
mamãe, além de mornar a água, ainda colocava água para enxaguar. Tomava-se
banho em enormes bacias de lata galvanizada – até os adultos - ou no Rio
Piracicaba.
- Com a falta de luz elétrica – só lamparinas, candeias,
lampiões e velas. Lampiões a querosene, os de pavio de algodão e os de
camisinha, ou ainda os a carbureto - fabricado em Santos Dumont, MG - com um
cheiro horrível.
- As mercadorias chegavam de trem, em caixotes de madeira,
raramente caixas de papelão, e os carroceiros pegavam-nos – os caixotes eram
abraçados pelos arcos de barril – tirados com o bico de papagaio. Manuelzinho e
Joaquim os carroceiros. Mais tarde, eu rapaz, o Joaquim perdeu a perna e virou
mendigo – eu falei com papai que vi o Joaquim e ele me perguntou se eu havia
lhe dado esmola e me falou: - Ele ajudava a olhar vocês!
- Havia o colocador de tampinhas nas garrafas – u’a máquina
manual. Na nossa loja vendiam-se bebidas de todo tipo; quando se abria uma
garrafa, papai entortava as tampinhas usadas e apostava com a gente – eu não
conseguia; e com isso peguei a mania de entortar todas as que encontro.
- As garrafas de cachaça, cerveja, vinho ou conhaque,
vinham em sacos, sessenta e quatro em cada, e envolvidas em uma capa de capim –
depois vieram os engradados de madeira sem divisão, e mais tarde, retiradas as
capas de capim, dividiram-nos.
- O primeiro cinema foi projetado na parede da estação –
fui ao salão, atrás da parede, para ver se era lá que aconteciam as cenas
mostradas na tela – estava aberto para os técnicos colocarem o maquinário.
Senhor João Bragança e filhos montaram um cinema, onde eu
gostava de ver os seriados, o Tarzan, o Charles Chaplin e o Gordo e o Magro.
- Os trens a lenha, as marias-fumaça, deixavam fumaça e
fuligem, e até mesmo pequenas brasas, por todo lado; de quando em vez pegava
fogo nos barracos, à beira da linha, cobertos de sapé. O guarda-chave ia à
chegada, onde começava a duplicação dos trilhos, para indicar por onde o trem
iria passar; carregava uma lanterna, a vela, e que servia para sinalização aos
maquinistas, pois era envolvida dos lados por três vidros: um vermelho, outro
amarelo e o terceiro vermelho.
- Quando os raros caminhões vinham à noite, bem longe,
atrás da montanha da fazenda do Dr. Rubens, e como tudo era muito escuro, dava
para perceber os raios luminosos – os faróis com lâmpadas e vidros comuns. Com
muito pouca luz no lugarejo, o céu era maravilhoso, parecia que havia mais
estrelas do que hoje – é por isso que os escritores e poetas antigos tanto
catavam, em prosa e em versos, as estrelas e, principalmente, a lua.
- Uma rua tinha tanto barro que era chamada de Rua Seca; em
seu final localizava a casa do padrinho Natinho, esposo da Dona Ritinha. Ele
fabricava cangalhas. Com um quintal muito grande, com inúmeras nascentes de
água. Dona Ritinha tinha um enorme pomar e horta e mandava vender as frutas e
verduras na rua. Quando eu passava uns dias por lá, eu comia muita banana – de
vez em quando mamãe se lembrava e fazia hora comigo. A Nilda era uma
filha de criação e tinha uma deficiência numa das pernas e em um dos braços –
dizia-se que ela era filha do Sô Domingos e que sua mãe faleceu quando ela
nasceu. Eu dormia no quartinho em frente ao deles e todo dia levantava cedo
para ir à missa. Dona Ritinha possuía uma voz poderosa, destacando-se
poderosamente na Igreja – seria uma grande cantora de ópera ou uma predecessora
da Maria Alcinda.
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