DOMINGO DA SANTÍSSIMA TRINDADE - Ano "B" - Homilia
Evangelho: Mateus 28,16-20
No núcleo da fé cristã em um Deus trinitário ha uma afirmação essencial. Deus não é um ser tenebroso e impenetrável, fechado egoisticamente em si mesmo. Deus é amor e só Amor. Os cristãos creem que no mistério último da realidade, dando sentido e consistência a tudo, não há senão o Amor.
Jesus não escreveu nenhum tratado sobre Deus. Em nenhum momento o encontramos expondo aos camponeses da Galileia uma doutrina sobre ele. Para Jesus, Deus não é um conceito, uma bela teoria, uma definição sublime. Deus é o melhor Amigo do ser humano.
Os pesquisadores não duvidam de um dado que recolhem dos evangelhos. O povo que escutava Jesus falar de Deus e o via atuar em seu nome, experimentava Deus como uma Boa Notícia. O que Jesus diz de Deus é algo novo e bom. A experiência que comunica e contagia lhes parece a melhor notícia que podem escutar de Deus. Por quê?
[1º] Talvez, a primeira coisa que compreendem é que Deus é de todos, não somente daqueles que se sentem dignos para apresentar-se diante dele no Templo [em Jerusalém]. Deus não está preso a um lugar sagrado. Não pertence a uma religião. Não é propriedade dos piedosos que peregrinam a Jerusalém. Segundo Jesus, "faz nascer seu sol sobre bons e maus". Deus não exclui nem discrimina ninguém. Jesus convida a todos a confiar nele: "Quando orardes, dizei: Pai!".
[2º] Com Jesus vão descobrindo que Deus não é somente dos que se aproximam dele carregados de méritos. Antes deles, Deus escuta aqueles que pedem compaixão, porque se sentem pecadores perdidos. Segundo Jesus, Deus está sempre buscando aos que vivem perdidos. Por isso, se sente tão amigo de pecadores. Por isso lhes diz que ele "veio buscar e salvar o que estava perdido".
[3º] Também se dão conta que Deus não é somente dos sábios e entendidos. Jesus dá graças a Deus porque lhe agrada revelar aos pequenos coisas que permanecem ocultas aos ilustrados. Deus tem menos problemas para entender-se com o povo simples que com os doutos que creem saber tudo.
[4º] Porém foi, sem dúvida, a vida de Jesus, dedicado em nome de Deus a aliviar o sofrimento dos enfermos, libertar os possuídos por espíritos malignos, resgatar os leprosos da marginalização, oferecer o perdão aos pecadores e prostitutas..., o que lhes convenceu que Jesus experimentava a Deus como o melhor Amigo do ser humano, que somente busca o nosso bem e somente se opõe ao que nos prejudica. Os seguidores de Jesus nunca puseram em dúvida que o Deus encarnado e revelado em Jesus é Amor e só Amor para todos.
O mistério de Deus supera infinitamente o que a mente humana pode captar. Porém, Deus criou o nosso coração com um desejo infinito de buscá-lo, de tal modo que não encontrará descanso a não ser nele. Nosso coração, com seu desejo insaciável de amar e ser amado, nos abre uma brecha para intuir o mistério inefável de Deus.
Nas páginas do delicioso relato de "O Pequeno Príncipe", escrito por Antoine Saint-Exupéry, se faz esta admirável afirmação: "Somente com o coração se pode ver bem; o essencial é invisível aos olhos".
É uma forma bela de expor a intuição dos teólogos medievais que já diziam em seus escritos: "ubi amor, ibi est oculus" ("onde reina o amor, ali há olhos que sabem ver"). Santo Agostinho disse, também, de um modo mais direto: "Se vês o amor, vês a Trindade".
Quando o cristianismo fala da Trindade quer dizer que Deus, em seu mistério mais íntimo, é amor partilhado.
Deus não é uma ideia obscura e abstrata; não é uma energia oculta, uma força perigosa; não é um ser solitário e sem rosto, apagado e indiferente; não é uma substância fria e impenetrável. Deus é Ternura transbordante de amor.
Esse Deus trinitário é fonte e cume de toda ternura. A ternura inscrita no ser humano tem sua origem e sua meta na Ternura que constitui o mistério de Deus. Por isso, a ternura não é um sentimento a mais; é sinal da maturidade e vitalidade interior; brota num coração livre, capaz de oferecer e de receber amor, um coração "parecido" ao de Deus.
A ternura é, sem dúvida, a mais clara marca de Deus na criação; o melhor que desenvolveu a história humana; o que mede o grau de humanidade e compreensão de uma pessoa. Esta ternura se opõe a duas atitudes muito difundidas em nossa cultura: a "dureza de coração" compreendida como barreira, como muro, como apatia e indiferença diante do outro; o "voltar-se sobre si mesmo", o egocentrismo, a soberba, a ausência de solicitude e cuidado do outro.
O mundo se encontra diante de uma grave alternativa: entre uma cultura da ternura e, portanto, do amor e da vida, ou uma cultura do egoísmo e, portanto, da indiferença, da violência e da morte. Aqueles que creem na Trindade sabem o que hão de promover.
Tradução de: Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.
Fonte: MUSICALITURGICA.COM - Homilías de José A. Pagola - 30 de maio de 2012 - 12h51 - Internet: http://www.musicaliturgica.com/0000009a2106d5d04.php
José
Antonio Pagola
O
MELHOR AMIGO
No núcleo da fé cristã em um Deus trinitário ha uma afirmação essencial. Deus não é um ser tenebroso e impenetrável, fechado egoisticamente em si mesmo. Deus é amor e só Amor. Os cristãos creem que no mistério último da realidade, dando sentido e consistência a tudo, não há senão o Amor.
Jesus não escreveu nenhum tratado sobre Deus. Em nenhum momento o encontramos expondo aos camponeses da Galileia uma doutrina sobre ele. Para Jesus, Deus não é um conceito, uma bela teoria, uma definição sublime. Deus é o melhor Amigo do ser humano.
Os pesquisadores não duvidam de um dado que recolhem dos evangelhos. O povo que escutava Jesus falar de Deus e o via atuar em seu nome, experimentava Deus como uma Boa Notícia. O que Jesus diz de Deus é algo novo e bom. A experiência que comunica e contagia lhes parece a melhor notícia que podem escutar de Deus. Por quê?
[1º] Talvez, a primeira coisa que compreendem é que Deus é de todos, não somente daqueles que se sentem dignos para apresentar-se diante dele no Templo [em Jerusalém]. Deus não está preso a um lugar sagrado. Não pertence a uma religião. Não é propriedade dos piedosos que peregrinam a Jerusalém. Segundo Jesus, "faz nascer seu sol sobre bons e maus". Deus não exclui nem discrimina ninguém. Jesus convida a todos a confiar nele: "Quando orardes, dizei: Pai!".
[2º] Com Jesus vão descobrindo que Deus não é somente dos que se aproximam dele carregados de méritos. Antes deles, Deus escuta aqueles que pedem compaixão, porque se sentem pecadores perdidos. Segundo Jesus, Deus está sempre buscando aos que vivem perdidos. Por isso, se sente tão amigo de pecadores. Por isso lhes diz que ele "veio buscar e salvar o que estava perdido".
[3º] Também se dão conta que Deus não é somente dos sábios e entendidos. Jesus dá graças a Deus porque lhe agrada revelar aos pequenos coisas que permanecem ocultas aos ilustrados. Deus tem menos problemas para entender-se com o povo simples que com os doutos que creem saber tudo.
[4º] Porém foi, sem dúvida, a vida de Jesus, dedicado em nome de Deus a aliviar o sofrimento dos enfermos, libertar os possuídos por espíritos malignos, resgatar os leprosos da marginalização, oferecer o perdão aos pecadores e prostitutas..., o que lhes convenceu que Jesus experimentava a Deus como o melhor Amigo do ser humano, que somente busca o nosso bem e somente se opõe ao que nos prejudica. Os seguidores de Jesus nunca puseram em dúvida que o Deus encarnado e revelado em Jesus é Amor e só Amor para todos.
TERNURA
O mistério de Deus supera infinitamente o que a mente humana pode captar. Porém, Deus criou o nosso coração com um desejo infinito de buscá-lo, de tal modo que não encontrará descanso a não ser nele. Nosso coração, com seu desejo insaciável de amar e ser amado, nos abre uma brecha para intuir o mistério inefável de Deus.
Nas páginas do delicioso relato de "O Pequeno Príncipe", escrito por Antoine Saint-Exupéry, se faz esta admirável afirmação: "Somente com o coração se pode ver bem; o essencial é invisível aos olhos".
É uma forma bela de expor a intuição dos teólogos medievais que já diziam em seus escritos: "ubi amor, ibi est oculus" ("onde reina o amor, ali há olhos que sabem ver"). Santo Agostinho disse, também, de um modo mais direto: "Se vês o amor, vês a Trindade".
Quando o cristianismo fala da Trindade quer dizer que Deus, em seu mistério mais íntimo, é amor partilhado.
Deus não é uma ideia obscura e abstrata; não é uma energia oculta, uma força perigosa; não é um ser solitário e sem rosto, apagado e indiferente; não é uma substância fria e impenetrável. Deus é Ternura transbordante de amor.
Esse Deus trinitário é fonte e cume de toda ternura. A ternura inscrita no ser humano tem sua origem e sua meta na Ternura que constitui o mistério de Deus. Por isso, a ternura não é um sentimento a mais; é sinal da maturidade e vitalidade interior; brota num coração livre, capaz de oferecer e de receber amor, um coração "parecido" ao de Deus.
A ternura é, sem dúvida, a mais clara marca de Deus na criação; o melhor que desenvolveu a história humana; o que mede o grau de humanidade e compreensão de uma pessoa. Esta ternura se opõe a duas atitudes muito difundidas em nossa cultura: a "dureza de coração" compreendida como barreira, como muro, como apatia e indiferença diante do outro; o "voltar-se sobre si mesmo", o egocentrismo, a soberba, a ausência de solicitude e cuidado do outro.
O mundo se encontra diante de uma grave alternativa: entre uma cultura da ternura e, portanto, do amor e da vida, ou uma cultura do egoísmo e, portanto, da indiferença, da violência e da morte. Aqueles que creem na Trindade sabem o que hão de promover.
Tradução de: Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.
Fonte: MUSICALITURGICA.COM - Homilías de José A. Pagola - 30 de maio de 2012 - 12h51 - Internet: http://www.musicaliturgica.com/0000009a2106d5d04.php
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