113 – O banho
O leito do Rio Piracicaba, em Fabriciano, é muito baixo, um belo vale. Buscar água em latas de vinte litros, descendo e subindo o enorme barranco arenoso ladeando o rio, era realmente um sacrifício. Hoje em dia as latas são de dezoito litros – será que encolheram ou já eram de dezoito litros, ou vinte como se falava? Quantas e quantas vezes, em um dia, meu irmão, o José Maurício, e eu buscávamos vinte latas d’água para encher os tambores, subindo e descendo aquele barranco íngreme. Nas subidas, entornava um pouco de água das latas, obrigando-nos a dar mais de vinte idas e vindas.
Em casa, a latrina do lado de fora – a uns dez metros da casa, por causa do odor. Debaixo de cada cama, um pinico. Na falta de empregada, a gente lavava os pinicos – que sacrifício! É por isso que, para buscar água e limpezas, antigamente havia os escravos – que vida!
Um pouco antes de eu ir para o internato, colocou-se um chafariz a uns cem metros de nossa casa – mas água, quase sempre só à noite.
Água encanada e luz, só nas casas dos funcionários da Belgo Mineira. Dr. Joaquim, o Superintendente, mandou colocar mais dois postes para chegar luz à nossa casa, mas autorizou papai a colocar apenas uma lâmpada de 60 w – e somente uma! Quando o Dr. Rubens substituiu o Dr. Joaquim, abriu as torneiras e deu luz pra todo mundo.
Meu sogro, o Senhor Heitor, no seu dinamismo de sempre, nos primórdios da segunda metade do século XX, resolveu colocar uma banheira na fazenda. Veja o que fala meu cunhado Benício:
- "Quanto a esse assunto, tenho uma passagem muito interessante, não para mim, quando papai comprou e instalou uma banheira na nossa casa (da fazenda) de Ana de Matos.
Instalou também um sistema de aquecimento de água com serpentinas no fogão e uma caixa d´água quente improvisada com um tambor de 200 l. A geringonça funcionou e eu fui convocado para inaugurá-la. Quando estava todo refestelado na banheira, aproveitando a água aquecida e prolongando o banho gostoso, Papai chegou com uma comitiva de vizinhos, incluindo mulheres novas e velhas e até a professora que estava substituindo Mamãe na escola, para mostrar a novidade...
Todos entraram no banheiro e passaram a olhar curiosamente a nova banheira... instigados pelos comentários de Papai... e eu pelado dentro da banheira... sem condições de sair correndo porque a porta estava entupida de gente. Procurava me esconder debaixo d´água, mas a profundidade não era suficiente para submergir o que era preciso... Fiquei nesta situação horrível, pensando que muitas mulheres estavam mais interessadas nas minhas "partes pudendas" que na própria banheira... até que todos cansaram de discutir as vantagens do novo equipamento e saíram.... fiquei vários dias evitando as mulheres participantes do evento”.
Benedito Franco
060612
Ave Maria!
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