Pe. José Afonso Tremba, CSSR
O Santo com os pés no chão
Cada época produz os seus santos e cada povo usufrui dos benefícios de sua ação missionária, mesmo que esta tenha sido obscura e escondida.
No centro da Europa, circulando a pé, entre a Áustria, a Polônia, a Alemanha e a Suíça, em um tempo marcado pela turbulência que gira em torno das várias invasões Russas, da Revolução Francesa até a Restauração do Congresso de Viena, desenvolveu-se a vida deste que foi chamado o Santo da oração e da ação: Clemente Maria Hofbauer.
Para compreender a força histórica da influência de São Clemente sobre a vida religiosa de seu tempo (não basta o presente opúsculo: Brugnano, Salvatore. San Clemente Hofbauer.PiccolaCollana Redentorista, s/d)). Este quer apenas introduzir ao conhecimento de um humilde santo que permanece, ainda hoje, na obscuridade, mas cuja ação apostólica foi preciosíssima para a Igreja Católica e para a Congregação do Santíssimo Redentor à qual pertenceu.
Um homem de aspecto em tudo comum: estatura mediana, corpo robusto, mas que sabia muito bem o que queria: almejava a maior glória de Deus, o aprofundamento da fé na Igreja e a propagação da Congregação do Santíssimo Redentor. Foi nesta direção que trabalhou por toda a sua vida, enfrentando e superando todo o tipo de dificuldades, inclusive várias perseguições.
Diante deste missionário incansável surgem interpelações e perguntas: Onde está o Santo em Clemente Hofbauer? Que “milagres” ele fez? Onde encontrar indícios de sua santidade?
Pessoalmente, Clemente Hofbauer, era cético no que se refere a visões e revelações. Foi um santo em cuja vida não se deu fatos extraordinários; já que nele tudo era extraordinário. Como exemplo, citamos algo das atas do processo de beatificação que deveriam dar alguma informação a este respeito, mas no caso de Hofbauer, não fornecem nada de especial, aliás, o que as próprias testemunhas fornecem atrapalha e deturpa a imagem do nosso santo.
Segundo a opinião dos depoentes o santo deveria ser uma pessoa que mantinha os olhos cabisbaixos, alguém que não olhasse para as pessoas, que fosse manso e paciente... Assim deveria ser o santo, mas ele não era nada disso que os seus esperavam.
Agora, aguçando a nossa curiosidade: onde está a santidade deste missionário? Ah! Vejamos então algumas qualidades que sobressaem em nosso missionário itinerante.
• Paixão pela pastoral. Paixão pelas pessoas em suas necessidades espirituais e materiais.
• Ligação com Deus na fé. Ele mesmo conheceu a força de sua fé e apreciou-a como um dom especial, que não se compra com nenhum dinheiro.
• Oração continua. Fundamentada na família, fortalecida na vida eremitica a oração foi para ele uma expressão natural em todo o seu ministério pastoral.
• Serenidade no sentido do “abandono à vontade de Deus”. Em todos os seus aparentes fracassos teve a força para aceitar a vontade de Deus.
• Ascese manifestada através dos “exercícios de penitencia”, conforme o costume da época: o jejum, a “disciplina”, a flagelação diária em certas épocas do ano litúrgico.
• As “formas de piedade” no sentido de costumes religiosos: orações devocionais e a prática da celebração dos sacramentos como eram prescritos na época.
• O mistério da encarnação era o ponto central de sua espiritualidade.
• A devoção à Eucaristia.
• A devoção mariana. Não tolerava que alguém citasse Maria sem acrescentar um titulo de honra. Ele mesmo chamava-a de a “minha bela”.
• Percebe-se uma particularidade na meditação e na oração de Hofbauer: a importância que dedicava ao Espírito Santo. Pertence a este contexto o que escreveu ao Núncio Saveroli em 1802: “Procuremos infundir fogo e espírito nos outros. Sem a unção do Espírito Santo as carroças dos trabalhadores apenas chiam”
Futuras pesquisas sobre São Clemente certamente despertarão outros aspectos de sua espiritualidade.
Nós, Missionários Redentoristas, temos motivos para nos alegrarmos por termos tido Clemente Hofbauer como um dos primeiros, ou melhor, o primeiro redentorista não italiano em nossas fileiras. Graças a este homem empreendedor é que a Congregação propagou-se para além dos Alpes. Ontem iniciador de uma obra missionária, hoje o inspirador de um projeto missionário que vai ao encontro das necessidades dos mais pobres e abandonados conforme o espírito de Santo Afonso Maria de Ligório.
São Clemente provoca a nossa ação evangelizadora atual. Creio que podemos aplicar aqui o que o Papa Bento XVI citou em seu discurso de abertura da V Conferencia do Episcopado Latino Americano e Caribenho em 13 de maio de 2007: ”Nossa maior ameaça ‘é o medíocre pragmatismo da vida cotidiana da Igreja, no qual, aparentemente, tudo procede com normalidade, mas na verdade a fé vai se desgastando e degenerando em mesquinhez’. A todos toca recomeçar a partir de Cristo, reconhecendo que ‘não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou uma grande idéia, mas pelo encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá um novo horizonte à vida e, com isso, uma orientação decisiva’” (DA, 12)
Ainda, considerando a criatividade apostólica de nosso Santo acredito que são de importância impar para a nossa ação missionária os desafios apresentados pela V Conferencia, principalmente somos desafiados a:
• - Dizermos não, a uma mera pastoral de manutenção, mas buscar a conversão pastoral (cf. DA, 370)
• - Assumirmos o compromisso (...) de desenvolvermos a dimensão missionária da vida de Cristo (promovendo uma) forte comoção que impeça (a Igreja e nós Missionários Redentoristas) de instalar-se na comodidade, no estancamento e na indiferença, à margem do sofrimento dos pobres do Continente. Necessitamos que cada comunidade cristã (e principalmente a Redentorista) se transforme num poderoso centro de irradiação da vida em Cristo. [...] Por isso, é imperioso assegurar calorosos espaços de oração comunitária que alimentem o fogo de um ardor incontido e tornem possível um atraente testemunho de unidade “para que o mundo creia” (Jo 17,21) (cf. DA, 362)
• Assim, o Missionário Redentorista, “como bons samaritanos” (DA, 537), proclamam o Evangelho da Misericórdia conscientes de que “uma autêntica evangelização envolve assumir a radicalidade do amor cristão, que se concretiza no seguimento de Cristo na Cruz; no padecer por Cristo por causa da justiça; no perdão e no amor aos inimigos (assim, os missionários redentoristas estão conscientes de que) uma evangelização que coloca a Redenção no centro, nascida de um amor crucificado, é capaz de purificar as estruturas da sociedade violenta e gerar novas estruturas. A radicalidade da violência só se resolve com a radicalidade do amor redentor. Evangelizar sobre o amor de plena doação, como solução ao conflito, deve ser o eixo cultural “radical” de uma nova sociedade. Só assim o Continente da esperança poderá chegar a tornar-se verdadeiramente o Continente do amor.” (DA, 543)
Deixemos que São Clemente nos interpele em nossas ações missionário-pastorais:
A partir dos textos acima citados:
• Como posso viver a santidade missionária?
• Como e onde perceber os sinais dos tempos e lugares que exigem uma ação missionária condizente com o nosso carisma e missão?
Texto elaborado para os Missionários Redentoristas da Província de Campo Grande, por Pe. José Afonso Tremba, CSsR. Tem por base bibliográfica:
BRUGNANO, Salvatore. San Clemente Hofbauer. Piccola Collana Redentorista. S/d.
CELAM. Documento de Aparecida. Co-edição CNBB. Cf 2009.
CSSR. Constituições e Estatutos.
SCHERMANN, Hans, São Clemente Maria Hofbauer. Perfil de um santo.Edit. Santuário. 2007.

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